MEC lança programa para melhorar indicadores do fundamental 2
Veja como o programa Escola do Adolescente pretende envolver gestores, professores e alunos para levar inovação à escola pública
por Vinícius de Oliveira 29 de novembro de 2018
As mudanças de comportamento, transformações físicas, psicológicas e sociais que acontecem ao longo da adolescência podem ser ricas oportunidades para o desenvolvimento dos estudantes. Para conectar a escola a esse universo e garantir a aprendizagem de estudantes dos anos finais do ensino fundamental (6º ao 9º ano), o MEC (Ministério da Educação) lançou na última terça-feira (27) o Programa Escola do Adolescente, que pretende oferecer formação e apoio técnico a professores e gestores de escolas públicas.
Além de olhar para os indicadores de aprendizagem, o programa reforça a necessidade de oferecer suporte específico para as escolas da etapa, com formação e apoio técnico a professores e gestores de escolas públicas. “O ensino fundamental 2 é uma das etapas que tem tido menos política, que tem sido menos pensada. Temos muita coisa para o ensino médio, para a alfabetização, para anos iniciais [do 1º ao 5º ano do ensino fundamental]”, afirmou o ministro da Educação Rossieli Soares, durante o evento de lançamento em Brasília (DF).
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Cenário atual
De acordo com dados do governo federal, o índice de insucesso escolar (resultado da soma de reprovação e abandono) alcança 14,5% dos alunos nesta etapa de ensino. Desde 2013, o país não alcança sua meta de evolução do Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) nos anos finais do ensino fundamental, que em 2017 ficou em 4,7, enquanto o previsto pelo PNE (Plano Nacional da Educação) era 5.
Já o site Iede (Interdisciplinaridade e Evidências no Debate Educacional) detectou que 29,2% dos 5.570 municípios do país regrediram e apenas 1.404 municípios atingiram a meta estipulada para o país. Dentro deste mesmo recorte, no Distrito Federal e em seis estados – Amapá, Amazonas, Maranhão, Pará, Roraima e Sergipe – nenhum município alcançou a meta do Brasil.
Conversa com o ensino médio
Para reverter este quadro, gestores, professores e alunos serão convidados a pensar em um plano de ação para transformar o ambiente de suas escolas e favorecer a participação dos estudantes. “Esse programa continua um trabalho que as escolas já vem fazendo com o Mais Educação, mas também traz como novidade a questão da formação para os gestores e professores voltada para questões da adolescência”, ressalta Williams Panfile, presidente da Undime (União dos Dirigentes Municipais de Educação) Bahia.
Para o representante da Undime Bahia, “a ideia é que os diretores e professores, escolas em si, possam impulsionar a participação e o protagonismo dos alunos no processo de aprendizagem”.
E conectar a escola ao aluno é importante para acabar com o que Helio Queiroz Daher, superintendente secretaria estadual do Mato Grosso do Sul, chama de “períodos de ruptura”, ou seja, a chegada 6º ano do fundamental ou o começo do ensino médio. Segundo ele, nesta fase é muito importante a escuta do estudante. “É transformar a escola de fundamental em um ambiente em que também é possível aprender a escolher, que é um grande nó atual para o ensino médio”, afirma.
Formação para a prática
As ações do programa Escola do Adolescente estão concentradas no incentivo ao uso de metodologias ativas, que colocam o estudante como protagonista de seu aprendizado para o desenvolvimento de competências previstas na BNCC (Base Nacional Comum Curricular). Uma plataforma digital vai reunir todos os instrumentos e ferramentas, mas a ideia do MEC é que coordenadores estaduais, regionais e dentro das próprias escolas fomentem encontros presenciais para troca de experiências.
Para os professores, estão previstas atividades relacionadas ao conhecimento da adolescência, a estratégias de acompanhamento da aprendizagem e formação para os conteúdos pedagógicos. No caso de gestores, além do panorama sobre adolescência, estão previstas ações para estímulo ao trabalho colaborativo, análise de dados do Ideb e ferramentas de gestão e de formação.
“O programa começa com um diagnóstico, passa pela escuta colaborativa com análise de dados para avançar a uma construção coletiva pensar em um plano de ação e de monitoramento”, diz Bruna Caruso, assessora da Secretaria de Educação Básica.
Como o fundamental 2 conta com muitos professores atuando em áreas em que não tiveram formação específica, estão previstas trilhas para áreas como língua portuguesa, matemática, ciências e língua inglesa.
Atendimento às escolas
O governo federal estima que o programa Escola do Adolescente tem potencial para alcançar 65 mil escolas. Dentro deste universo, 13 mil escolas consideradas vulneráveis – aquelas que possuem mais de 50% dos estudantes beneficiários do programa Bolsa Família – vão receber, pelo PDDE (Programa Dinheiro Direto na Escola), recursos para ampliação da carga horária, no âmbito do Programa Novo Mais Educação.
“Com o [programa] Escola do Adolescente, as 13 mil escolas que vão ampliar a sua carga horária vão poder ter clube de ciências, e os alunos vão ter acompanhamento para o seu projeto de vida”, destaca Kátia Smole, secretaria de Educação Básica do MEC. “Os professores e os gestores terão uma formação comum para fazer o diagnóstico da escola e ter ferramentas para criar discussões e caminhos para envolver os alunos nos processos da escola.”
Com ações que pretendem conectar a escola aos interesses dos adolescentes, formar gestores e professores, fortalecer a gestão pedagógica e oferecer apoio diferenciado para as escolas mais vulneráveis, o programa pretende atingir 12 milhões de alunos, 765 mil docentes, 150 mil gestores e 65 mil estabelecimentos de ensino. “Queremos sempre a adesão das redes de ensino, por isso trabalhamos em conjunto ao Consed e a Undime. As escolas fazem a adesão, e a rede pode acompanhar, porque vão existir 53 técnicos que vão dar suporte a esse programa a partir de 2019”, explica Kátia.
– Assista ao anúncio do programa Escola do Adolescente