Modelos inovadores de educação criam alternativas e ferramentas diante da pandemia - PORVIR
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Inovações em Educação

Modelos inovadores de educação criam alternativas e ferramentas diante da pandemia

Soluções educacionais mostram que é possível aprender programação sem professores ou fazer um cursinho pré-vestibular com uma grade totalmente flexível

Parceria com Fundação Telefônica Vivo

por Maria Victória Oliveira ilustração relógio 30 de setembro de 2021

Apesar das inúmeras dificuldades enfrentadas por escolas e redes de ensino em migrar para o mundo online em razão da pandemia da Covid-19, medidas como o distanciamento social provaram que não é imprescindível estar fisicamente presente em uma sala de aula para que o aprendizado aconteça. Isso se aplica desde a educação básica até o ensino superior e, por que não, aos cursos livres.

Luciano Meira, professor da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco) e empreendedor, explica que o fechamento das escolas e universidades tornou ainda mais expostas algumas concepções equivocadas sobre educação. “No campo das ciências da aprendizagem, da neurociência e da psicologia cognitiva, a ideia da transmissibilidade do conhecimento tornou-se ainda mais visível enquanto algo frágil. Conhecimento não é algo como eletricidade que pode ser transmitido, e a aprendizagem não é algo como líquidos que podem ser absorvidos.”

Novos comportamentos

Com o afastamento físico dos alunos do espaço escolar e o consequente desengajamento em relação à educação, Luciano comenta que uma das mudanças fundamentais, respaldada por estudos e pesquisas, é o movimento de professores investirem na construção de relacionamentos afetivos e intelectuais com crianças e jovens.

“Essa é uma nova perspectiva de organização do espaço escolar, dos cenários de aprendizagem e dos arranjos sociais que viabilizam práticas didáticas mais inovadoras na sala de aula. É um reconhecimento de que a transmissão de conhecimento não resulta no desenvolvimento de um cenário de aprendizagem adequada e, ao mesmo tempo, o reconhecimento da construção de relacionamentos afetivos e intelectuais entre estudantes e professores como o centro da organização do espaço escolar”, defende.

Driblando o presencial

Enquanto o modelo tradicional de educação se adequava às modificações causadas pelas aulas remotas, outras propostas apoiadas na aprendizagem entre pares e na colaboração com foco na resolução de projetos conectados ao mundo real resistiram, até pela maior facilidade de readaptação diante do cenário tão adverso. É o caso da escola 42.

Inspirada no modelo francês criado em 2013, a iniciativa global de educação presente em 22 países é uma escola de programação privada e gratuita. Sem professores, baseia-se no aprendizado entre pares e na capacidade de auto-organização do estudante. Para isso, conta com a “piscina”: nome dado ao processo de imersão presencial de um mês para que todos os inscritos “mergulhem” em seus conhecimentos de programação e aprendam a nadar nesse novo mundo uns com os outros.

Inovação adaptativa 

Mesmo guiado por um modelo não tradicional, a 42 também precisou encontrar novas formas de existir diante de consequências como o distanciamento social.

Karen Kanaan, sócia-diretora da 42 São Paulo, explica que a cultura da escola é a colaboração: a ideia é que, ao contribuir para o crescimento do outro, os cadetes – como são chamados os participantes –  também estão contribuindo para o seu próprio crescimento. Por isso, a interação entre pares foi um ponto mantido na versão virtual da 42 na pandemia.

“Nessa lógica de colaboração, é necessário entender que a riqueza está na diversidade e que as diferenças são complementares. O fato de termos ido para o ambiente online não prejudicou, pelo contrário, só intensificou. Os participantes puderam fazer companhia e dar apoio uns aos outros em um momento de solidão. As ferramentas online ajudaram muito e permitiram que a comunidade interagisse de forma síncrona”, reforça.

Entre as estratégias adotadas estão a criação de comunidades online e do chamado campus virtual, que traz um sistema de gamificação no qual os avanços nos projetos de programação resultam em pontos que desbloqueiam benefícios para os participantes, como workshops de orientação vocacional e oficinas para complementar o curso.

“Aprender a aprender”

Um dos princípios da escola de programação é colocar os participantes em situações nas quais serão obrigados a “aprender a aprender” e a usar seus conhecimentos e experiências mesmo que não estejam diretamente relacionados à programação. Karen explica que o método coloca o indivíduo como agente ativo de todo o processo de aprendizagem, uma vez que, antes de aprender as linguagens de programação em si, o cadete precisará, por exemplo, reconhecer os seus próprios códigos.

“O fato de ter que entrar em contato com a nossa trilha de fundamentos, buscar informações que nunca viu, falar com pessoas que não conhece para poder progredir e tomar decisões de como gerir o seu tempo convoca a pessoa a trabalhar as ‘human skills’ [habilidades humanas] que a vida pede hoje. Existe liberdade, mas é assistida. O método é a flexibilidade, mas tem contornos e limites para poder jogar.”

Dessa forma, a intensidade do programa também contribui para o desenvolvimento de habilidades que vão além do mundo da programação. Aprender com os erros é uma delas. “A gamificação cria um ambiente que ajuda a mostrar que os erros fazem parte do jogo e que o obstáculo é o caminho. Ajuda a desenvolver a criatividade, autonomia e promover o diálogo entre a comunidade”, afirma Karen.

Expansão do digital 

Assim como a 42, o Descomplica, empresa de educação digital, também promove inovações diante dos efeitos da pandemia. Daniel Pedrino, presidente da Faculdade Descomplica, explica que, durante esse período de mais pessoas consumindo conteúdos educacionais online, ficou claro que muitas das soluções pensadas para o ambiente digital nada mais eram do que o ambiente presencial filmado ou gravado, o que não pode ser definido como ensino a distância.

“No Descomplica, entendemos que a base do ensino a distância na verdade não é a distância, mas sim o digital, que possibilita a sociabilidade entre todo mundo. Quanto mais trocas entre as pessoas, mais o aprendizado e o compartilhamento acontecem. E o ensino digital é muito mais do que uma aula de 60 minutos na qual o professor fala e o aluno fica no canto sem poder fazer nada. O que nós tentamos pensar é como unir excelentes professores e entretenimento em um formato de conteúdo que cative o aluno.”

Menos deslocamento, mais acesso 

Daniel explica que a promoção do acesso – tanto financeiro como de conteúdo – é um dos pilares do Descomplica. Os formatos de aula variam para atender a todas as rotinas e perfis de estudantes: tem aulas ao vivo, aulas gravadas que podem ser baixadas e micromódulos de cinco a sete minutos, o que facilita o encaixe da educação na rotina dos alunos.

“Cada aluno tem o seu melhor modelo de aprender e estudar. Tem aqueles que estudam 15 minutos por vez, e tem outros que gostam de estudar de uma vez só. No nosso conteúdo, temos uma ferramenta de planejamento de estudo: o estudante nos conta sobre sua rotina e nós ajudamos a montar a grade da melhor maneira”, explica Daniel.

Ele reforça ainda que os diferentes modelos de aulas ajudam no engajamento de acordo com os interesses individuais. “Uma aula de física pode ser ministrada com um professor escrevendo na lousa, pulando de paraquedas ou fazendo um podcast. É a mesma aula em vários formatos diferentes, e cada uma vai atrair o aluno com determinado perfil.”

Inovação a partir da demanda

Criada em 2011 como uma startup de educação online para ajudar estudantes a se preparar para o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) e outros vestibulares, hoje a atuação do Descomplica divide-se em cinco eixos: escolas, vestibulares, universidades, concursos e pós-graduação.

A Faculdade Descomplica, por exemplo, iniciou suas operações durante a pandemia. Entre 2020 e 2021, as buscas por essa solução quase dobraram. Assim, Daniel faz um paralelo com serviços de delivery amplamente conhecidos e totalmente incorporados na vida do brasileiro para explicar que a expansão do Descomplica mostra que havia uma demanda por um modelo de ensino digital que não estava sendo atendida.

“Nós entendemos que o digital vai poder entregar uma forma de educação diferente do que existe hoje. Cada vez mais o Descomplica está se adequando para ser a solução educacional digital em todos os momentos da vida do brasileiro, seja no ensino médio quando ele precisa tirar uma dúvida que complemente o aprendizado da escola, ou quando ele vai se preparar para o vestibular, fazer uma pós-graduação ou um curso livre”, completa.

O futuro do mercado de trabalho 

Luciano Meira faz uma comparação entre empresas de tecnologia e o novo comportamento exigido do setor educacional durante a crise sanitária. Ele diz já ter visto algumas empresas, sobretudo aquelas que estão no chamado processo de transformação digital, tornando-se mais flexíveis quando o assunto é a educação de seus colaboradores.

“Se tomarmos como exemplo Magazine Luiza, Nubank e tantos outros, temos modelos de contratação mais dissociados da certificação escolar e apontando de forma mais acentuada para a imersão desse candidato em práticas de liderança, de construção de protótipos e soluções viáveis”, explica.

Para o educador e empreendedor, essa mudança de mentalidade de contratantes indica que a escola e a academia devem repensar as formas de certificação mais tradicionais baseadas em avaliação do conhecimento e, dessa forma, promover uma aproximação contextualizada e relevante entre o que é aprendido na escola e o que o mundo precisa.

“Não é necessariamente o desenvolvimento de competências para as empresas, para o mundo do trabalho, mas sim para um mundo de extremas incertezas, no qual temos a aproximação de emergências climáticas, estamos em uma emergência sanitária global, outras talvez virão. Então nós precisamos de pessoas, educadores, estudantes e aprendizes melhor preparados para o enfrentamento de problemas complexos e para a tomada de decisões em situações de crise, e isso requer muito mais do que aula. Aula é uma metáfora falida da maneira como nós deveríamos estar organizando tudo isso”, completa.

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