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Inovações em Educação

Movimento dos EUA quer reforçar o jantar em família

Especialistas garantem que insistir em maior interação em torno da mesa faz bem à saúde dos filhos

por Mariana Fonseca e Patrícia Gomes ilustração relógio 18 de maio de 2012

Um grupo de americanos resolveu se mobilizar para resgatar os tradicionais jantares em família, unindo comida saudável com convívio de qualidade dentro de casa. Eles criaram o movimento The Family Dinner Project (Projeto Jantar em Família, em inglês) com a proposta de ultrapassar os desafios do dia-a-dia, como a falta de tempo e o cansaço, para sentar pais e filhos em torno da mesa sem nenhuma das milhares de distrações do mundo moderno. Celulares, TVs, tablets e qualquer outra tecnologia que não promova a interação entre os parentes é proibida.

Os organizadores do projeto defendem que os jantares em família, de qualidade, têm a capacidade de melhorar a autoestima das crianças e adolescentes, desenvolver a resiliência, diminuir os riscos de uso de drogas, gravidez na adolescência, depressão, distúrbios alimentares e obesidade. Eles se basearam em pesquisas de diferentes universidades, como um artigo do centro especializado em abuso de substâncias químicas da Universidade de Columbia, nos Estados Unidos.

Resgate do jantar em família crédito Joseph Pierce / Fotolia.com

De acordo com o estudo, adolescentes que fazem menos de três refeições em família por semana têm quase duas vezes mais chances de se tornarem fumantes, abusar de substâncias químicas e se tornarem usuários de maconha do que adolescentes que jantam em família cinco vezes por semana. “O engajamento dos pais em torno dos jantares pode ser uma potente arma a favor da saúde das crianças”, garante o pesquisador Joseph A. Califano Jr, da Columbia.

O projeto começou no ano passado, por meio de uma parceria entre pesquisadores da Universidade de Harvard e um grupo piloto de 15 famílias. E agora já oferece todo o conteúdo on-line para que mais pessoas adotem a causa, criando seus próprios grupos de discussão na escola, distrito ou cidade.

Especialista sugere a adoção de uma regra que ele mesmo aprendeu em casa, com a sua bisavó: rir é o melhor digestivo

Para participar, as famílias precisam estabelecer suas metas – que podem ser realizar mais jantares, preparar refeições nutritivas, estabelecer melhores diálogos, permitir maior participação das crianças nas decisões de casa etc. E os pais não precisam ser grandes chefes, a proposta é que escolham pelo menos uma refeição, que pode ser café, almoço ou jantar, para que todos se sentem juntos, como nos velhos tempos, para comer e falar da vida.

No site, inclusive, estão disponíveis várias dicas de temas a serem abordados nas refeições, divididos pela idade dos filhos. Para adolescentes, as sugestões passam por entrevistas simuladas com os pais sobre suas profissões, sobre como se conheceram, sobre histórias que marcaram suas infâncias. Já para os pequenos, uma série de jogos de adivinhação e brincadeiras também estão disponíveis. Existem até dicas para lidar com jovens mais fechados, como buscar pautas no noticiário do dia e falar de celebridades.

Adaptação à brasileira

Para Marcos Meier, mestre em educação e psicólogo especializado na educação dos filhos, as famílias brasileiras precisam resgatar o momento do jantar. Mas talvez uma esquematização muito rígida, como essa proposta e aceita por americanos, não desse muito certo no Brasil devido às características da nossa sociedade. Em vez disso, o especialista sugere a adoção de uma regra que ele mesmo aprendeu em casa, com a sua bisavó: rir é o melhor digestivo.

Tendo essa frase apenas como norte, diz Meier, uma proposta plausível para fazer das mesas brasileiras um momento agradável de educação e partilha seria proibir broncas, reclamações, fofocas, assuntos tristes durante os jantares. Com isso, o momento da refeição fica psicologicamente associado a situações agradáveis, esperadas pelas crianças e propícias a um aprendizado saudável.

Uma boa ideia, ainda segundo Meier, seria o pai contar algo legal que leu ao longo do dia e, indiretamente, incentivar o hábito da leitura. “As crianças começam a observar que coisas boas têm sido vistas através da leitura, em vez de ser um ‘você tem que ler porque é bom’ em tom autoritário. Em vez de ficar repetindo a mesma coisa sobre ler, você aproveita o momento para mostrar que é legal”, sugere o especialista.


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