ODS já marcam presença em escolas no Brasil e no mundo
Premiação reconhece instituições educacionais ibero-americanas que abordam os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável e mostra como a preocupação com a sustentabilidade deve ser de toda a comunidade escolar
por Ana Luísa D'Maschio 13 de fevereiro de 2023
A cidade de Juárez, localizada no estado de Nuevo León, no México, costuma estampar o noticiário com manchetes sobre violência e desigualdades sociais. Graças à Escuela Primaria Pedro Garza Elizondo, recentemente a imprensa voltou os olhos para as boas notícias locais, com destaque à atuação de professores e estudantes com os ODS (Objetivos do Desenvolvimento Sustentável).
O projeto “Podcast dos ODS: da pesquisa à ação” concorreu com outras 282 iniciativas, de 19 países ibero-americanos, e ganhou o primeiro lugar na categoria de atividades entre 2021 e 2022 do prêmio “Os ODS nos centros educativos”.
Promovida pela OEI (Organização de Estados Ibero-Americanos para a Educação, a Ciência e a Cultura), esta primeira edição reconheceu o trabalho de instituições educativas que fomentam, de maneira criativa, o reconhecimento e a difusão da Agenda 2030 da ONU (Organização das Nações Unidas), pacto de ação global que busca, por meio de 17 objetivos interconectados, garantir um mundo mais sustentável e próspero até o ano de 2030.
“Somos uma escola que busca sempre dar um passo à frente, sair da caixa, repensar como ter a melhor educação para nossos alunos”, afirma a diretora mexicana, Karina Berenice Garza Cedillo. “Trabalhamos em um nível socioeconômico médio-baixo, mas não é por isso que temos de parar.”
Feito por crianças e para crianças e comunidade escolar, com apoio dos professores na elaboração dos roteiros, o podcast trata de temas como proteção ao meio ambiente, igualdade de gênero e direitos.
“O objetivo é que as crianças aprendam sobre os problemas, investiguem e tentem propor soluções. Essa é a essência do projeto”, disse Karina ao site El Norte. “Publicamos (os resultados) para que a comunidade saiba o que estamos investigando, o que sabemos, o que propomos e no que eles podem colaborar.”
Além da Escuela Primaria Pedro Garza Elizondo, outras três iniciativas venceram o prêmio “Os ODS nos centros educativos”. Cada uma recebeu 5 mil euros para apoiar o desenvolvimento dos projetos. São elas: Liceo Quial, de Cali (Colômbia). A iniciativa é voltada à integração dos ODS à toda a comunidade escolar (alunos, professores e pais), por meio de oficinas na escola. Instituto Lázaro Cárdenas, de Madrid (Espanha). Um curta-metragem feito pelos alunos relaciona formação profissional aos objetivos da Agenda 2030. Instituto San Antonio de Padua, de Buenos Aires (Argentina). O projeto “Conectando mundos” leva as questões dos ODS à comunidade do bairro Pompeya, um dos mais vulneráveis da capital argentina. |
A força do debate
Para a diretora-geral de educação da OEI, Tamara Díaz, incorporar os ODS nos currículos reflete uma elevada consciência da capacidade que as escolas ibero-americanas têm na projeção de cidadãos comprometidos com o desenvolvimento sustentável, com a defesa dos direitos humanos e com a melhoria da comunidade em que vivem.
“É importante ter uma visão abrangente dos 17 ODS, para que os alunos identifiquem os problemas que os afetam em seu próprio ambiente e para a conscientização de todos os agentes comunitários. Isso só é possível se houver a visão e contribuições de todas as disciplinas e aliando o trabalho específico de cada uma delas, com o desenvolvimento de um plano institucional”, explica.
Organização brasileira voltada à consultoria e à implementação de projetos ligados aos ODS e à Agenda 2030 tanto em escolas públicas e privadas quanto em secretarias de educação, o Instituto Significare promove a educação para o desenvolvimento sustentável. De acordo com o presidente do instituto, Wellington Cruz, a Agenda 2030 e os ODS servem como bússola para inovar as práticas pedagógicas, a fim de “repensar os espaços e processo da escola, estimular a ruptura com a fragmentação do aprendizado e redirecionar, pela crítica, a busca da descolonização da educação”.
“Levar os ODS à sala de aula é uma grande oportunidade para o professor descolonizar o currículo. A partir das necessidades locais e dos problemas, referenciados pelos ODS, os professores podem propor reflexões e atividades que permitam construir e reconstruir um currículo que faça sentido para os estudantes”, propõe Wellington. “Quando incorporamos os ODS à sala de aula, estamos antes de qualquer outra coisa conectando a escola – e a sala de aula – ao seu território e às questões globais da sociedade. Isto é o que esperamos de uma escola e o que sonhamos para uma sala de aula”, reflete.
➡️Leia também: Escola e território conectados aos ODS fortalecem a qualidade da educação
Premiações como as da OEI, bem como os debates em torno da Agenda 2030 fortalecem sua concretização, acredita Tamara Díaz. “Para as escolas é enriquecedor poder ter um espaço específico de diálogo no qual trocar experiências com outros centros de diferentes contextos. Da mesma forma, este prêmio é um incentivo para nós, como organização, continuarmos melhorando e apostando em uma mudança que busca o bem comum de todos os habitantes do planeta, mas a partir da consciência individual e global de que somos parte da solução.”
E os ODS podem estar mais próximos da escola do que se imagina. “Ao cultivar uma horta, conectamos a sala de aula ao ODS 2 (Fome Zero), além de outras conexões possíveis”, exemplifica Wellington. “Falar sobre o ODS 1 (Erradicação da Pobreza) pode acontecer por meio de um debate, uma visita ou mesmo a construção de protótipos com muitos e poucos insumos. São reflexões simples, mas podem ser ampliadas às diversas camadas sociais e econômicas da pobreza.”
Apenas uma escola brasileira se inscreveu no prêmio da OEI, mas a expectativa é receber mais adesões nas próximas edições. “O Brasil é um país que tem muito a contribuir e dizer ao resto da América Latina, e isso foi demonstrado pelo centro que participou desta primeira edição do prêmio. As bases da chamada e o formulário de premiação foram publicados em espanhol e português para incentivar a participação dos países lusófonos nessas iniciativas e esperamos que as sucessivas edições reflitam isso. Como organização, queremos avançar nas próximas edições, fortalecendo a divulgação e participação de todos os países”, finaliza Tamara.
➡️Que tal responder a um questionário e receber um gráfico para entender quais ODS você ainda precisa trabalhar em sala de aula? A ferramenta “ODS en los centros educativos”, disponível apenas em espanhol, oferece essa autoavaliação, a fim de proporcionar ao professor a reflexão sobre a abordagem da Agenda 2030 em sala de aula.
6 dicas para levar os ODS à sala de aula
A diretora-geral de educação da OEI listou algumas sugestões para abordar a Agenda 2030 na escola. Confira!
- É muito importante trabalhar os ODS a partir de propostas práticas, que tenham peso no currículo.
- A escola deve ser entendida como uma unidade de mudança: é essencial dar voz aos mais estudantes mais novos.
- A interdisciplinaridade é fator fundamental.
- Os professores devem ter confiança nos seus alunos, contar com eles para a tomada de decisões e para o planejamento do trabalho.
- Trabalhar na divulgação dos ODS não desvia os educadores das suas responsabilidades enquanto docentes, nem da abordagem do currículo, pois isso lhes dará mais ferramentas em sua missão de educar e formar crianças, adolescentes e jovens para seu desenvolvimento pessoal e profissional.
- Os resultados do trabalho dos professores são multiplicados quando eles têm uma equipe gestora envolvida, quando as iniciativas se tornam planos institucionais e quando trabalham em equipe, com todas as disciplinas.