Plataformas educacionais podem apoiar diferentes setores da escola
Tecnologias organizam dados e facilitam a gestão pedagógica, mas devem ser adotadas de acordo com as reais necessidades
por Maria Victória Oliveira 30 de novembro de 2021
Há alguns anos, era impensável ter milhares de músicas ou filmes disponíveis a poucos cliques, por meio de plataformas como Spotify e Netflix, sem a necessidade de um player instalado. A mesma facilidade é proposta pelas tecnologias educacionais voltadas ao dia a dia da escola.
Sejam adotadas ao nível da gestão para auxiliar a coordenação pedagógica ou usadas pelos professores em sala de aula, as diferentes tecnologias trazem eficiência. Podem gerar dados e conferir processos de inteligência aos relatórios, por exemplo. Ao agregar informações, uma plataforma digital também é capaz de apoiar a escola nas suas ações de contratação e formação de professores, de acordo com as necessidades de cada grupo, ano e disciplina, usando informações e números sobre engajamento de alunos, aprendizado e desenvolvimento.
“Compare as duas cenas: professores, coordenadores e assistentes de direção preparando provas, corrigindo questões, calculando médias e subindo notas no sistema. Agora pense que tudo isso pode ser feito por uma plataforma. Isso facilita a vida da escola e economiza gastos de papel, tempo e equipe, liberando o esforço instalado na escola para o que realmente importa: ensinar e aprender”, exemplifica o cofundador da Camino Education e diretor de conteúdo da CLOE, Renato Dias.
A secretaria escolar também pode se beneficiar com a adoção de uma tecnologia que proporcione a minimização de esforço e de erros na gestão de documentos. Ou a portaria, por sua vez, consegue aumentar a segurança e reduzir riscos com o suporte tecnológico. Independentemente da área de aplicação, é preciso que escolas busquem empresas que proporcionem a oferta integrada de múltiplos serviços.
Soluções mapeadas
Mesmo antes da pandemia, já era tendência o surgimento de novos negócios e soluções baseadas em tecnologia para os desafios do dia a dia na educação, como aponta o Mapeamento Edtech 2020: Investigação sobre as Tecnologias Educacionais Brasileiras, produzido pela Abstartups (Associação Brasileira de Startups) e pelo CIEB (Centro de Inovação para a Educação Brasileira). A pesquisa mostra que, entre 2019 e 2020, o número de edtechs avançou 26% e ficou na casa das 566, antes mesmo de as escolas serem obrigadas a fechar as portas e transferir todas as atividades para o mundo online.
Renato defende que as plataformas digitais são rápidas, econômicas e conectadas, por transmitir informações, organizar dados e facilitar as ações de gestão pedagógica pelas escolas. Cofundador e CEO da School Guardian, Leo Gmeiner compartilha a opinião e acrescenta que, no mundo da educação, eficiência quer dizer melhores resultados. “No âmbito da sala de aula, com o viés pedagógico, gerar resultados melhores significa um aprendizado mais sólido para os alunos ou proporcionar mais tempo e ferramentas aos professores”, afirma.
Os benefícios em sala de aula
A profissão docente vai muito além de chegar em sala de aula e ministrar sobre uma disciplina. Além de conhecer profundamente o conteúdo, também é necessário dominar técnicas relacionadas ao fazer docente, cuidar dos diários de classe, lidar com cobranças e pressões das famílias e das equipes técnicas e pedagógicas, diversificar os estímulos para motivar alunos, entre tantas outras atribuições.
Considerando esse cenário de múltiplas responsabilidades, Renato Dias aponta a importância de os educadores terem tempo para fazer aquilo que é principal de sua profissão: planejar e manejar experiências de aprendizagem significativas para seus alunos.
“Preparação de provas, marcação de presença, comunicados, gestão de materiais. Tudo isso é desvio de foco. Uma plataforma que ajuda o professor a acessar os melhores recursos, como vídeos, fotos, textos e áudios, e oferece conteúdo completo, de maneira didática e instrucional, é uma plataforma que justamente coloca o foco no que importa: o desenvolvimento de habilidades em situações de aprendizagem ativa”, pontua, citando o exemplo da CLOE.
Leia também:
Como a tecnologia na escola permite a construção coletiva de aprendizado?
Tecnologia: Sua escola está preparada para o futuro? Responda ao quiz
Além do livro didático
Quem é da época em que as escolas utilizavam apenas o livro didático vai se lembrar: as informações que não eram encontradas no texto ficavam como pesquisa de tarefa de casa, sem a possibilidade de acessar a internet durante a aula para pesquisar.
Hoje, os smartphones, quase uma extensão corporal dos alunos (sobretudo das gerações mais novas), facilitam esse trabalho – e a adoção de plataformas educacionais pode expandir ainda mais as propostas pedagógicas, quebrando as barreiras do livro didático.
“O livro didático se encerra em si, pelo seu conteúdo e formato impresso, um conhecimento que parece ser estático: é como se a editora dissesse ‘eis aqui o conhecimento necessário’. A diferença para uma plataforma digital é gigante”, afirma Renato. Já Leo aponta que nada impede que os livros didáticos sejam o ponto de partida, com propostas ampliadas a partir do uso da tecnologia. “Tecnologias disruptivas como realidade aumentada ou simples códigos QR podem ampliar ainda mais o acesso a conteúdos relacionados a partir dos livros”, avalia.
Critérios de adoção
Se por um lado a tecnologia tem o potencial de facilitar e agilizar processos, por outro é preciso levar em conta o nível da desigualdade no país, considerando que a maioria das escolas brasileiras – sobretudo as que pertencem às redes públicas de ensino – não contam com internet banda larga ou equipamentos de qualidade, mesma realidade em parte dos domicílios.
Para Leo Gmeiner, é preciso considerar que a tecnologia é um meio, e não o fim.“Por isso, os processos de adoção de plataformas tecnológicas pelas escolas devem partir de objetivos claros de cada área da instituição, para que a ferramenta realmente ajude os profissionais com as demandas que eles apontam, e não o caminho contrário”, ressalta.
Renato cita os dados do Instituto de Mobilidade e Desenvolvimento Social que reforçam o desequilíbrio social e tecnológico do Brasil: 30% dos filhos de pais que não tiveram nenhuma instrução acessaram a banda larga durante a pandemia, número que passa para 90% nos lares onde os pais contam com curso superior completo.
“Esses números mostram que o problema do uso da tecnologia por escolas não é de bloqueio ou aversão, é um problema objetivo de acesso, nos lares e nas próprias escolas. Avalio que um dos grandes desafios para a educação no país, no momento de retorno à normalidade pós-pandemia, será o de prover conectividade, computadores e tablets para os alunos e professores das redes particulares e públicas. Temos um desafio de gestão de recursos e infraestrutura pela frente”, conclui Renato.