Podcast sobre primeira infância discute tecnologia e desenvolvimento
por Redação 6 de dezembro de 2023
No último episódio da temporada, o podcast ‘de 0 a 5’, produzido pelo Porvir, reflete sobre os impactos da tecnologia no desenvolvimento cognitivo das crianças.
As pesquisas sobre os impactos na saúde das crianças são muitas. O Relatório de Monitoramento Global da Educação, feito pela Unesco, mostrou que a tecnologia pode ser boa para a educação, mas ainda assim é preciso entender sobre o tipo de tecnologia que estamos falando e de que maneira ela vai ser usada.
Participam deste episódio Fernanda Furia, consultora de Inovação em Psicologia e Educação e Kátia Esper, fonoaudióloga, Mestra em Psicologia – Neurociências e Comportamento pela USP.
Ouça o episódio
[início do episódio]
<< Ruam Oliveira >>
Oi para você! Estamos chegando ao fim de mais uma temporada do de zero a cinco, o podcast do Porvir sobre a primeira infância.
O tema dessa temporada foi o uso da tecnologia digital na educação infantil e a gente discutiu um montão de coisas interessantes.
Eu vou falar para vocês que tive até um pouco de trabalho na hora de decidir o que entrava ou não nos episódios de tanta coisa importante e que vale a nossa reflexão.
Você que nos acompanhou ao longo de todos os episódios já sabe que não estamos aqui para bater o martelo e dizer que é completamente errado ou inteiramente certo usar tecnologias na primeira infância.
Uma coisa que acabou aparecendo como consenso é que em idades muito pequenas, não faz muito sentido usar tecnologias digitais. E conforme as crianças forem crescendo, aí tem que usar com uma intenção bem clara, como a gente viu no episódio passado com a professora Claudia Regina dos Santos.
Agora então a gente vai olhar um pouquinho para o lado da saúde – eu sei que esse podcast é sobre educação, mas os assuntos estão relacionados, porque a aprendizagem é afetada pelas condições de saúde das pessoas, né?
Eu conversei com a Fernanda Furia, fundadora do portal Playground da Inovação e consultora de Inovação em Psicologia e Educação. Ela é integrante da The British Psychological Society,na Inglaterra.
Também falei com Kátia Esper, fonoaudióloga, Mestra em Psicologia – Neurociências e Comportamento pela USP, que criou uma Plataforma digital de conteúdo para Educação Inclusiva chamada Portal Cuca 4.0
Antes de irmos para o assunto da vez,eu quero convidar você a ouvir os outros episódios do podcast (desta e da temporada anterior) e também te convido a conhecer os outros programas aqui do Porvir.
Além do podcast do Porvir que trata sobre inovações na educação, temos também o O futuro se Equilibra, que aborda a equidade na educação a partir das interseccionalidades entre raça, classe, gênero e diferenças.
Todos eles estão disponíveis nas principais plataformas de áudio.
E agora então vamos para a nossa conversa o. Ajeita seus fones aí e vamos juntos.
<< trilha sonora >>
As pesquisas sobre os impactos na saúde das crianças são muitas. O Relatório de Monitoramento Global da Educação, feito pela Unesco, mostrou que a tecnologia pode ser boa para a educação, mas ainda assim é preciso entender sobre o tipo de tecnologia que estamos falando e de que maneira ela vai ser usada.
As professoras Thaís Aparecida Ferreira Costa e Auxiliatrice Caneschi Badaró, do Centro Universitário Academia, fizeram uma revisão na literatura para estudar os impactos da tecnologia no desenvolvimento das crianças.
No texto elas comentam que como as pessoas vivem imersas em diferentes tipos de tecnologia – como televisão, celulares, tablets etc – principalmente dentro de casa as crianças acabam tendo um acesso mais precoce a esses dispositivos, seja para lazer ou para a aprendizagem.
E nisso, elas passam menos tempo em brincadeiras que envolvem movimentar o corpo, que são ferramentas importantes para a estimulação psicomotora, que por sua vez leva a uma boa formação cognitiva.
Elas citam também diversos autores que avaliam que a tecnologia pode ser usada como uma aliada, mas é preciso fazer um uso controlado dela. Caso contrário ela pode ser uma ameaça ao desenvolvimento cognitivo das crianças.
Vamos ouvir o que a Fernanda Furia pode acrescentar nessa reflexão:
<< Fernanda Furia >>
O que eu tenho visto assim constatado estudando bastante, observando, vendo , – eu sou mãe também, né? – Existe um paradoxo, sabe? Porque ao mesmo tempo em que se fala que pode ter um ganho na comunicação, que pode ter um ganho na coordenação olho mão, que pode ter um ganho na linguagem. A gente também vê pesquisas, talvez mais em termos de número falando exatamente o contrário, né? Que o uso excessivo de tecnologia na primeira infância compromete sim a coordenação motora, compromete sim a visão, compromete sim a socialização. Porque no momento em que a criança tá assistindo aquele joguinho aquele vídeo. Ela tá tão entretida ali que ela deixa de aproveitar estímulos na vida presencial com outras pessoas que seriam mais importantes para a formação do cérebro.
<< Ruam Oliveira >>
Ou seja, muito parecido com o que dizem as professoras daquele artigo, né? Eu vou deixar o link para quem quiser ler o texto completo lá no Porvir.
A Gislaine Munhoz, que nós ouvimos no episódio passado, havia comentado que quando for usar tecnologia com a criança, não é para usá-las
<< Gislaine Munhoz >>
como um aparato de controle, né? Para que elas fiquem quietas para que elas fiquem seguras no sentido de não brincar com brincadeiras mais perigosas…
<< Ruam Oliveira >>
E aí, mais uma vez, é usar a tecnologia para incentivar a criatividade das crianças, não para deixá-las passivas.
<< Fernanda Furia >>
como a gente tá tendo muito contato com tecnologia. A gente está sendo influenciado o tempo todo até o Marc Prensky é ele fala muito dessa relação simbiótica que a gente tá tendo com as tecnologias, né? Muito próxima e o quanto a gente tá na visão dele tendo um ganho cerebral com isso porque estão se abrindo novas conexões enfim
<< Ruam Oliveira >>
Uma nota de rodapé aqui, o Marc Prensky que a Fernanda comentou é o cara que criou o termo Nativos Digitais que a gente ouve bastante quando falamos de quem nasceu depois do surgimento da internet.
<< Fernanda Furia >>
Por outro lado, tem um outro autor que eu esqueci o nome dele agora, mas é um livro chamado eh, fadiga frontal tá em inglês
<< Ruam Oliveira >>
Mais uma nota de rodapé aqui para vocês, o autor que escreveu Fadiga Frontal é outro Mark, o Mark Rego.
<< Fernanda Furia >>
Que fala como as tecnologias estão influenciando essa região do cérebro aqui na frente, né do córtex pré frontal. Então sobrecarregando essa região que é uma região super importante que só é desenvolvida depois dos 20 anos de idade, né, por completo e a responsável por memória planejamento gestão das emoções várias funções executivas importantes e ela não funciona muito bem essa região quando ela tá sobrecarregada. E ela tá muito ligada ou a a certas doenças mentais, né? Então a gente tá num momento em que as tecnologias estão sobrecarregando essa nossa região do cérebro do córtex para frontal e eu vejo que assim é um paradoxo tipo um paradoxo porque ao mesmo tempo que a gente tem muita informação, né?
A gente tem acesso a muito conhecimento muita informação. A gente também tem uma superficialidade as pessoas não aprofundam conhecimento ao mesmo tempo que a gente pode socializar mais através das tecnologias. A gente também tá mais só né? Tá mais sozinho, né? O nível de solidão entre as pessoas independentemente da idade tem crescido ao mesmo tempo que abre novos caminhos cerebrais também se a gente fica muito passivo também a gente tem essa construção dos mesmos caminhos ali.
<< Ruam Oliveira >>
Ou seja, para prevenir impactos negativos – seja em crianças ou em alunos mais velhos – é preciso ter intencionalidade, essa palavrinha que está na boca e na mente de quase todo educador ou educadora.
Pensando nos impactos cognitivos e no desenvolvimento da comunicação, por exemplo, um outro elemento que esbarra na relação que construímos com a tecnologia, é o aspecto socioemocional. A Fernanda diz que é também importante olhar para a inteligência emocional digital das crianças.
<< Fernanda Furia >>
Inteligência Emocional digital é quando a gente aplica as habilidades socioemocionais num ambiente digital, então a gente entende que de repente se eu tô numa rede social, eh, eu tenho emoções ali que são desencadeadas especificamente por causa do ambiente ali das redes sociais. Então me comparo. Eu sinto que sei lá, né? Um amigo saiu e não me chamou tem uma festa rolando e assim vai … eu vou usar a tecnologia de uma visão mais crítica, né? Então a visão crítica que é uma habilidade sócio emocional é importante. Como é que eu aplico isso no digital.
<< Ruam Oliveira >>
Para este episódio eu conversei também com a Katia Esper, que tem uma experiência de atendimento psicológico e que pode nos ajudar a olhar com mais atenção para a maneira como a tecnologia pode interferir nas emoções e na comunicação dos pequenos.
<< Katia Esper >>
eu recebo muitas vezes no meu consultório, nos meus atendimentos, e isso independentemente de classe social, pessoas falando: meu filho se irrita com estranhos, meu filho não aceita a presença de estranhos, ele só fica grudado no dispositivo eletrônico, será que tem algum problema? Será que o meu filho tem uma patologia? Que patologia é essa? E a gente percebe que é uma patologia funcional. Então eu diria não é uma patologia orgânica não é uma uma patologia neurológica é uma uma patologia funcional essa criança aprende a funcionar com o uso dos dispositivos eletrônicos que sempre estão agradando sempre estão estimulando liberando uma sensação de prazer uma sensação de conforto e dessa maneira lidar com os seres humanos ao redor com outros estímulos pode ser muito complicado.
<< vírgula sonora >>
<< Katia Esper >>
Porém quando nós temos o uso inteligente dos dispositivos eletrônicos, o que que é o uso inteligente é conteúdo útil conteúdo agradável música por exemplo eventualmente os desenhos Claro tem desenhos muito educativos, mas mais inteligente ainda a maneira como isso é administrado então por exemplo se eu deixo livre em termos de tempo quanto de tecnologia essa criança vai consumir no dia.
É o uso responsável, eu uso inteligente da tecnologia. Eu penso que seja fundamental para que nós possamos dizer é aceitável o uso da tecnologia na primeira infância precisa desses critérios limites administração de conteúdo administração de tempo de exposição por questões orgânicas e por questões psicossociais digamos assim.
<< trilha de transição >>
<< Ruam Oliveira >>
Ao longo dessa temporada nós vimos exemplos diversos das relações que crianças têm com a tecnologia. Nós conhecemos um pouco sobre o filho da Fernanda Montano que foi por um período viciado em tecnologia, vimos também o filho da Bárbara que não costuma ter contato com nadinha de dispositivos eletrônicos… Tivemos as professoras que contaram da necessidade de instruir para um uso correto de tecnologia…
A gente lembrou aqui que não existe uma fórmula exata, nem mesmo um consenso definitivo sobre a questão. Há prós e contras a serem considerados.
Outra coisa bastante lembrada foi a pandemia de covid-19, que mudou a maneira como cada pessoa se relaciona com a tecnologia. O filho mais velho da Bárbara mesmo teve maior contato com tecnologia nesse período.
E muita gente teve que usar algum meio eletrônico para trabalhar…
<< Katia Esper >>
Não há culpa nisso. Há um processo de aprendizado acontecendo. Há muitas pessoas, muitos pais e muitos cuidadores que dizem: eu não sei o que fazer. Eu preciso trabalhar, então eu dou o celular na mão do meu filho e essas crianças têm crises de abstinência, quando esse celular é retirado.
Não pode ser castigo ficar sem o tablet é regra, você tem x tempo para ficar exposto ao celular, você vai ficar sem o uso de dispositivos eletrônicos tanto tempo antes de chegar a hora do sono, porque nós precisamos é fisiologicamente que essa criança comece a liberar melatonina para conseguir dormir nós funcionamos desse jeito então os bebês eles precisam estar dispostos à luz do dia eles precisam estar expostos às agitações do dia a rotina para que no momento à noite quando quando escurece eles recebem a informação de que
É hora de liberar melatonina para ir dormir para ter um sono tranquilo e aceitar isso utilizando outras formas de entretenimento.
<< Ruam Oliveira >>
Um parêntese aqui bem rápido só para te lembrar que a melatonina é um hormônio produzido no cérebro e responsável por regular o nosso relógio biológico e ela é produzida em maior quantidade à noite, quando está escuro.
A Katia também mencionou um uso importante da tecnologia, aí independemente da idade que é voltada para a inclusão de pessoas com deficiência.
Nesses casos, professores e professoras têm uma importante aliada na tecnologia. Sem excesso, claro!
<< Katia Esper >>
é eu acho que o excesso e eu uso consciente o uso consciente dos dispositivos eletrônicos e das plataformas educativas das plataformas de educação inclusiva das plataformas de Educação. A Distância isso tudo é seria assim incrível, se pudesse ser bem administrado. Hoje nós temos plataformas incríveis tanto para educação de neurotípicos quanto para a educação inclusiva.
as escolas precisam se adaptar e se adaptar em seus materiais para conseguirem realizar a inclusão e a inclusão ela vai além de todo dia ela vai muito além do nome dela, né? A inclusão é fazer com que a pessoa com deficiência com dificuldade se sinta parte do grupo. Ela está lá todos estão recebendo, por exemplo algum tipo de informação por uma plataforma tecnológica, por exemplo e ele também aquela pessoa com deficiência também agora se na pela plataforma os outros alunos estão na fase dois na fase três na fase 5 e ele permanece na um e ou com outros recursos que vão ser serem administrados para melhorar. Aquela fase um daquela pcd essa criança continua se sentindo incluída e mais do que isso aprendendo evoluindo assimilando então é muito lindo a gente poder trabalhar com o uso da tecnologia de forma consciente.
<< Ruam Oliveira >>
Acho que a gente encerra essa temporada com um consenso de que usar tecnologia requer intenção clara e que depende também de não ser excessivo. É preciso compreender os objetivos das atividades que usam tecnologia.
Foi um percurso interessante produzir e trabalhar nesse tema aqui no Porvir. Os especialistas que ouvimos foram muito importantes para nos trazer um pouco mais de perspectiva sobre esse tema que é bastante polêmico.
Quero agradecer mais uma vez a sua companhia ao longo dessa temporada. Obrigado por nos ouvir!
Um agradecimento especial a Daniela Tofoli, minha mentora na bolsa sobre primeira infância promovida pelo Dart Center for Journalism and Trauma, da Universidade de Columbia.
Obrigado ao Vinícius de Oliveira, editor aqui do site e que também opinou neste roteiro.
As músicas que você ouviu ao longo desta temporada são do Gabriel Falcão e as artes são do Ronaldo Abreu, da equipe de Design do Porvir.
Eu sou Ruam Oliveira, produzi, roteirizei e editei essa temporada inteira. Foi um prazer estar com vocês. Não deixe de compartilhar esse conteúdo com seus grupos de escola, amigos próximos e qualquer outra pessoa que você ache que deva ouvir esse podcast.
Para mais conteúdos sobre inovações educacionais é só acessar o porvir.org. A gente também está no facebook, instagram, linkedin e youtube!
um abraço e até a próxima!