Professor usa Minecraft para trabalhar etiqueta virtual e criar simulações com os alunos
Durante o período de aulas remotas, jogo serve como suporte para trabalhar diferentes conceitos, fazer experiências e aprender programação
por Francisco Tupy 16 de novembro de 2020
Sou professor de letramento digital no Colégio Visconde de Porto Seguro, em São Paulo (SP). Todo ano fazemos um planejamento de como os estudantes vão aprender a utilizar a tecnologia em um aspecto mais amplo, que envolve desde cultura digital até programação.
No início das aulas remotas, percebemos que seria preciso reforçar algumas práticas com os alunos e também falar do que costuma ser chamado de netiqueta, a etiqueta dentro do ambiente virtual. Para isso, criamos um mundo no Minecraft, quase que como um jogo de tabuleiro e compartilhamos com as turmas.
Ao invés de utilizar o PowerPoint ou apenas conversar, construímos uma jornada do herói ético. Com uma série de recursos do jogo, como lousas, portais e personagens, percorremos diferentes estações e cenários desse mundo para falar sobre a forma correta de se comportar, como e quando abrir o microfone, saber falar e colaborar para que tudo ocorresse direito.
Durante o período de aulas remotas, também utilizamos o Minecraft de formas diferentes para trabalhar conteúdos da disciplina. A turma dos anos iniciais do ensino fundamental, por exemplo, trabalhou com o jogo em uma atividade mão na massa que envolvia a elaboração de um circuito. Além deles receberem o material físico em casa, o jogo serviu como uma estratégia para complementar a experiência.
Para reforçar conceitos de computação física, fizemos uma maquete virtual com os alunos. A proposta era compreender o percurso que a internet fazia, desde os servidores até a nuvem e o roteador para chegar ao computador de cada um. Eles construíram e simularam todo esse percurso dentro do jogo. O Minecraft ajuda no processo de abstração e visualização.
Outro exemplo muito legal é de como usar o jogo como suporte ao ensino de programação. Não apenas com os blocos, mas também com a possibilidade de trabalhar linhas de de código, como Java e Python.
Além de todas essas experiências que eu contei, o Minecraft também possibilita uma série de outras criações. Recentemente, eu montei dois laboratórios virtuais no jogo para apresentar no Pink of Milk, versão do Pint of Science para crianças, e para na Semana da Ciência Nuclear. É muito fácil de mexer, com um botão do mouse você coloca blocos e com o outro você tira.
Para começar a usar na sala de aula, basta jogar e colocar a mão na massa. O professor pode encontrar diversos vídeos no YouTube com exemplos de atividades. Só de falar sobre e mostrar um vídeo para os alunos, já é uma porta para trabalhar com o Minecraft. Você não precisa necessariamente jogar para dar início a uma atividade como essa.
Existem muitas possibilidades que chamam a atenção dos estudantes. O Minecraft é um jogo, mas ele também pode ser um veículo para o aluno expressar sua ideia, se relacionar com o conteúdo e aprender brincando. A palavra principal é experimentar.
Francisco Tupy
Professor de Letramento Digital do Colégio Visconde de Porto Seguro; É doutor e mestre em aplicação de videogames na Educação e Comunicação pela ECA-USP. Tem formação em ensino e aprendizagem pela Krishnamurti Foundation of America/UCSB (Califórnia, EUA). Aborda temas como Letramento Digital, Fundamentos dos Jogos, Game Design / Gamificação e Criatividade. Responsável pedagógico pelo projeto #HistoryBlocks da UNESCO (utilizando o Minecraft e presente em mais de 100 países). Em 2018, foi indicado à medalha Darcy Ribeiro.