Projeto leva robótica a crianças argentinas
Mais de 3 mil estudantes de ensino fundamental , de San Luís, têm aulas de robótica inseridas de forma transversal no currículo
por Vagner de Alencar 7 de agosto de 2012
Crianças argentinas, em sala de aula, observam parafusos, eixos, engrenagens, sensores, polias e correias de vários tamanhos dentro de uma ‘caixa tecnológica’. O professor ensina como enroscá-las e montá-las e aos poucos surgem carrinhos, caminhões de bombeiros e pequenos robôs. Práticas como essas fazem parte do cotidiano de mais de 3 mil estudantes do ensino fundamental I de 20 escolas públicas e particulares da província de San Luís, na Argentina, por meio do projeto Todos a la Robótica (Todos para a Robótica, em tradução livre).
Desde setembro do ano passado, as aulas de robótica estão sendo inseridas, de maneira transversal, no currículo das escolas. “Os professores entendem que essas atividades são uma nova forma de dar aulas, principalmente sobre temas mais abstratos, como geometria, física ou até mesmo literatura. A robótica ajuda a motivar os alunos na leitura, interpretação e no trabalho em conjunto, além de estimular o registro de suas experiências”, afirma Cristian Moleker, diretor do Parque de Informática La Punta, da Universidade de la Punta, que realiza o projeto em parceria com o governo do país.
Os educadores, por meio dos kits pedagógicos, estimulam a montagem de dispositivos de automação e robótica a partir das peças simples. A ideia é que os estudantes aprendam brincando. De acordo com a coordenação do projeto, a pretensão é que, futuramente, as atividades se tornem mais complexas: como dar mobilidade às criações através de controles, sensores de luz e baterias.
Antes de ministrar aulas, os professores passam por treinamentos oferecidos por especialistas da Universidade de la Punta. De acordo com Moleker, durante as aulas, as crianças aprendem a ter disciplina, já que para construir um determinado objeto, explica, é preciso atenção de todos os alunos envolvidos. Além disso, eles ainda controlam a ansiedade e ampliam as relações sociais, deixando de lado a timidez.
Para Mónica Paves, diretora de RobotGroup, empresa argentina que fabrica os kits educativos, o estudo da robótica na escola leva às crianças uma possibilidade de entender melhor problemas cotidianos e, mais ainda, a capacidade de pensar soluções para eles. “A ideia da robótica não é suplantar o homem, mas trabalhar com ele. É apresentar soluções de problemas reais como a limpeza de um córrego ou até mesmo a capacidade de chegar a lugares perigosos para o ser humano.”
Escuelas Inteligentes
Na Argentina, o Todos a la Robótica é realizado em todas as escolas que fazem parte do programa educativo Escuelas Inteligentes (Escolas Inteligentes, em tradução livre), implantado pela Universidade de la Punta há dois anos. Em parceria com o governo espanhol, o programa avalia, o desempenho dos alunos em espanhol, matemática e ciências. Essa escolas também participam de outro projeto, o Todos los chicos en la red (Todas as crianças em rede, em tradução livre), iniciativa similar ao Una computadora por niño, realizada em Caacupé, no Paraguai. Em ambas as cidades, 100% dos estudantes de ensino fundamental I têm acesso a um computador com internet.
Já no Brasil, implantado há dois anos, o programa UCA (Um computador por aluno) é realizado em aproximadamente 500 escolas públicas do país. Conforme dados do MEC, cerca de 574 mil laptops educacionais foram adquiridos pelo governo federal ou pelas prefeituras e governos estaduais por meio de pregão.
Ensino de robótica no Brasil
No país, escolas de ensino fundamental e médio também oferecem cursos de robótica para os seus alunos, normalmente como atividade extracurricular. Alguns exemplos são as escolas privadas La Salle e Adventista, ambas em Brasília, e o Consa (Colégio Nossa Senhora Aparecida), em São Paulo.
O Consa oferece o curso para estudantes a partir do 5o ano do ensino fundamental. As aulas, chamadas Aventuras Robóticas, acontecem em parceria com a Lego Education, divisão de educação do Grupo Lego. Segundo Renato Campiteli, instrutor das atividades, as aulas são apresentadas em fascículos no formato de história em quadrinhos. Em cada aula, os estudantes têm uma “situação-problema” para resolver, a partir dos conceitos de robótica. “Os participantes têm o desafio de construir e programar robôs para solucionar as missões robóticas, colocando em prática todas as suas habilidades e competências”, explica. “Com base nisso, sempre há estímulo para o desenvolvimento de atitudes, valores e raciocínio tecnológico. Tudo com foco no exercício da liderança e do empreendedorismo”, completa.