Quando a cidade acolhe a infância, acolhe todo mundo - PORVIR
Crédito: Prefeitura de Jundiaí

Inovações em Educação

Quando a cidade acolhe a infância, acolhe todo mundo

Conheça o projeto Urban95, que reúne 24 municípios brasileiros focados no planejamento urbano voltado ao bem-estar de crianças e seus cuidadores

por Ana Luísa D'Maschio ilustração relógio 9 de agosto de 2022

Noventa e cinco centímetros é a altura média de uma criança de três anos de idade. Como você enxergaria a cidade se tivesse esse tamanho? Qual deve ser o planejamento urbano ideal para considerar a perspectiva de bebês, crianças pequenas e seus responsáveis?

Vem desse debate o Urban95, projeto da Fundação Bernard van Leer. Com atuação em Israel, Peru, Turquia, Holanda, Jordânia e Índia, no Brasil a iniciativa começou em Boa Vista (RR), Recife (PE) e São Paulo (SP) e hoje está presente, ao todo, em 24 municípios que compartilham políticas e programas que priorizam a primeira infância. 

“Entendemos que não adianta ter quilômetros de ciclofaixas se as pessoas não forem lá pedalar, ou excelentes espaços como os CREAS (Centro de Referência Especializado de Assistência Social) se as famílias não os utilizarem”, explica Thais Sanches, coordenadora de programas da Fundação Bernard Van Leer, sobre a importância da participação popular nas iniciativas públicas.

Como as cidades lidam com a primeira infância? Quais seus projetos em prática? O primeiro passo do Urban95 na seleção de um município é entender seu comprometimento com essa agenda, e o interesse em fazer parte da rede. São feitos estudos sobre a cidade, por vezes em parceria com outras organizações, até o envio de uma carta-compromisso ao prefeito. 

“Todas as redes contam com diversas secretarias para além da tríade assistência-saúde-educação. Chamamos, também, a secretaria de urbanismo, de cultura e do esporte para levantar os números relacionados à primeira infância e entender as prioridades do município e as áreas de maior vulnerabilidade para que comece a atuação”, afirma a coordenadora.

Assim, o Urban95 apoia a construção dos planos municipais pela primeira infância, com objetivos bem definidos, além de oferecer encontros formativos e de monitoramento via assessoria técnica. Além de uma plataforma de gestão, o programa aposta em investimentos-semente para testar algumas propostas. Viagens para apoiar lideranças nos estudos estão no escopo da parceria: recentemente, alguns prefeitos participaram de um curso de liderança executiva na Universidade de Harvard (em Boston, nos EUA), focado no desenvolvimento da primeira infância.

No Brasil, Boa Vista, capital de Roraima, é tida como a capital da primeira infância por incorporar a agenda da infância em todas as suas áreas. Um dos destaques é o Programa Família que Acolhe, que, há dez anos, integra os serviços de saúde, educação e gestão, oferecendo assistência e encontros formativos para gestantes e puérperas. O primeiro encontro presencial da Rede Urban 95 aconteceu na cidade, em junho deste ano. 

Voz ativa

As crianças têm direito à participação cidadã garantido em lei: está na convenção dos Direitos da Criança e do Adolescente da ONU (Organização das Nações Unidas), no ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) e também no Marco Legal da Primeira Infância. Depois de dois anos de distanciamento social causado pela pandemia da Covid-19, como a cidade e os espaços ao ar livre podem ser repensados como lugares educadores e de afeto? 

No Recife (PE), por exemplo, a vez é das bebetecas, bibliotecas voltadas para bebês e suas famílias. Em Cascavel (PR), a semana de escuta infantil ouviu 9 mil crianças entre 3 e 6 anos para opinar o que gostam nos equipamentos públicos que frequentam. Já Jundiaí (SP) é a primeira cidade a aplicar o projeto-piloto Lullaby, voltado ao ensino de música como fortalecimento de vínculos entre famílias em situação de vulnerabilidade social. O município também já coloriu seus muros com o projeto Pé de Infância, com intervenções artísticas pela cidade, focadas em frases com os direitos das crianças. 

Em termos de mobilidade, tanto Niterói (RJ) quanto Caruaru (PE) estão olhando para rotas escolares seguras em áreas de vulnerabilidade, no que se refere ao aspecto viário em si e à ludicidade e interatividade no caminho até a escola – como a conexão com espaços verdes, a fim de promover aprendizado ao ar livre. Todos os projetos são públicos, apoiados pelo Urban95 e outras fundações.

“A cidade pode promover interações positivas que são tão importantes para o desenvolvimento integral dos bebês e crianças por meio dos seus espaços. Como as ruas podem ser brincantes, interativas, lúdicas e seguras? Como esses espaços de descanso podem ser promotores de encontros de crianças com outras crianças, com cuidadores, com seu entorno? A interação positiva contribui com o bem-estar, para que as crianças façam uso das cidades, que são delas também”, reforça Thais Sanches. 


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competências para o século 21, educação infantil, primeira infância

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