Argumentação é ponto fraco de estudantes na redação do Enem, diz startup
47% das redações do Enem corrigidas pela plataforma Imaginie não apresentam dados e fatos que sustentem argumentação
por Vanessa Fajardo 29 de outubro de 2018
Quase metade (47%) das redações corrigidas pela plataforma Imaginie, que leva em conta os critérios exigidos no Enem (Exame Nacional do Ensino Médio), não apresenta dados e fatos que sustentem a argumentação dos estudantes. Outros 39% dos textos têm problemas com inserção de conectivos e 34% precisam aprofundar os argumentos. Ainda, segundo a plataforma, aproximadamente 30% dos textos têm erros de uso de vírgula, ortografia e apresentam uma introdução superficial.
Com sede em Belo Horizonte (MG), a Imaginie já corrigiu 1,2 milhão de textos até outubro deste ano, usando as regras do Enem. Cerca de 80% dos autores são alunos oriundos da rede privada, e 20% da pública.
“O aluno precisa colocar fatos e dados para comprovar sua tese, caso contrário, impede a nota máxima. Também notamos que os argumentos não são comprovados com exemplos, se o candidato não refletir sobre o que defende, tende a deixar o texto superficial”, diz Roberta Rinaldi, coordenadora pedagógica da Imaginie.
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Roberta também aponta a dificuldade dos candidatos para iniciar o texto, já que quase 30% das redações corrigidas apresentaram introdução superficial. “Sempre dizemos aos nossos alunos que se o corretor não souber o tema da redação, precisa conhecer na introdução, por isso é necessário contextualizar no início.”
Mais de 300 mil zeros
No ano passado, 309.157 candidatos que fizeram o Enem receberam nota zero na redação. No total, somente 53 alunos conseguiram conquistar a nota máxima no texto. O número foi menor do que no ano anterior, quando 77 estudantes obtiveram mil.
Segundo Daniel Machado, diretor fundador da empresa, diferente do Ministério da Educação que avalia a redação a partir de cinco competências, a plataforma consegue apontar as dificuldades dos alunos de forma mais específica. No futuro, eles pretendem tabular os erros por estados.
“A visão do MEC é mais macro, o que conseguimos fazer é construir um mapa muito detalhado do que acontece especialmente no ensino médio brasileiro”, afirma Machado. Ele lembra que embora o uso de vírgula e conectivos não sejam considerados graves para os corretores das redações do Enem, a regra só permite dois erros de “norma culta leve” sem descontar pontos.
Machado diz que o retrato revela que nem mesmo a rede privada oferece uma educação de qualidade. “Há uma educação mediana para fraca nas escolas privada, e o que há na rede pública é ainda pior. Saber usar vírgula e conectivos não é para o Enem, é para a vida.”
Leitura e interpretação de texto
Para a professora e coordenadora de redação do Curso e Colégio Poliedro, Daniela Loro Martins Pinto, o Enem expõe um problema mais profundo que é da falta de leitura e a dificuldade de interpretação de textos dos alunos brasileiros.
“O maior problema é sobre a falta de entendimento do tema da redação, que tem a ver com a questão da leitura. O Enem sempre traz uma situação problema e muitos alunos não veem isso”, afirma Daniela.
A professora lembra que sem leitura e repertório, os candidatos não conseguem desenvolver propostas de intervenção, exigidas pela avaliação. “Por isso não estamos mais preocupados com o tema do Enem, nossa preocupação é prepará-los para qualquer tema. Trabalhar com atualidades para formar um cidadão mais consciente para que ele tenha condições de fazer uma boa proposta de intervenção na redação.”
Como funciona a plataforma
Escolas e alunos, isoladamente, podem contratar a Imaginie. Basta escrever o texto, fotografá-lo e encaminhar pela plataforma. A empresa prometer devolver a redação, em média até 24h, com nota e comentários por competência, nos mesmos critérios do Enem.
Para atingir a nota máxima, o MEC exige que o aluno mostre domínio da escrita; aplique conceitos de uma dissertação; interprete informações, opiniões em defesa de um ponto de vista; demonstre conhecimentos para construção da argumentação; e elabore uma proposta de intervenção para o problema abordado.
A análise é feita por uma equipe formada por 6 mil professores. A correção também acompanha videoaulas com base nos erros identificados. Até fevereiro, a empresa já tinha catalogado 231 erros.