Conceito e tecnologia são requisitos para o professor adotar o ensino híbrido no Fundamental 1 - PORVIR
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Coronavírus

Conceito e tecnologia são requisitos para o professor adotar o ensino híbrido no Fundamental 1

Entenda quais as possibilidades e os cuidados que os educadores devem ter na hora de trabalhar com essa abordagem nos anos iniciais

Parceria com Instituto Península

por Maria Picarelli ilustração relógio 25 de fevereiro de 2021

Por causa da pandemia de Covid-19, neste início de ano letivo, os professores estão diante do desafio de implementar – a despeito de terem ou não formação e experiência – estratégias para atender aos estudantes que estão no ensino remoto e àqueles que estão frequentando as aulas presenciais.

Os desafios perpassam todas as etapas, mas se acentuam nos anos iniciais do ensino fundamental. Uma preocupação comum entre educadores e famílias é evitar a exposição excessiva das crianças pequenas às telas. Outro desafio é dar conta de processos típicos da etapa, como a alfabetização. Diante desse cenário, surgem as perguntas: a abordagem híbrida pode ser adotada nos anos iniciais do fundamental? Que habilidades os professores precisam desenvolver para adotá-la?

O ponto de partida, assinala Fernando Trevisani, professor e consultor em metodologias ativas, é esclarecer o conceito de ensino híbrido. Ao contrário do que está circulando na sociedade, o ensino híbrido não é a oferta de aulas e atividades presenciais e online. Também não é a transmissão ao vivo de aulas realizadas na escola.

“Tem tido muita confusão, até mesmo na mídia, sobre o que é ensino híbrido. O ensino híbrido é composto por modelos de aula que utilizam as tecnologias digitais para o professor coletar dados, analisá-los e promover a personalização do ensino com os alunos, preferencialmente em aulas presenciais”, define Trevisani, que também é um dos coordenadores do Grupo de Grupo de Experimentações em Ensino Híbrido e doutorando Metodologias Ativas e Educação Matemática na Universidade Estadual Paulista (Unesp).

Ou seja, o ensino híbrido não se resume a uma metodologia, pautada por um método pré-estabelecido. Como afirma Flávia Moura, professora de matemática na rede municipal do Rio de Janeiro, a essência do ensino híbrido é olhar o aluno como um indivíduo com suas particularidades e necessidades.

O lugar da tecnologia
A tecnologia faz parte da abordagem híbrida, mas não necessariamente para os estudantes realizarem atividades. A tecnologia, explica Trevisani, deve ser usada com foco na personalização do ensino para os alunos e para os professores coletarem informações e acompanharem a aprendizagem.

“O uso de recursos digitais independe do tempo que a criança fica exposta às telas, mas depende principalmente do modelo de aula que o professor consegue elaborar, incorporando essas ferramentas para personalizar o ensino”, detalha Trevisani. Ou nas palavras de Flávia: “quando a gente fala em ensino híbrido, a gente não está falando necessariamente em utilizar a tela. A gente recorre à tela como um recurso. O foco é ficar mais próximo do aluno”.

Por exemplo, um vídeo pode ser usado como uma estratégia de personalização do ensino, pois o aluno pode acessá-lo várias vezes, ir e voltar, fazer um registro etc.. Outro exemplo: se o estudante está fazendo uma questão de matemática numa plataforma e erra, ela pode ser automaticamente direcionado para exercícios específicos. Já o Google Form pode ser um aliado do professor, pois gera dados que podem ser usados como diagnóstico ou avaliação.

Então, antes de tudo, o professor precisa compreender a função da tecnologia digital no ensino híbrido nos momentos online e nos momentos offline. Segundo Flávia, não adianta utilizar a ferramenta tecnológica e colocar vídeo para o aluno assistir. “Aulas sincronizadas, por exemplo, em que o aluno está em casa, assistindo a uma aula expositiva, que está acontecendo na escola é apenas um jeito de transferir para casa aquelas aulas tradicionais. Não tem nada a ver com o ensino híbrido”, complementa ela. Afinal, o ensino híbrido foi pensado para o contexto das aulas presenciais.

O híbrido nos anos iniciais
Algumas das características do ensino híbrido se alinham bem ao ensino fundamental 1, na visão de Jordana Thadei, professora do Instituto Singularidades: a coleta de dados e o acompanhamento mais próximo pelo professor.

“O uso da tecnologia, se bem planejado e contextualizado, pode ser um importante meio de coleta de dados sobre o grupo de estudantes e sobre cada um deles individualmente, para personalizar o ensino, atuando sobre as demandas de conteúdo e de estratégias específicas de um grupo”, explica Jordana, que também é formadora do Cenpec (Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária).

Para ela, o ensino híbrido favorece que o professor acompanhe grupos menores de estudantes tanto para atividades quanto para autoavaliação. “Poder estar com grupos menores, principalmente em realidades de salas de aula cheias, é raro no contexto presencial tradicional, mas pode ser realizado no contexto do ensino híbrido (presencial ou adaptado para o remoto), já que a diversificação de atividades favorece ao professor escolher uma delas para acompanhar com diferentes grupos, um de cada vez”.

Um cuidado importante, porém, é o gerenciamento do tempo nas atividades, pois os estudantes dessa etapa estão aprendendo a fazer o seu planejamento. Essa necessidade se acentua no contexto atual, das aulas remotas, em que predominam as atividades realizadas no computador. “Cabe ao professor dimensionar as atividades de modo que o tempo para execução não seja insuficiente e nem excessivo”.

Fernando Trevisani considera que um dos aspectos positivos dos alunos dos anos iniciais em relação aos mais velhos e que favorece a aplicação da abordagem híbrida é a abertura para as atividades propostas pelos professores. “De maneira geral, eles acham interessante tudo o que o professor propõe e fazem com ânimo e dedicação”. Em contrapartida, a necessidade de mediação da família tende a ser maior, pois as crianças têm menos autonomia.

Por isso, é importante que os comandos das tarefas sejam simples e claros, a fim de que as crianças consigam realizá-las por conta própria. Esse processo, analisa Trevisani, pode favorecer o desenvolvimento da leitura e da escrita – embora, quando se fala de ensino híbrido, seja importante que os professores aceitem outras maneiras de os estudantes manifestarem o que aprenderam, além da escrita e da leitura. Ao se referir à Base Nacional Comum Curricular, o especialista também sugere outras possibilidades, como esquemas, cartazes e exposições orais.

As habilidades dos professores

Para colocar essa abordagem em prática, é essencial que os professores dominem os equipamentos e as linguagens, afirma Zilene Trovão, gestora do Centro Integrado Municipal de Educação, em Manaus (AM). “É preciso dominar a tecnologia, saber lidar com elas. Por isso, é importante investir nesse tipo de formação. É uma prioridade”, defende.

Ao lado do domínio tecnológico, o professor precisa estar alinhado com a visão de educação integral. Ela conta que na escola que dirige, a abordagem híbrida já era aplicada antes da pandemia, o que ajudou a assegurar o contato com os alunos e suas famílias e, também, a manter os vínculos com a escola e a aprendizagem, dentro do possível. A escola fica na região Leste 2 da capital do Amazonas, no limite entre as zonas urbana e rural, e atende a uma população oriunda do interior que vive em áreas de ocupação, com pouco acesso à infraestrutura urbana.

Jordana também concorda que o domínio tecnológico é uma chave importante. “O professor precisa conhecer os recursos tecnológicos e, principalmente, saber o que fazer com eles, de forma de forma significativa e contextualizada, integrada aos momentos sem tecnologia, estabelecendo um contínuo de aprendizagens”, detalha.

Outro ponto importante, na visão dela, é repensar os papeis de professor e de estudante, relativizando a ideia de quem ensina e quem aprende, abrindo espaço para que o estudante seja mais autônomo na construção do aprendizado e o professor, mais mediador.

Esse domínio, aponta Trevisani, pode representar uma vantagem para os professores que estão vivenciando o ensino remoto no contexto da pandemia, pois podem implementar com mais facilidade aulas que engajam mais os estudantes.

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ensino fundamental, ensino híbrido, tecnologia

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