Mooc ensina português a grandes públicos
Curso grátis voltado para universitários já tem 2.500 inscritos e atraiu, além de estudantes, profissionais das mais diversas áreas
por Vinícius Bopprê 17 de abril de 2013
O ano passado foi um momento marcante na educação, graças, principalmente ao crescimento de plataformas que oferecem Moocs (cursos on-line, grátis e de nível superior dados a grandes públicos). Só o edX, de Anant Agarwal, por exemplo, atingiu mais de 800 mil pessoas no seu primeiro ano de vida. E, aos poucos, essa modalidade de ensino vai ganhando espaço no Brasil. Neste ano, a Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (Abmes) organizou o Mooc Língua Portuguesa, que tem como objetivo oferecer um programa de nivelamento de conhecimento de português voltado aos estudantes do ensino superior.
Mas acontece que, diferente do esperado, o curso – coordenado pelo professor e pesquisador João Mattar e pelo Grupo de Pesquisa em Tecnologias Educacionais da PUC-SP – tem atingido públicos diferentes. “A maior parte dos matriculados nem é aluno de universidade. Muitos professores se inscreveram, não só de português, mas de outras disciplinas, pessoas que trabalham com tecnologia e educação à distância”, explica Mattar. Para ele, essa procura diversificada se dá também pelo fato de que muitas pessoas no Brasil estão interessadas em compreender a dinâmica dos Moocs e em explorar plataformas virtuais de aprendizagem.
O Mooc Língua Portuguesa, que utiliza o Redu – plataforma digital por meio da qual instituições de ensino oferecem seus cursos – para distribuir o conteúdo e promover a interação entre os participantes, está no ar há nove dias e já tem quase 2.500 inscritos. Eles podem acessar, a qualquer momento, o material para a disciplina de ortografia, que possui 5 módulos (apresentação, sinais ortográficos, acentuação, erros comuns de ortografia, a solução) e um total de 18 aulas. Nelas, os alunos terão acesso a vídeos, tanto do professor dando explicações quanto com músicas de Chico Buarque para análise da letra. Estarão disponíveis também arquivos de áudio, textos, exercícios, inclusive ditados com feedback imediato.
Aquele que, ao longo das nove semanas de curso, concluir todos os exercícios e atingir a média, recebe um certificado concedido pela própria Abmes, que poderá contar como atividade complementar em muitas universidades. E essa dinâmica da “aprovação” funciona quase igual a de uma escola ou faculdade. Caso o aluno deixe de fazer um exercício, precisa tirar uma bota nota no outro para compensar. Mas vale lembrar que o curso on-line tem mais uma vantagem: a flexibilidade de horário. “Os exercícios vão ficar disponíveis na plataforma para que o aluno possa fazer a hora que quiser. Além disso, estamos pensando um algoritmo que mensure a participação dele, nos murais, respondendo perguntas, para que isso também conte na avaliação final”, diz Mattar.
O Brasil e os Moocs
No Brasil, o PingMind, criado neste ano, foi uma das primeiras plataformas a oferecer Moocs, tendo como principal foco a área de tecnologia. No ano passado, porém, João Mattar desenvolveu, em um site próprio, um curso on-line e gratuito sobre educação à distância. Essas iniciativas ainda são pontuais no país, acredita o especialista, muito devido a entraves com políticas públicas educacionais.
Nos EUA, muitos Moocs já podem valer créditos nas universidades, ou seja, são equivalentes a uma disciplina tradicional. Isso se dá porque agências reguladoras têm o poder de validar qualitativamente esses cursos, permitindo que qualquer instituição insira tais cursos online no seu plano pedagógico da maneira que achar melhor. “Aqui a legislação é diferente, precisaria ser aprovado pelo MEC. Os Moocs no Brasil, hoje, funcionam como um curso livre, uma atividade complementar e não como disciplina universitária”, afirma. Para ele, é só uma questão de tempo para que as empresas percebam o potencial de negócio dos cursos massivos para que, a partir disso, se crie cada vez mais material e “mais infraestrutura para resolver, na verdade, o problema da educação no país”.