Neurociência mostra como empatia muda relações na sala de aula e na sociedade - PORVIR
Crédito: kay_mosk / Fotolia.com

Inovações em Educação

Neurociência mostra como empatia muda relações na sala de aula e na sociedade

Ler, dançar, andar na natureza, meditar e estudar música são atividades que podem conectar as pessoas e ajudar educadores em uma transformação social

por Laiali Chaar ilustração relógio 12 de junho de 2018

Empatia. Você sabe o que isso significa? Não é dizer para outra pessoa: “não foi nada, não fique assim”. É falar “eu sei que é difícil e eu estou aqui com você”. Você já viu alguém superfeliz e ficou feliz com o outro? Ou viu alguém triste, doente ou chorando e ficou triste também e com vontade de ajudar? Essa conexão de perceber os sentimentos das pessoas com uma motivação para cuidar acontece graças a empatia. Ela é uma das mais incríveis capacidades humanas [1].

📳 Inscreva-se no canal do Porvir no WhatsApp para receber nossas novidades

Empatia não é apenas a capacidade de se colocar no lugar do outro, ela nos conecta com as pessoas, sem preconceitos, julgamentos, porque entendemos que somos todos diferentes. Você sente isso?

Leia mais: 
– Dispositivo portátil aproxima neurociência da sala de aula
– O cérebro precisa se emocionar para aprender
Atriz Goldie Hawn cria aula sobre como controlar o cérebro
– ‘O educador é quase um neurocirurgião’
– Site reúne livros e filmes que despertam empatia

Ela é importante em todas as áreas da nossa vida: amorosa, familiar, social e profissional. Com ela é possível ter um bom convívio social, fazer amizades e até resolver problemas e tomar decisões em ambientes de trabalho. Quando profissionais de saúde percebem as dores e sentimentos de seus pacientes, eles aderem mais ao tratamento [1, 2, 3].

Mas, ela pode falhar dependendo da situação. É o que acontece com pessoas de partidos políticos e times de futebol rivais, gerando violência verbal e física. Foram descobertas alterações em regiões do cérebro que diminuem a empatia em pessoas com transtornos do espectro autista ou pessoas egoístas, narcisistas, até psicopatas e aqueles que infringem a lei ou são corruptos [4]. Estudos de ressonância magnética descobriram que essas pessoas, quando olham para rostos humanos com expressão de sentimentos, têm menos conexões entre os neurônios do córtex pré-frontal ventromedial com neurônios da amigdala cerebral [5,6,7,8].

Uma das maiores descobertas da neurociência foram os neurônios espelhos. Quando você observa alguém fazendo qualquer coisa, incrivelmente seu cérebro fica mais ativo nas áreas responsáveis pela mesma ação, como se fosse um espelho. Esses neurônios espelham movimentos e emoções. Por isso, quando vemos uma emoção de outra pessoa nosso cérebro, para entender emoção do outro, ensaia ativando a mesma emoção. Isso é a empatia [9]. O excesso de empatia também requer atenção, porque essas pessoas são mais sensíveis e se desgastam emocionalmente convivendo com pessoas mais hostis ou negativas [1].

Mas é possível treinar ou aprender empatia?
Neurocientistas tinham essa mesma pergunta e fizeram experimentos para testar que situações podem treinar a empatia. Eles descobriram que a empatia é influenciada em parte pela genética [10]. Mas, se você tem dificuldades em sentir empatia, isso pode ser aprendido ou treinado. Mostrando isso, as crianças aprendem a não prejudicar os outros para evitar sentimentos ruins associados à angústia da vítima [4].

Por incrível que pareça, estudar música é uma das maneiras de treinar a empatia. Isso porque cada música transmite um sentimento e para tocá-la é preciso entendê-lo. Entender as notas musicais também treina o reconhecimento de variações sutis do tom de voz das pessoas de acordo com suas emoções [11,12, 13].

Se você tem dificuldades em sentir empatia, isso pode ser aprendido ou treinado

Neurocientistas descobriram e publicaram na revista científica Science, uma das melhores do mundo, que quem tem o hábito de ler livros de ficção aumenta a empatia e a compreensão com outras pessoas. Isso porque para compreender os personagens e os conflitos das histórias é preciso sentir empatia por eles [14]. Ler histórias com animais para as crianças também é uma maneira de treinar essa capacidade delas [15]. Além disso, foram desenvolvidos jogos que melhoram a empatia. Neles, você é um dos personagens em situações conflitos [16].

Dançar em dupla também trabalha a empatia pelo estímulo da comunicação não verbal, que é necessária para seguir os passos do parceiro. A dança tem esse efeito até mesmo em pessoas com transtornos do espectro autista e esquizofrenia [17]. Meditar também ajuda, além de diminuir preconceitos [18, 19]. Ver outra pessoa sendo tocada ou abraçada ativa os neurônios da empatia, e isso pode ser usado como treino [20]. O contato com a natureza também é capaz de trazer melhoras, pois as cenas naturais ativam áreas associadas à empatia e altruísmo [18]. Isso tudo é possível graças a neuroplasticidade, mudanças nos neurônios causadas por uma nova experiência.

Então, leia livros, medite, caminhe na natureza, dance, estude música e observe as pessoas ao seu redor para treinar sua empatia. Assim, incluindo essas atividades diferenciadas em suas práticas, educadores podem ensinar mais do que conteúdos lógico matemáticos, biológicos ou linguísticos para as crianças e adultos. Pode-se treinar a capacidade de ser empático e transformar a sociedade.

* Leia outras descobertas da neurociência no blog da pesquisadora

Referências:

1. Decety, J., et al., 2016. Empathy as a driver of prosocial behaviour: highly conserved neurobehavioural mechanisms across species. Phil. Trans. R. Soc. B, v. 371, p. 1686, 2016. https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC4685523/pdf/rstb20150077.pdf

2. Bernardo MO, Cecílio-Fernandes D, Costa P, Quince TA, Costa MJ, Carvalho- Filho MA. Physicians’ self-assessed empathy levels do not correlate with patients’ assessments. PLoS One, v. 13, n. 5, 2018. http://journals.plos.org/plosone/article?id=10.1371/journal.pone.0198488

3. Abrishami D. The Need for Cultural Competency in Health Care. Radiol Technol., v. 89, n. 5, p. 441-448, 2018. http://www.radiologictechnology.org/cgi/pmidlookup?view=long&pmid=2979390 5

4. Blair, R.J.R., Leibenluft, E., Pine, D.S. Conduct disorder and callous– unemotional traits in youth. N. Engl. J. Med. v. 371, n. 23, p. 2207–2216, 2014. https://www.nejm.org/doi/full/10.1056/NEJMra1315612

5. Marsh AA, Finger EC, Mitchell DG, et al. Reduced amygdala response to fearful expressions in children and adolescents with callous-unemotional traits and disruptive behavior disorders. Am J Psychiatry v. 165, p. 712-20, 2008 https://ajp.psychiatryonline.org/doi/abs/10.1176/appi.ajp.2007.07071145?url_ve r=Z39.88- 2003&rfr_id=ori%3Arid%3Acrossref.org&rfr_dat=cr_pub%3Dpubmed&

6. White SF, Marsh AA, Fowler KA, et al. Reduced amygdala responding in youth with disruptive behavior disorder and psychopathic traits reflects a reduced emotional response not increased topdown attention to non-emotional features. Am J Psychiatry, v. 169, p. 750-8, 2012. https://ajp.psychiatryonline.org/doi/abs/10.1176/appi.ajp.2012.11081270?url_ve r=Z39.88-2003&rfr_id=ori:rid:crossref.org&rfr_dat=cr_pub%3dpubmed

7. Viding E, Sebastian CL, Dadds MR, et al. Amygdala response to preattentive masked fear in children with conduct problems: the role of callous-unemotional traits. Am J Psychiatry, v. 169, p. 1109-16, 2012. https://ajp.psychiatryonline.org/doi/abs/10.1176/appi.ajp.2012.12020191?url_ve r=Z39.88-2003&rfr_id=ori:rid:crossref.org&rfr_dat=cr_pub%3dpubmed

8. Sethi A, O’Nions E, McCrory E, Bird G, Viding E. An fMRI investigation of empathic processing in boys with conduct problems and varying levels of callous- unemotional traits. Neuroimage Clin. n. 18, p. 298-304, 2018. https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/pmid/29876250/

9. Hogeveen J, Inzlicht M, Obhi SS. Power changes how the brain responds to others. J Exp Psychol Gen. v. 143, n. 2, p. 755-62, 2013.
http://psycnet.apa.org/record/2013-23517-001

10. Knafo A, Uzefovsky F. Editores: Legerstee, M.; Haley, D W.; Bornstein, M. H. Variation in empathy: the interplay of genetic and environmental factors. The infant mind: origins of the social brain, p. 97 – 122. New York, NY: Guilford, 2013.

11. Laird, L Empathy in the classroom: can music bring us more in tune with one another. Music Educators Journal, v. 101, n. 40, p. 58-61, 2015
http://journals.sagepub.com/doi/abs/10.1177/0027432115572230?journalCode= mejc

12. Sousa, M. D. R., Neto, F., Mullet, E. Can music change ethnic atitudes among children? Pychology of Music, v. 33, n. 3, p. 304-316, 2005
https://www.airsplace.ca/sites/default/files/Sousa-Neto-Mullet-05.pdf

13. Parsons, C. E.; Young, K. S.; Kringelbach, M. L. Music training and empathy positively impact adults sensitivity to infant distress. Front Psychol, v. 5., p. 1440, 2014 https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC4271597/

14. Kidd DC, Castano E. Reading literary fiction improves theory of mind. Science., v. 18; 342(6156), p. 377-80, 2013. http://science.sciencemag.org/content/342/6156/377.long

15 McKnight, D. M. Overcoming “ecophobia”: Fostering environmental empathy through narrative in children’s science literature. Frontiers in Ecology and the Environment, 2010. https://esajournals.onlinelibrary.wiley.com/doi/abs/10.1890/100041

16. Belman, J.; Flanagan, M. Designing games to foster empathy. Cognitive Technology, v. 14, n. 2, 2010. http://www.tiltfactor.org/wp-content/uploads2/cog-tech-si-g4g-article-1-belman- and-flanagan-designing-games-to-foster-empathy.pdf

17. Meekums, B.; Karkou, V.; Nelson, E. A. Cochrane Database. Dance movement therapy for depression, 2015
http://cochranelibrary-wiley.com/doi/10.1002/14651858.CD009895.pub2/full

18. STELL, A. J. FARSIDES, T. Brief loving kindness meditation reduces racial bias, mediated by positive other-regarding emotions. Motivation and Emotion, v. 40, n. 1, p. 140-147, 2016. https://link.springer.com/article/10.1007/s11031-015-9514-x

19. Galante J, Galante I, Bekkers MJ, Gallacher J. Effect of kindness-based meditation on health and well-being: a systematic review and meta-analysis. J Consult Clin Psychol. v. 82, n. 6, p. 1101-14, 2014. http://psycnet.apa.org/record/2014-26574-001

20. Banissy MJ, Ward J. Mirror-touch synesthesia is linked with empathy. Nat Neurosci. v. 10, n. 7, p. 815-6, 2007. http://www.daysyn.com/Banissy_Wardpublished.pdf

21. Tam, K. Dispositional empathy with nature. Journal of Environmental Psychology. v. 35, p. 92-104, 2013.
https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0272494413000273


TAGS

socioemocionais

Cadastre-se para receber notificações
Tipo de notificação
guest

22 Comentários
Mais antigos
Mais recentes Mais votados
Comentários dentro do conteúdo
Ver todos comentários
Canal do Porvir no WhatsApp: notícias sobre educação e inovação sempre ao seu alcanceInscreva-se
22
0
É a sua vez de comentar!x