ONG leva espaço interativo a campos de refugiados
Programa da Bibliotecas Sem Fronteiras desenvolveu kit para montar ambiente criativo de ensino e com conexão à internet para pessoas em situação de emergência
por Marina Morena Costa 16 de dezembro de 2015
Dois pallets abrigam caixas e maletas coloridas que trazem acesso ao um mundo mais humano para pessoas em situação de emergência humanitária, como refugiados, moradores de áreas vulneráveis ou totalmente isoladas. O Ideas Box, programa da ONG francesa Bibliotecas sem Fronteiras, é um kit para montar um espaço de mídia interativo em qualquer lugar. As caixas transformam-se em mesas, pufes, estantes e, em 20 minutos, é possível ter um ambiente criativo de ensino, com conexão à internet.
O kit contém um laboratório digital, com 20 computadores providos de acesso à internet via satélite e programas educativos; biblioteca de livros físicos e digitais; equipamentos criativos como filmadora, máquina fotográfica, microfone, bonecos e um mini cinema. Os objetivos principais do programa são fornecer ferramentas de ensino para professores, educadores e pessoas autodidatas, despertar a criatividade artística e prover acesso à informação e à comunicação, capacitando comunidades para se reconstruir.
Javier Bermudez, do departamento de Relações Internacionais e Comunicações da Bibliotecas sem Fronteiras, conta em entrevista ao Porvir que a ideia para o programa surgiu com a experiência da instituição no Haiti, após o devastador terremoto de janeiro de 2010. A equipe percebeu que, depois de suprir as necessidades básicas dos atingidos, como comida, abrigo e saúde, pouco ou praticamente nada era feito para atender as necessidades intelectuais da população.
“Isso é muito importante, porque sabemos que os refugiados e desabrigados podem passar 17 anos em média vivendo em um acampamento. No entanto, as comunidades precisam começar a se reerguer – reestabelecendo laços sociais, construindo resiliência e pavimentando o caminho para um futuro melhor. Infelizmente, as ferramentas para isso muitas vezes não existem. O Ideas Box foi criado em resposta a essa lacuna, para permitir acesso à cultura, informação e educação para as populações em situações de emergência humanitária”, explica.
Implantado pela primeira vez em fevereiro de 2014, no Burundi (centro da África), para refugiados congoleses, o Ideas Box está presente hoje em 15 localidades, de sete países diferentes, principalmente no Burundi, na Etiópia e no Oriente Médio (Jordânia e Líbano). A ONG pretende aumentar o número para 20 unidades, crescendo na Jordânia e Líbano, para atender refugiados sírios, e na região dos grandes lagos da África.
De acordo com a ONG, avaliações no campo de refugiados do Burundi, realizadas desde o começo da ação, detectaram impactos importantes na comunidade local. O Ideas Box contribuiu para a segurança das crianças, que ficam mais vulneráveis fora do horário escolar e veem o espaço com um ambiente seguro. Também aumentou a qualidade da educação, através de uso de materiais da Khan Academy, por exemplo. Propiciou também um espaço de debates e a criação de um jornal da comunidade, contribuindo para que as pessoas se recuperassem do estado pós-traumático e superassem o estresse. O ambiente ainda se mostrou um instrumento eficaz contra boatos e o risco da desinformação, fornecendo aos refugiados acesso à informação.
Há programas do Ideas Box também em países desenvolvidos como França, Austrália e Estados Unidos, para atender populações vulneráveis, com pouco ou nenhum acesso à cultura e informação, como imigrantes, jovens carentes e comunidades indígenas. Segundo Javier, a Bibliotecas sem Fronteiras está desenvolvendo programas para a crise de refugiados na Europa. “O Ideas Box deve ser implantado em breve na Alemanha, na Grécia e nos Balcãs”, revela.
Criada em 2007, a ONG Bibliotecas Sem Fronteiras atua em contextos humanitários, promovendo acesso à informação e cultura, dando apoio a bibliotecas em todo o mundo. Desde 2012, a instituição desenvolve projetos digitais de ensino, como cursos gratuitos online e aprendizagem colaborativa, e já apoiou mais de 300 bibliotecas em todo o mundo desde a sua fundação.