Política e democracia também são temas para a escola - PORVIR
danijelala / Fotolia.com

Como Inovar

Política e democracia também são temas para a escola

Período eleitoral é bom momento para discutir política na linguagem dos jovens; confira dicas para trabalhar essa temática na escola

por Marina Lopes ilustração relógio 30 de setembro de 2014

De Brasília para a sala de aula. A poucos dias do primeiro turno das eleições, que será realizado no dia 5 de outubro, as discussões sobre política estão na agenda nacional. E por que não aproveitar o momento para trazer o debate para dentro da escola? Com uma linguagem atual e dinâmica, o tema também pode despertar o interesse de jovens e adolescentes.

Especial: Guia do eleitor para uma educação inovadora

De acordo com Elisângela Nunes, educomunicadora da Viração, organização não governamental que fomenta a divulgação de práticas de educomunição e mobilização, é necessário estimular o engajamento e a participação do jovem no que se refere a políticas públicas voltadas para juventude. “É muito importante os meninos ocuparem um espaço de discussão sobre políticas públicas, principalmente, aquelas que tratam da vida deles. Tem um monte de gente pensando sobre a vida deles, mas eles não estão lá tendo voz ativa para isso.”

Na Viração, durante as formações com jovens e adolescentes, temas como a redução da maioridade penal, análises de propostas dos candidatos, o ensino médio no país, o homicídio juvenil e a legalização do aborto estão na pauta dos encontros. Porém, tudo em uma linguagem dinâmica e atual. “Não tem muita idade [para trabalhar política com os jovens]. Se você aproxima essa temática da vida deles, consegue trabalhar qualquer coisa.” Segundo ela, uma sugestão é incentivar que eles participem mais das atividades da escola, organizando festivais, fazendo mutirões e tornando o espaço mais parecido com eles.

“Na escola é onde se cria a referência de um modelo mental de participação política”, afirmou Lucas Marques, empreendedor social do Projeto Brasil, uma plataforma que oferece ao cidadão a possibilidade de avaliar e comparar propostas políticas dos candidatos. De acordo com ele, uma escola autoritária faz com que os alunos cresçam em um modelo mental de autoritarismo, onde só é possível se organizar com uma pessoa mandando e outra obedecendo. “Quanto mais próximo ela [a escola] estiver de uma democracia, do modelo que a gente sonha, mais chances a gente tem de ter uma geração que lute por isso.”

Envolvido com política desde a adolescência, o empreendedor afirma que em um momento como o das eleições, ainda que o aluno não tenha idade para participar das escolhas políticas por meio do voto, é importante que ele já comece a ser preparado para isso.

Política na linguagem do jovem

Isaac Faria é uma prova de que o jovem pode ter voz para discutir política, participação e democracia na sua linguagem. Morador do Jardim Horizonte Azul, no distrito do Jardim Ângela, na zona sul de São Paulo, aos 21 anos ele integra o Núcleo de Jovens Políticos, um grupo que propõe o debate sobre a política voltada para a juventude. A ideia começou entre os corredores da Escola Estadual Professora Amélia Keer Nogueira. Desde o ensino fundamental, Issac e outros colegas já se reuniam, por iniciativa própria, para falar sobre política, religião, comunidade e a realidade da periferia. Após concluir o ensino médio, a ideia ganhou corpo e deu origem ao coletivo, que existe oficialmente há dois anos e meio.

Quanto mais próximo a escola estiver de uma democracia mais chances a gente tem de ter uma geração que lute por isso

“Nosso papel não é mostrar as nossas ideias, mas instigar a discussão”, define. Durante os encontros, que costumam acontecer no CEU Vila do Sol ou em outros espaços públicos da região, eles tentam trazer a discussão sobre política para uma linguagem próxima do jovem. Utilizando a música “Da Ponte Pra Cá”, dos Racionais Mc’s, por exemplo, o grupo já organizou um debate sobre a realidade e as demandas locais do bairro. “A gente tem que fazer essa construção de ensinar e conscientizar o aprendizado de forma coletiva, superando os estigmas que imputam aos jovens”.

Para Isaac Faria, é preciso desconstruir o pensamento de que política é uma coisa distante ou negativa. “Quando se fala em política, muitos acabam pensando em pessoas que já foram eleitas ou que tem um trabalho político. A gente tenta explicar para o jovem que ele também pode ser político”, mencionou, ao citar  a possibilidade de cobrar melhorias no bairro, ou até mesmo na própria comunidade escolar, organizando uma comissão de alunos.

Na escola, para incentivar que os alunos se aproximem da política, o professor pode atuar como um orientador, que ajuda a apontar caminhos para que eles se aproximem da direção, se organizem em comissões e vivam a política no seu dia a dia escolar. Segundo ele, essa aproximação deve ser feita de uma forma que dialoga com a realidade do aluno. “Não que isso consiga fazer com que saiam vereadores, deputados e presidentes; mas que possam sair jovens que acreditam nos próprios sonhos deles”, defendeu Isaac.

Um novo jeito de discutir política

“Hoje a gente tem uma juventude que não acredita muito nesse formato de política que está sendo colocado. Eles querem fazer de outro jeito”, defendeu a educomunicadora. Segundo ela, quando esse jovem percebe que as suas manifestações artísticas ou culturais (grafite, dança, música, entre outras) também representam uma forma de expressão política, eles se envolvem e se sentem participantes disso.

Na escola é onde se cria a referência de um modelo mental de participação política

Para Lucas Marques, do Projeto Brasil, é um grande engano dizer que o jovem não se interessa por política. “Eu acho que os jovens nunca tiveram tão interessados na história do Brasil, mas eles estão a fim de encontrar outras maneiras de participar da política.” Segundo Issac, do Núcleo de Jovens Políticos, essa visão de que a juventude não gosta de política acaba sendo construída e divulgada pela mídia tradicional.  “Você está o tempo todo falando para o jovem que ele não gosta daquilo. Muitas vezes ele acaba tomando aquilo como verdade”, pontuou.

4 dicas para discutir política e democracia com os jovens

Para os professores que desejam discutir o tema dentro da sala de aula  e aproveitar a proximidade do primeiro turno das eleições, o Porvir preparou algumas dicas. Confira as sugestões de atividades:

Linha do tempo significativa

Para a educomunicadora Elisângela Nunes, uma dica interessante para trabalhar o tema com os alunos é a construção de uma linha do tempo significativa. Nela, os jovens e adolescentes serão estimulados a incluírem datas e acontecimentos importantes das suas vidas, ao mesmo tempo em que inserem momentos políticos importantes para o país. “A ideia é tentar trazer essa discussão para mais perto deles, fazendo com que eles percebam que a vida deles e a história da família deles também está muito ligada ao cenário do país”, explicou. Entre os tópicos que podem ser incluídos nessa linha do tempo, podem constar a história da ditadura, as manifestações de junho, a aprovação do Estatuto da Juventude e as eleições.

Roda de discussão

Isaac Faria, do núcleo de jovens políticos, acredita que uma aula dinâmica pode ser um bom caminho para começar a trabalhar política na escola. De acordo com ele, uma sugestão de atividade interessante é a organização de uma roda de discussão com os alunos. Em um primeiro momento, o educador pode levantar questões como: “por que vocês estão aqui?”; “vocês escolheram estar aqui?”; ou até mesmo “vocês gostam de estar aqui?” A partir das respostas, ele pode estimular a percepção dos alunos sobre o que eles não gostam na escola, o que poderia ser mudado e quais caminhos para propor ideias e elaborar parcerias com a direção da escola. Outra sugestão é levar os estudantes para conhecerem a sua própria comunidade e identificarem as principais demandas locais.

Comparação de propostas de candidatos

Em qual candidato os seus alunos votariam? A plataforma do Projeto Brasil também pode servir como uma ferramenta para aproximar os alunos da política. O site reúne propostas de governo dos candidatos a presidência da república e oferece a possiblidade de comparar cada uma delas a partir de um teste cego. Ao ler cada proposta, é possível atribuir uma nota sem que se tenha proponente. No final são exibidos os candidatos que teriam maior afinidade com as suas avaliações. “Isso permite aos jovens entender quais são as afinidades políticas deles”, defendeu Lucas Marques. Segundo ele, a escola precisa olhar para a tecnologia como uma ferramenta educativa que também proporciona uma evolução para a democracia.

Análise crítica de notícias

Outra sugestão de atividade apontada pela educomunicadora Elisângela Nunes é fazer o levantamento de notícias sobre o tema para que os alunos elaborem análises críticas sobre os conteúdos, sejam das propostas dos candidatos ou das próprias notícias. “Os meninos têm um olhar muito crítico para programas de televisão e jornais”, destacou.


TAGS

educação democrática, educomunicação, interdisciplinaridade, uso do território

Cadastre-se para receber notificações
Tipo de notificação
guest

6 Comentários
Mais antigos
Mais recentes Mais votados
Comentários dentro do conteúdo
Ver todos comentários
6
0
É a sua vez de comentar!x