Estudo mapeia chances para negócio social de educação
Principais oportunidades estão nas áreas como gestão administrativa e educacional, avaliação e formação de professores
por Patrícia Gomes 24 de junho de 2013
Formação de professores em todas as etapas do ensino básico, avaliação para o ensino fundamental, oferta de cursos para o ensino técnico e criação de objetos educacionais, como jogos e plataformas de aprendizagem, para o fundamental 2. Quem quiser lançar uma empresa de educação voltada para a base da pirâmide e com impacto social ou investir em negócios sociais de educação, pode ir em frente: há, no mercado brasileiro, muita demanda para determinados produtos ou serviços educacionais e, consequentemente, muitas lacunas onde empreendedores podem atuar. É o que mostra o estudo Oportunidades em Educação para Negócios Voltados para a População de Baixa Renda no Brasil, divulgado hoje pelo Inspirare e pela Potencia Ventures.
“Esse estudo ajuda a compreender os diferentes segmentos de atuação existentes no setor de educação no Brasil e identificar onde existem oportunidades para o desenvolvimento de produtos e serviços que contribuam para elevar a qualidade da educação oferecida para a população de baixa renda”, afirma Vivianne Naigeborin, assessora estratégica da Potencia Ventures. “A grande contribuição desse levantamento é mostrar que há um setor formado por novos atores se fortalecendo. Não são mais só as empresas tradicionais, mas jovens empreendedores comprometidos com a melhoria da educação do país”, diz Anna Penido, diretora do Inspirare.
Para oferecer um panorama das áreas da educação em que existe demanda, mas onde nenhuma ou poucas empresas estão atuando, a Prospectiva analisou o contexto educacional nacional, com ênfase em seis estados: Alagoas, Bahia, Minas Gerais, Pernambuco, Rio de Janeiro e São Paulo – responsáveis por metade do orçamento público da educação do país, cerca de R$ 100 bilhões, segundo o estudo. Além disso, entrevistou especialistas em educação e também levantou 190 organizações brasileiras, majoritariamente startups lançadas por jovens de 20 a 40 anos, que desenvolvem produtos ou oferecem serviços educacionais voltados ao ensino básico, técnico e EJA das classes C, D e E.
Cada uma das organizações foi alocada em uma área ou mais de seis pré-definidas: 1) gestão, 2) formação, método e avaliação, 3) infraestrutura, 4) cursos e objetos educacionais, 5) financiamento educacional, e 6) acesso à informação. Ao fim, uma matriz mostrou onde há “buracos” e “aglomerações” (veja infográfico).
A área de cursos e objetos educacionais, como games e softwares, foi a que apresentou o maior número de iniciativas, reunindo 78% dos casos. O especialista destaca, no entanto, que o mercado é tão promissor que, mesmo onde houve maior concentração de novos atores, ainda há nichos importantes a serem explorados. “O fato de haver muitas empresas produzindo objetos educacionais não quer dizer que essa área esteja saturada. Ainda há muito espaço para a produção de material principalmente para o fundamental 2”, afirma Alberto Bueno, sócio da Prospectiva, consultoria responsável por realizar o estudo.
Na ponta de lá, com poucos atores oferecendo soluções mercadológicas, um dos destaques é a formação de professores em todas as etapas do aprendizado pesquisadas. “Existe uma tendência de construções de plataformas para entrega de conteúdo, mas tem pouca gente olhando para a formação contínua do professor, para capacitá-los a usar essas ferramentas como instrumento em sala de aula”, afirma Naigeborin, destacando que alguns produtos podem oferecer soluções a mais de um problema. “Um professor bem formado impacta na incorporação de novas tecnologias na educação. Por isso, percebemos a necessidade de que alguns produtos oferecessem ‘soluções casadas’ de forma a melhorar seu impacto, como formação de professores e gestão educacional”, completa ela.
A gestão, com 17% das iniciativas levantadas, é um dos nichos apontados pelo estudo como bom setor a ser explorado. O estudo ainda subdividiu a área em gestão administrativa, a ser usada por escolas e redes para organizar processos gerais; gestão educacional, que reúne os dados dos alunos; e gestão de insumos e materiais. “Às vezes, a discussão fica muito em torno do conteúdo, mas investir em processos de gestão pode trazer um impacto indireto muito grande no aprendizado”, avalia Naigeborin.
De acordo com Penido, vive-se um bom momento para o envolvimento de jovens empreendedores em negócios sociais educação. “Isso pode ser visto a partir de três fatores: da percepção global de que o modelo da educação está desgastado, não respondendo mais às demandas dos alunos e do mundo de hoje, do aumento dos investimentos em educação no Brasil e da forte presença de uma geração que quer fazer parte das soluções”, diz a diretora do Inspirare.
A Prospectiva, em sua análise de contexto, estimou que haja R$ 60 bilhões disponíveis para o mercado potencial de educação nos seis estados estudados e que, diferentemente de outras áreas, como sáude, há menos entraves regulatórios para o surgimento de novas iniciativas. Entretanto, as startups enfrentam dificuldades para vender para grandes mercados ou governos, principalmente quando é preciso passar por processos licitatórios. “Ou a empresa faz uma parceria para que seu produto seja adotado no município ou fica muito difícil para uma empresa pequena concorrer com as grandes”, afirma Bueno.
Naigeborin concorda que o mercado ainda tem muito a crescer. “O que nós vemos ainda são soluções muito pulverizadas. Em educação, olhar para um aspecto não resolve, já que os problemas são complexos e interligados. É preciso que o empreendedor tenha uma visão mais sistêmica do quadro”, avalia. A concentração de empresas em cada uma das áreas pode ser conferida no infográfico abaixo.
Critérios de sucesso
Para que os novos empreendimentos possam aproveitar o momento e ultrapassar os entraves, o estudo considerou pontos importantes para que um negócio social em educação seja bem sucedido: o potencial de impacto social, a sustentabilidade financeira, a atuação em regiões de alta demanda e poucos entraves regulatórios, e a escolha de produtos que possam ser oferecidos pela iniciativa privada. “Esse estudo é destinado principalmente àqueles que querem empreender nessa área. Ele aponta lacunas e sugere caminhos para desenvolver negócios inovadores e que, efetivamente, gerem impacto social”, diz Naigeborin.