Professor leva metodologias ativas e tecnologia para a aula de geografia - PORVIR
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Diário de Inovações

Professor leva metodologias ativas e tecnologia para a aula de geografia

Aprendizagem colaborativa, sala de aula invertida, recursos educacionais abertos e plataforma virtual substitui a aula expositiva em Curitiba (PR)

por Fernando Roberto Amorim Souza ilustração relógio 25 de julho de 2018

Trabalhar geografia limitado à sala de aula é, ao mesmo tempo, desafiador para o docente e desmotivador para o estudante. Tudo fica na teorização e no conteudismo, cujo resultado é duvidoso. A partir dessa afirmação e da baixa taxa de aprendizagem na minha disciplina, esbocei um método diferenciado para o ensino de geografia apoiado pela tecnologia, abolindo as aulas expositivas.

No Instituto Federal do Paraná, em Curitiba (PR), usei concepções da aprendizagem colaborativa (deixei de ser coadjuvante e passei colaborador no processo de aprendizagem do estudante), da sala invertida (os estudantes buscam compreender determinado assunto antes das aulas), dos Recursos Educacionais Abertos (meu trabalho foi garimpar e seleciona na internet vídeos, apresentações, textos, entre outros e disponibilizar para os estudantes numa plataforma de aprendizagem virtual) e o uso de uma plataforma de ensino virtual (no caso, a Edmodo).

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Como fiz? Para exemplificar, vou tomar como base o 1º ano do ensino médio – o mesmo processo foi feito para o 2º e 3º ano. Primeiro, a partir da ementa do curso relativa à série, criei um itinerário pedagógico elencando dez eixos que cada aluno deveria estudar ao longo do ano letivo para contemplar a ementa da série.
Com a ajuda do professor de matemática, fizemos uma tabela de modo a dividir a turma em dez grupos (como as turmas são de 40 alunos, ficaram 4 alunos em cada grupo). O professor de matemática usou os fundamentos da “análise combinatória”, de modo a garantir que todos os alunos estudem os dez eixos até o final do ano sem repetição.

Dividi o ano letivo em dez períodos, que chamo de ciclos, ou seja, considerando a obrigatoriedade de 200 dias letivos, cada ciclo dura 20 dias letivos. Mais uma vez aqui entrou o professor de matemática, que na tabela fez uma associação de forma que todos os alunos passassem por todos os ciclos e todos os temas num revezamento de colegas nos grupos sem que houvesse repetição.Com isso, fiz uso da plataforma Edmodo para o cadastrando todos os alunos. Na biblioteca, inseri os REAs que selecionei na internet, com todos os assuntos/conteúdos dos eixos. A plataforma virou um ponto de encontro de geografia, mesmo nos horários distintos das aulas.

Percebi claramente que um determinado assunto passado de aluno para aluno, a compreensão é muito mais fácil

A geografia tem duas aulas por semana, entretanto, é impossível dar uma aula expositiva pelo fato de estarmos trabalhando dez temas em dez grupos distintos ao mesmo tempo. Nos dias das nossas aulas, os alunos aproveitavam para debater o assunto com os outros colegas e usam todos os espaços da escola (pátio, biblioteca etc), poucos ficam efetivamente na sala de aula. Coube a mim visitar todos os grupos para auxiliar no debate.

Para facilitar os estudos nos grupos, dividi cada eixo em quatro temas. Cada aluno estuda um tema e no dia da aula de geografia “ensina” aos demais colegas o que aprendeu com aquele assunto (um ajudando ao outro). Vale lembrar que os alunos já vêm preparados sobre o assunto.

A novidade pra mim foi perceber as diferentes formas de estudar e ensinar aos colegas do grupo. Percebi claramente que um determinado assunto passado de aluno para aluno, a compreensão é muito mais fácil. Várias estratégias foram utilizadas por eles para “ensinar” aos colegas, indo desde vídeos a jogos eletrônicos (selecionado por eles mesmos).

No final de cada ciclo, o grupo precisa fazer um “resumão” do que aprendeu e postar na plataforma. Esse material, um REA, servirá para ajudar a pesquisa dos outros alunos que vão estudar otema no outro ciclo.

Na autoavaliação, o aluno descreve o que aprendeu, como aprendeu, fala de suas dúvida e também da dificuldade e do comprometimento dos outros integrantes do grupo

Outra coisa importante é a interdisciplinaridade, quando um assunto envolvia outra disciplina, os próprios alunos abordavam o professor responsável

Na autoavaliação, o aluno descreve o que aprendeu, como aprendeu, fala de suas dúvida e também da dificuldade e do comprometimento dos outros integrantes do grupo

A avaliação é feita a partir do trabalho que o grupo posta na plataforma e de uma autoavaliação (no final do ciclo). Na autoavaliação, o alunodescreve o que aprendeu, como aprendeu, fala de suas dúvidas e também da dificuldade e do comprometimento dos outros integrantes do grupo. É na autoavaliação que verifico os avanços. Eles mesmos “deduram” o colega que não contribuiu. Nesses casos, relaciono esses alunos e chamo para atendimento individualizado, para não avançar com nenhuma dificuldade.

Óbvio que em trabalho assim encontrei dificuldades. A primeira foi em relação à resistência de alguns alunos. Identifiquei que ela vinha daqueles que não gostavam de ler e fazer pesquisas, ou seja, de ter trabalho. A outra surgiu durante a produção do trabalho do final do ciclo. Alguns grupos combinavam que cada integrante escreveria uma parte do trabalho e depois postaria na plataforma sem que houvesse a socialização entre eles. Nesse caso, decidi que todo trabalho, além de ser postado na plataforma, deveria ser apresentado oralmente a mim. Contudo, o ganho pedagógico foi expressivo. A maneira de aprender, na linguagem da maioria deles, passou a ter mais sentido por associar a vida prática aos estudos da geografia.


Fernando Roberto Amorim Souza

Professor da educação básica, técnica e tecnológica do Instituto Federal do Paraná, licenciado em geografia e mestre em gestão e avaliação da educação pública, atuando na docência do ensino médio. Atualmente está se especializando em neuroaprendizagem. Pesquisador da educação a distância na educação profissional e uso das tecnologias na educação.

TAGS

aprendizagem baseada em projetos, aprendizagem colaborativa, ensino híbrido, ensino médio, tecnologia

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