Esporte radical para empoderar jovens da periferia
Na pedagogia da aventura, alunos fazem atividades como escalada, canoagem e parkour para aprender a resolver problemas
por Vagner de Alencar 5 de fevereiro de 2013
Em vez de quadro e giz e uma sala de aula fechada, rafting, camping e rapel. Essa é a ideia da pedagogia da aventura, metodologia que tem como foco aulas ao ar livre e experimentação por meio de atividades radicais. A proposta vem sendo realizada desde o ano passado com mais de 200 jovens, de 15 a 29 anos, de escolas públicas do Campo Limpo e Capão Redondo, bairros da periferia da zona sul de São Paulo. A iniciativa faz parte do Projeto Azimute, desenvolvido em parceria do Instituto Asas com a OBB (Outward Bound Brasil), ONG que adota a metodologia da educação experiencial ao ar livre como forma de empoderar as pessoas. Neste ano, 180 estudantes dessas comunidades participarão do projeto que irá selecionar os jovens em março.
De acordo com Fabi Pereira, coordenadora de projetos do Instituto Asas, no Brasil, o termo educação pela aventura surgiu em referência à educação física escolar, que envolve a prática de esportes, principalmente os de ação – como parkour ou skate. Fora do país, o termo, também conhecido como educação experiencial ao ar Livre, tem característica mais ampla, já que envolve não apenas os esportes de aventura, mas atividades voltadas ao meio ambiente. “A beleza dessa metodologia é o potencial que ela tem de ajudar os jovens a transferir os aprendizados na natureza, como as escolhas dos caminhos e suas consequências, para a própria vida. Eles passam a entender melhor se estão ou não preparados para enfrentar os desafios”, diz Fabi.
No projeto, os alunos passam por encontros divididos em duas modalidades de conteúdos batizadas de hardskills e de softkills. Na primeira, os jovens focam na preparação para a vivencia ao ar livre, já que precisam desenvolver experiências como higiene pessoal, leitura de mapas e bússolas, aprender a montar mochilas, barracas e redes de dormir, além de práticas de produção de alimentos e segurança pessoal.
No mês passado, por exemplo, grupos de jovens passaram cinco dias na Serra da Mantiqueira – região montanhosa há 90 km de SP – onde realizaram atividades de escalada e rapel. Já na represa do Guarapiranga, eles aprendem as técnicas da canoagem, buscando trabalhar, principalmente, a comunicação interpessoal. É o caso de Cosme Junho Santa Clara de Sousa, 17, aluno da escola estadual deputado Hugo Lacorte Vitale. “As atividades me ajudaram a ter mais responsabilidade, atenção comigo e com os outros, além aprender como conviver com outras pessoas de meios diferentes”, diz.
Já na outra modalidade, a softskills, pelo menos duas vezes por semana, os jovens participam de oficinas nas escolas ou em espaços como os CEUs (Centro Educacional Unificado) de seus bairros. Nessas reuniões, junto com os educadores, desenvolvem aspectos inter e intrapessoais: comunicação interpessoal, projeto de vida e resolução de problemas. “Ao sair da sua zona de conforto, experimentando esportes radicais, os jovens passam a viver em um mini-sociedade, onde precisam desenvolver regras de convivência, trabalho em equipe e o conhecimento sobre si, além de desenvolvem suas capacidades para resolver problemas e estabelecer comunicação em momentos de conflito”, afirma.