Uma rede de escolas planejada por empresa de design
Na Innova Schools, no Peru, desde a formação de professores até infraestrutura foram definidos pela norte-americana IDEO
por Marina Morena Costa 27 de novembro de 2014
Com arquitetura moderna, colorida, salas de aula multifuncionais e integradas com tecnologia, logo dá para perceber que a rede de escolas peruana Innova Schools oferece um modelo de ensino diferente. O notável é que tudo ali, desde o formato das cadeiras, até a capacitação dos professores, foi projetado por uma empresa norte-americana de design.
Em 2011, a IDEO, famosa por ter projetado o primeiro laptop e o primeiro mouse da Apple, montou um grupo de grupo de arquitetos, engenheiros mecânicos, etnógrafos, designers de comunicação e especialistas em educação. Os profissionais desembarcaram de São Francisco, na Califórnia, em Lima, para estudar a cultura local e desenhar não somente a infraestrutura, como também a metodologia inovadora de ensino e o modelo de negócio da instituição. Lançada em 2012, a Innova Schools já conta com 29 unidades e mais de 13 mil alunos.
O projeto foi encomendado pelo bilionário empresário peruano Carlos Rodriguez-Pastor, presidente da Intercorp, conglomerado de empresas que controla a Innova. A missão dada ao grupo era criar um modelo inovador de escolas bilíngues particulares, a um baixo custo para os pais.
Segundo reportagem do New York Times, Rodriguez-Pastor exigiu que o sistema educacional fosse financeiramente rentável e pudesse crescer rapidamente para até 200 escolas em todo o Peru e, possivelmente, em países vizinhos. A mensalidade da Innova não passa de US$ 130 (cerca de R$ 325), afirma o jornal.
Pode parecer curioso uma empresa de design ter projetado a escola, mas cada vez mais empresas dessa atividade têm trabalhado na construção de sistemas complexos para governos e organizações. A IDEO, por exemplo, reinventou o sistema de Singapura para a emissão de vistos de trabalho e o processo da Cruz Vermelha para o recrutamento de doadores.
Em seu site, a IDEO lista os pilares inovadores de concepção da Innova: desenvolver a autoaprendizagem, unidades com construções multimodais, que proporcionam flexibilidade aos educadores, material de apoio para os professores (ambiente virtual com mais de 18 mil planos de aula da nova didática) e o modelo de negócio integrado (todas as escolas da rede utilizam as mesmas ferramentas).
A metodologia que norteia o trabalho da rede é o ensino híbrido (blended learning), na qual, a partir do quarto ano, é combinada a experiência prática com a aprendizagem digital. Em determinadas situações, os alunos trabalham em grupos de até seis alunos em tarefas e atividades de alta exigência, orientadas pelo professor. Na aprendizagem individual (“Solo Learning”), o estudante trabalha sozinho, no seu ritmo, em um computador próprio, realizando exercícios para fixar o conteúdo aprendido em grupo. Segundo a Innova, a aprendizagem individual é responsável por 30% do tempo dos alunos.
O foco da metodologia é o desenvolvimento das habilidades e o trabalho em equipe. Os alunos são estimulados a explicar suas ideias, argumentar e defender seu ponto de vista, aprender continuamente e por conta própria, colaborar entre si e assumir papéis de liderança. O método busca estimular todos os sentidos da criança (não apenas a audição, como acontece nas aulas expositivas), e a aprendizagem não é focada no professor e sim no aluno, de forma que cada estudante pesquise e gere seu próprio conhecimento.
Do ponto de vista de estrutura, as salas de aula foram projetadas para estimular melhor aprendizagem. As carteiras dos alunos têm bordas triangulares e, combinadas com as de outros colegas, formam mesas circulares. Algumas salas de aula têm paredes removíveis, o que permite integrar turmas e fazer com que professores circulem entre as salas. Todas dispõem de lousa eletrônica e os estudantes trabalham com computadores individuais.
“Os professores que entram nesses prédios tem todo um background sobre essa complexa infraestrutura”, diz Sandy Speicher, coordenadora do projeto pela IDEO e diretora de práticas educacionais da empresa, em entrevista ao New York Times.
Ainda de acordo com o jornal, a metodologia tem dado resultados expressivos. No último ano, 61% dos alunos da Innova conseguiram proficiência em matemática em seus níveis – marca bem acima da média nacional do Peru, que é de 17%. Em leitura e compreensão de texto, a proficiência chegou a 83% na escola, frente a 33% da média nacional.