O que determina o bom desempenho de um grupo?
Pesquisadores americanos tentam entender as características individuais que impactam atividades colaborativas
por Fernanda Kalena 20 de janeiro de 2015
A capacidade de trabalhar em grupo é uma competência cada vez mais importante na sociedade moderna e é frequentemente listada entre as habilidades socioemocionais que escolas e educadores devem desenvolver em seus alunos. Mas não é de hoje que psicólogos estão estudando o comportamento das pessoas quando requeridas a trabalhar em equipe.
No último domingo, o jornal americano The New York Times, publicou um artigo chamado Why Some Teams Are Smarter Than Others (Por que algumas equipes são mais espertas do que os outras, em livre tradução) assinado por três professores universitários que conduziram estudos sobre o tema. Eles analisaram os fatores que levam alguns grupos a terem melhor desempenho que outros. E o resultado deixou até eles mesmos surpresos.
Eles partiram da seguinte questão: há tempos psicólogos sabem que a capacidade cognitiva dos indivíduos é variável. Será que quando trabalhando em grupos, alguns também são mais espertos que outros? Para responder a esta pergunta, um estudo foi conduzido em 2010, agrupando 697 participantes voluntários em equipes de dois a cinco membros. Cada grupo teve de completar uma série de tarefas como análise lógica, brainstorming, coordenação, planejamento e raciocínio moral.
Segundo o artigo, psicólogos medem a inteligência individual pela sua generalidade. Por exemplo, pessoas com um bom vocabulário também tendem a ter bons conhecimentos de matemática, embora pensemos nessas habilidades como distintas. O estudo mostrou que esse mesmo tipo de inteligência geral também se aplica à equipes, pois, em média, grupos que se saíram bem em uma tarefa, foram bem em outras também. “Em outras palavras, algumas equipes foram simplesmente mais inteligentes do que outras”, relata a publicação.
O próximo passo foi tentar definir quais as características levaram a esses resultados. Cada participante realizou um teste individual de QI, mas os grupos que possuíam uma média de QI’s mais elevada não foram melhor em tarefas de inteligência coletiva do que os com QI médio mais baixo. Nesse momento, a motivação e a extroversão de membros dos times também não mostraram ter algum impacto no resultado final.
Curiosamente, as equipes mais inteligentes se destacaram por três características. A primeira mostra que esses grupos trabalharam de forma mais equitativa durante as discussões entre os membros, ao invés de deixar uma ou duas pessoas dominarem os debates. Em segundo lugar, os membros dos grupos que se destacaram tiveram uma maior pontuação em um teste chamado de Reading the Mind in the Eyes (lendo a mente pelos olhos, em livre tradução), que mede o quanto as pessoas conseguem ler e interpretar emoções dos outros a partir de imagens de rostos onde apenas os olhos ficam visíveis. Por fim, outra característica em comum destas equipes é que elas possuíam um maior número de mulheres do que de homens. Esse último item foi parcialmente justificado pelo fato de que as mulheres costumam, em geral, ir melhor no teste de leitura de emoções do que os homens.
Interação online
No mês passado, os autores do estudo sobre o trabalho em grupo publicaram o resultado de um outro, mais recente, que contou com um novo elemento: a interação online. Para este, foram 68 grupos, sendo que metade realizou as tarefas presencialmente e a outra metade, pela internet, sem poder ver seus companheiros e equipe.
“A colaboração online está em ascensão, com ferramentas como o Skype, Google Drive e o bom e velho email, que permite que grupos que nunca se encontram, executem em conjunto projetos complexos. Queríamos ver se os grupos que trabalharam online demonstrariam ter inteligência coletiva e se a capacidade social teria algum impacto já que as pessoas se comunicaram somente através de mensagens escritas em um browser”, relatam os pesquisadores.
Os resultados mostram que os ingredientes determinantes para uma equipe ter um melhor desempenho mantiveram-se os mesmos, independente do modo de interação. Sim, a leitura de emoções também apareceu como fator importante mesmo para grupos que trabalharam online. “O que determina a inteligência de um grupo não é apenas a habilidade de ler expressões faciais, mas uma habilidade mais geral, conhecida como ‘Theory of Mind’ (ou teoria da mente, em português), que considera e acompanha o que as pessoas sentem, sabem e acreditam”, concluem.