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Coronavírus

A culpa é do mau uso da tecnologia

Momento exige que escolas entendam a necessidade de um trabalho conjunto envolvendo curadoria, flexibilidade e inteligência, professores, pais e alunos

por Álvaro Cruz ilustração relógio 13 de maio de 2021

Em maio de 2020, 35% dos professores ouvidos em pesquisa do Instituto Península se diziam cansados. Em agosto já eram 46% e em novembro 53%. Com o agravamento da pandemia e o abre e fecha das escolas, é fácil supor que esse índice subiu ainda mais. As famílias também estão esgotadas. Mais de um ano depois, tendo que se dividir entre o trabalho remoto, as tarefas domésticas e o auxílio aos filhos nas atividades escolares, além de cansados os pais estão preocupados com os prejuízos no aprendizado.

Da mesma forma, alunos de todas as idades estão abatidos, e os números da evasão são prova disso. Segundo o Datafolha, em 2020, 4 milhões (8,4%) dos estudantes com idade entre 6 e 34 anos matriculados antes da pandemia abandonaram a escola. Estão todos exaustos e em grande parte a culpa é da tecnologia. Ou melhor, das aulas online. Professores não aguentam mais transmitir e alunos não aguentam mais assistir aulas que foram pensadas para o olho no olho e que digitalmente perdem o encantamento. A pandemia mostrou que não basta o professor ir para a frente da câmera. Por mais louvável que isso seja, o tempo mostrou que reinventar a aula não foi suficiente e em muitos casos não funcionou.

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Muita tecnologia sem contexto pedagógico adequado também não resolve a questão do ensino e aprendizado. Ao contrário, pendurar várias soluções de software sem uma curadoria para eleger os mais indicados a cada etapa do processo de aprendizagem do aluno e sem flexibilidade para mudar de ferramenta em função das necessidades tanto presenciais como a distância, favorece o mimetismo da aula presencial no mundo virtual. Se repete o caso da TV, que no início não percebia as grandes possibilidades que a nova mídia oferecia e simplesmente filmava uma peça de teatro, por exemplo. As novas tecnologias são uma nova mídia e devem ser usadas na medida da necessidade e no tempo adequado. Hoje, simular aulas presenciais no mundo virtual deixa alunos entediados, a família desesperada e os professores encurralados.

No momento, educadores inovadores se debruçam para eleger soluções que permitam atividades diferentes online, complementem o ensino e simultaneamente oferecem informações relevantes sobre o aprendizado do aluno. Não se trata de incluir mais um ambiente virtual de aprendizagem ou provas online, e sim de, através do uso de softwares e plataformas educacionais flexíveis, permitir que o aluno corrija sua trilha de aprendizagem em casa, em momentos assíncronos, off-line mas com orientação do professor, e dê informações para esse mesmo professor mudar sua prática educacional.

A sala de aula hoje é qualquer lugar. Seja quando está conectado nos momentos de estudo ou quando está realizando tarefas de aprendizagem, o aluno também está tendo aula. Aula não é mais apenas quando o professor está transmitindo conteúdo. Quando um aluno está trabalhando com o Aprimora, Árvore Livros, Elefante Letrado ou outra solução que permita ao professor avaliar seu desempenho em tempo real e mudar a rota, ele está tendo uma aula muito mais atraente. Não se trata de colocar em prática todas as tecnologias, mas, sim da tecnologia mais adequada ao momento de cada aluno e turma. Não se trata de reproduzir a sala de aula através da tela do computador e, sim, de reproduzir experiências de aprendizagem por meio de softwares, plataformas e soluções em que o aluno realiza tarefas de escrita e leitura, por exemplo, complementa seu aprendizado e gera informações relevantes para o professor.

Para isso, é fundamental uma curadoria que ajude a escola a selecionar as melhores ferramentas de apoio à aprendizagem, aquelas que garantam ao aluno participar de simulações sozinho ou em grupo e tragam para o momento online com o professor suas experiências e reflexões. A flexibilidade também é indispensável. Muitas escolas têm adotado soluções em contratos longos, de 2 a 3 anos, esquecendo que os alunos e as tecnologias irão mudar e exigirão novas ferramentas. Por último, a escola deve optar por tecnologias em que o professor não precise necessariamente estar presente para usá-las. São tecnologias acessórias, em que o aluno aprende e vai para a aula online mais engajado, tornando aquele momento muito mais significativo.

Estão todos cansados e se as escolas não entenderem a necessidade de um trabalho conjunto envolvendo curadoria, flexibilidade e inteligência, professores, pais e alunos chegarão à exaustão. Aulas presenciais transmitidas ao vivo pela internet, ninguém aguenta mais.


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