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A importância da empatia em tempos de cancelamento virtual

Em transmissão online do Congresso Socioemocional LIV, Cláudio Thebas, Ingrid Guimarães e Renato Noguera debatem a “cultura do cancelamento” e o potencial das habilidades socioemocionais em fortalecer o diálogo

Parceria com LIV

por Luísa Pécora ilustração relógio 5 de junho de 2020

Praticar a empatia e desenvolver habilidades socioemocionais ganham importância em tempos de “cultura do cancelamento”. Esta ideia pautou um dos debates do Congresso LIV Virtual, versão online do Congresso Socioemocional LIV (Laboratório Inteligência de Vida), realizado nos dias 28 e 29 de maio. Mediado pelo psicólogo e consultor pedagógico do LIV Phelipe Ribeiro, o debate discutiu o fenômeno do “cancelamento virtual”: quando uma pessoa, geralmente uma celebridade, é boicotada por dizer ou fazer algo que determinado grupo considera errado.

Para os debatedores do LIV, o fenômeno reflete características sociais do mundo offline, entre elas a dificuldade de se aceitar diferenças. “O cancelamento tem a ver com querer ficar próximo daquilo que se parece com a gente e com a dificuldade de compreender que todo encontro humano tem conflito”, afirmou Renato Noguera, doutor em filosofia pela UFRJ e coordenador do Grupo de Pesquisas Afro Perspectivas, Saberes e Infâncias (Afrosin). Para ele, a cultura do cancelamento pressupõe uma objetificação das pessoas: quando alguém deixa de ser sujeito, não é preciso sentir empatia. “É uma desumanização que parte de um protocolo político, econômico, social e histórico que faz com que a gente trate algumas pessoas como objeto, inclusive as que admiramos.”

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Parte do setor artístico, um dos mais impactados pela cultura do cancelamento, a atriz Ingrid Guimarães acredita que o “endeusamento” de celebridades alimenta este novo fenômeno virtual, pois o fã que coloca o artista num pedestal sente-se também capaz de tirá-lo dali. “Há uma inabilidade de perceber que o outro é humano como você, muda de ideia como você, às vezes erra e às vezes acerta como você. Hoje o que vemos é [uma divisão entre] o vilão e a mocinha, num reflexo do que se vive na política”, comparou. “Mas quando julgamos uma pessoa por uma opinião, eliminamos qualquer chances de conhecê-la. O cancelamento não abre diálogo em nenhum momento.”

O educador, escritor e palhaço Cláudio Thebas citou o ato de “ficar de mal” como exemplo de como as crianças sabem resolver conflitos considerando fatos específicos. “Ficar de mal não é cancelar: é suspender a relação naquele momento para dizer que algo machucou”, explicou. “Perdemos a habilidade de falar ‘isso machucou’ e associamos o que a pessoa fez com quem ela é: se me machucou, é uma pessoa ‘machucante’. Mas quando a gente reduz a pia ao prato, é mais fácil limpar.”

Conversar não é convencer o outro a pensar como eu penso, é reconhecer que o outro pode pensar diferente desde que isso não seja um crime

Solidariedade responsável

Os participantes concordaram que a busca por diálogo não deve ser entendida como a aceitação de qualquer comentário como mera diferença de opinião. Para Noguera, deve-se praticar uma “solidariedade responsável”, mas não “compulsiva”. “Conversar não é convencer o outro a pensar como eu penso, é reconhecer que o outro pode pensar diferente desde que isso não seja um crime. A gente não pode ter pensamentos contra a democracia e os direitos humanos, porque aí chega num nível ilegal, imoral, incorreto”, explicou.

Ingrid defendeu uma abordagem caso a caso, dizendo que alguns cancelamentos, sobretudo ligados a racismo e machismo, tinham de ser feitos. Ela citou o exemplo do produtor americano Harvey Weinstein, condenado à prisão após ser acusado de assédio e abuso sexual por dezenas de mulheres. “Foi um caso de Hollywood que ecoou lindamente no meu meio”, disse a atriz. “Há cancelamentos que geram movimentos de mudança importantes.”

Thebas completou dizendo que há uma distinção entre compaixão e complacência: “Dá para ter compaixão com pessoas, mas não dá para ser complacente com violência. É importante interromper o gesto violento, para não ser cúmplice e motor deste gesto.”

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Uma das maneiras mais importantes de resolver dificuldades é se colocar no lugar do outro

Empatia

Para os panelistas, a empatia é uma ferramenta útil por nos fazer reconhecer que existimos não de forma isolada, mas em relação a outras pessoas. “Uma das maneiras mais importantes de resolver dificuldades é se colocar no lugar do outro. Isso faz com que a gente consiga uma relação mais autêntica e sem tanto medo”, afirmou Barbosa. “A empatia aumenta o grau de confiança, e sem confiança nenhum relacionamento pode ser estabelecido.”

No entanto, para muitas pessoas a palavra “empatia” é quase nova: Ingrid, por exemplo, disse não se lembrar de ouvir o termo na infância ou na escola. “Talvez o processo empático seja algo que se aprenda, que se treina”, afirmou a atriz, que é mãe de uma aluna que participa do LIV. “É muito legal a escola ter esse espaço, que é tão importante quanto a matemática – até para [o aluno] aprender melhor a matemática.”

Claudio também defendeu um currículo escolar que inclua habilidades socioemocionais, e disse que uma sociedade empática deve educar as crianças a escutar. “Para escutar o outro, precisamos abdicar do poder sobre o outro: naquele momento a língua dele vale e o gesto dele vale”, explicou. “A empatia começa pela escuta.”

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redes sociais, socioemocionais, tecnologia

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