Alunos produzem peça de teatro para estudar clássicos de literatura - PORVIR
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Diário de Inovações

Alunos produzem peça de teatro para estudar clássicos de literatura

Professora de Vertentes (PE) conta como usou o teatro para promover o letramento literário e a exploração de emoções a partir das obras

por Ilka Eliane de Albuquerque Cavalcante ilustração relógio 17 de julho de 2019

A escola vem enfrentando grandes problemas no âmbito da leitura, principalmente quando se trata de textos literários no ensino médio. Ler não é apenas passar os olhos pelo que está escrito, significa questionar o mundo e a si próprio. O universo imaginário que a literatura nos traz, faz com que nos transportemos para épocas, locais e situações diferentes.

Um poema e um romance podem provocar no educando uma gama de sentimentos, questionamentos e a descoberta de um novo mundo. É através do contato com a literatura que o aluno descobre as múltiplas faces da linguagem. Neste sentido, senti a necessidade de mudar a concepção do ensino de literatura que o aluno ao longo dos anos desenvolveu, que era aquela de reduzir o letramento literário apenas ao estudo de períodos, autores e obras, sem uma análise crítica, tornando a matéria estática. Por isso, pensei numa mudança de perspectiva para que o aluno percebesse a importância da disciplina que é fundamental para o entendimento cultural e pessoal do ser humano.

No intuito de incentivar o hábito da leitura dos clássicos da Literatura Brasileira, introduzi nas turmas de 3º ano do ensino médio da Escola de Referência Gil Rodrigues, de Vertentes (PE), o projeto Teatro na escola: a literatura sob um novo olhar, que tem como finalidade promover a liberdade de expressão e permitir aos estudantes desenvolver e descobrir suas próprias emoções, sentimentos e habilidades com relação à leitura.

A princípio, esbarrei no desinteresse do alunado quando lhes foi pedido para fazer a leitura das obras selecionadas. Para contornar o problema, me utilizei da tecnologia, levando para sala de aula filmes, séries de tv e procurei trabalhar com poemas que foram musicados.

Primeiramente, as turmas foram divididas por autor. Entre si, os estudantes formavam três grupos: os que apresentariam as obras, os responsáveis pela construção dos cenários e os que participariam da peça. Feitas as devidas divisões de tarefas, partimos para a prática com utilização em sala de aula de filmes sobre a biografia dos autores, programas como De Lá pra Cá, da TV Escola, que aborda de forma dinâmica as obras literárias. Os recursos utilizados foram audiovisuais, xerox de textos diversos, pesquisa na internet (YouTube) livro didático e o auditório da escola.

Cada subgrupo ficaria responsável por uma parte da apresentação final. No desenvolvimento do protagonismo juvenil, os estudantes criaram os convites que foram mandados para as outras escolas, o banner com as atividades a serem realizadas a pauta, com os horários e a sequência de apresentações.

O teatro foi realizado no auditório da escola de Referência Gil Rodrigues, em junho de 2018, no período da manhã e tarde, para os alunos da própria escola, bem como os convidados e alguns pais que compareceram ao evento. Os participantes puderam assistir a apresentações teatrais, que eram intercaladas com as explicações sobre a obra e também conheciam um pouco sobre a vida do autor apresentado.

Para a avaliação da aprendizagem foi utilizada a observação diária da construção das atividades do projeto. Durante os ensaios também era observada a participação, comportamento e comprometimento dos estudantes. Um aspecto positivo foi que os estudantes não ficavam atrelados à leitura de um papel, eram desenvoltos e expunham os seus sentimentos na apresentação das obras e da peça. Eles não só liam, mas ressignificavam o texto.

A avaliação maior veio do público espectador das apresentações, pois todas as vezes que os alunos recebiam aplausos, vinha a sensação de dever cumprido. Os estudantes aprenderam o valor do trabalho em grupo e do esforço pessoal. Aprenderam que se houver dedicação e zelo naquilo que se faz, terão o seu trabalho reconhecido.

Pode-se dizer que o êxito da experiência foi alcançado, já que o projeto está na sua segunda edição e caminhando para a terceira. Esta última requer alguns ajustes, como a introdução de novos autores e a possibilidade de acontecer um recital com poesias elaboradas pelos próprios estudantes.

Aprendi com esta experiência que ao educando precisa ser dada a devida oportunidade de expor o seu conhecimento e seus talentos pessoais. Às vezes àquele aluno desinteressado basta um “empurrãozinho” para que aflore nele o potencial escondido e isto ocorreu durante as apresentações do projeto. Os alunos tidos como sem foco foram os que mais me surpreenderam.


Ilka Eliane de Albuquerque Cavalcante

Graduada em letras (português/inglês) e pós graduada em língua portuguesa. Professora efetiva de língua portuguesa da rede estadual de Pernambuco, de 2006 até o momento, com trabalhos publicados em mostras de inovações pedagógicas.

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