Quem duvida que valorizar os professores é o caminho para uma educação de qualidade?
De um lado, exigimos melhorias na educação. Do outro, as condições para os professores são desestimulantes. Valorizar a profissão docente é melhorar o ensino, defende o professor Deivide Nascimento, embaixador do Porvir, neste artigo
por Deivide Nascimento 1 de outubro de 2024
Hoje, convido vocês, leitores do Porvir, a uma reflexão urgente sobre a realidade da educação em nosso país, com um olhar especial para a figura central desse processo: o professor. Recentemente, uma reportagem da Tamiris Gomes, publicada na CNN Brasil, destacou os desafios enfrentados pelos docentes em nosso sistema educacional, levantando questões importantes que merecem nossa atenção e ação imediata.
Ao observarmos o cenário educacional brasileiro, deparamo-nos com um paradoxo alarmante. Exigimos constantemente a melhoria dos índices educacionais, mas, simultaneamente, submetemos nossos educadores a condições que dificultam, quando não impossibilitam, seu próprio desenvolvimento profissional. Como podemos esperar avanços significativos quando nossos professores se veem presos em uma rotina extenuante, com cargas horárias que deixam pouco ou nenhum espaço para o aprimoramento pessoal?
Esta questão nos leva a um ponto crítico: o estímulo à qualificação docente. Em um cenário ideal, o investimento em educação continuada deveria ser não apenas incentivado, mas ativamente recompensado. No entanto, o que observamos é um sistema – tanto público quanto privado – que raramente traduz esse esforço adicional em reconhecimento tangível. No sistema público, a progressão na carreira que valoriza a qualificação é frequentemente lenta e burocrática. Já no sistema particular, encontramos poucas iniciativas que realmente premiam essa qualificação adicional.
Este descompasso entre esforço e reconhecimento cria um ciclo vicioso, no qual a busca pela excelência, muitas vezes, se torna um fardo pessoal do educador em vez de um objetivo institucional compartilhado. A falta de reconhecimento e de remuneração adequada não apenas desestimula a busca por qualificação, mas perpetua um ciclo de estagnação que afeta diretamente a qualidade do ensino oferecido.
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Ao voltarmos nosso olhar para as instituições de ensino, deparamo-nos com uma faceta profundamente preocupante: a crescente opacidade e a priorização do marketing em detrimento da qualidade educacional real. É alarmante observar a proliferação de escolas que parecem mais empenhadas em criar uma fachada impecável do que em fomentar um ambiente educacional genuinamente enriquecedor.
A instalação de “paredões” entre a portaria e o pátio central da escola, visando ocultar o cotidiano escolar, as visitas guiadas meticulosamente orquestradas em horários convenientes e a relutância em permitir que os pais vislumbrem o dia a dia de seus filhos são sintomas inequívocos de um sistema que prioriza a aparência sobre a substância. Esta abordagem contrasta drasticamente com o que sabemos ser essencial para uma educação de qualidade, a participação ativa e o envolvimento da comunidade escolar como um todo.
Uma escola verdadeiramente comprometida com a excelência educacional é, por natureza, um espaço aberto e acolhedor. Ela se caracteriza por ambientes arejados e acessíveis, que não apenas permitem, mas ativamente incentivam a presença das famílias por meio de diversas iniciativas. Seja oferecendo a oportunidade de desfrutar dos espaços esportivos, convidando os pais para almoçar com seus filhos ou promovendo eventos que integrem família e escola, estas instituições reconhecem que a transparência e o engajamento familiar são pilares fundamentais para o sucesso educacional.
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Ao criar um ambiente que valoriza a presença e a participação dos pais, essas escolas não apenas fortalecem o vínculo entre família e instituição, mas também criam um ecossistema educacional mais rico, dinâmico e eficaz, em que o desenvolvimento integral do estudante é verdadeiramente o foco central.
Neste contexto, emerge um indicador frequentemente negligenciado, mas de suma importância, que é o valor pago pela hora-aula dos docentes. Esta simples informação carrega consigo um peso significativo, pois reflete diretamente o valor que uma instituição atribui a seus educadores. As famílias, ao matricularem seus filhos, perguntam o valor da hora-aula dos professores? Esta pergunta aparentemente simples pode revelar muito sobre o comprometimento da escola com a qualidade do ensino.
Um professor adequadamente remunerado não é apenas um profissional satisfeito; é alguém com maior capacidade de investir em sua própria formação, de se dedicar integralmente à sua vocação e de trazer para a sala de aula um repertório mais rico e diversificado de práticas pedagógicas.
Infelizmente, o que presenciamos em muitos casos é o oposto. Redes de ensino se expandem rapidamente, inaugurando novas unidades, mas oferecendo remunerações que não condizem com a importância da função docente. O resultado é uma alta rotatividade de profissionais e uma educação que, quase sempre, prioriza o marketing em detrimento da qualidade real do ensino oferecido.
Postura ativa para valorizar professores
Este cenário nos leva a uma reflexão ainda mais ampla sobre o papel da comunidade – especialmente dos pais – neste ecossistema educacional. É preocupante notar como, diante da falta de acesso ao verdadeiro contexto escolar, muitos se voltam para grupos de mensagens instantâneas como principal fonte de informação e engajamento. Assim como nas redes sociais, o foco recai frequentemente sobre os desvios e raramente sobre os acertos, criando uma percepção distorcida da realidade educacional.
Não podemos nos contentar com discussões superficiais em grupos de WhatsApp. É fundamental que famílias, educadores e sociedade como um todo se unam em busca de uma educação de qualidade, que valorize o professor e promova o desenvolvimento pleno de nossos estudantes.
Diante deste panorama, é imperativo que nós, como sociedade, assumamos uma postura mais ativa e crítica. Precisamos exigir não apenas transparência das instituições de ensino, mas também uma valorização real e tangível de nossos educadores. É necessário um olhar mais atento e questionador dos pais ao escolherem uma escola, indo além das aparências e buscando compreender a verdadeira proposta pedagógica e o valor atribuído aos profissionais que a executam.
Transformar esta realidade é um desafio complexo, mas não impossível. Requer um esforço conjunto de educadores, instituições, famílias e sociedade como um todo. Precisamos fomentar um diálogo aberto e construtivo, em que as verdadeiras questões educacionais sejam debatidas com a profundidade que merecem. É hora de questionarmos o valor que atribuímos à educação e entendermos que investir nos professores é investir diretamente no futuro de nossos filhos e na qualidade da educação do país.
Convido cada um de vocês a refletir: qual papel nós, professores, podemos desempenhar nesta transformação? Como contribuir para uma educação que valorize genuinamente seus profissionais e priorize a qualidade real do ensino oferecido?
Este é um convite à ação, à reflexão e ao engajamento. Somente com esforço coletivo e consciente construiremos um sistema educacional à altura das necessidades e potencialidades de nossa nação.
E você, o que pensa sobre isso? Quais experiências e ideias podem compartilhar para enriquecer este debate? Aguardo suas contribuições nos comentários.
Deivide Nascimento
Professor de matemática, produtor de conteúdo, entusiasta de metodologias ativas e inovação em educação e criador de jogos educacionais, Deivide também é embaixador do Porvir.