Aula de arte com impressão 3D torna obras acessíveis a estudantes com deficiência
Professora conta como desenvolveu projeto inclusivo para trabalhar história da arte com uma turma de ensino médio
por Graciele Rodrigues 11 de setembro de 2019
Sou professora há treze anos e divido a minha carreira na educação com a fotografia. Apaixonada por tecnologia e arte, vi nessas duas vertentes um caminho inspirador para inovar na educação. Com o objetivo de estimular a troca de conhecimento entre os estudantes com deficiência visual e os videntes, desenvolvi um projeto de impressão 3D de obras de arte e ilustrações.
Neste ano de 2019, comecei a trabalhar com um aluno deficiente visual (100%) em uma turma do segundo ano do ensino médio do Colégio Estadual Helena Kolody, em Terra Boa (PR). Como professora de arte e sem formação em educação especial, no início me senti perdida e angustiada em mediar o conhecimento em arte com materiais que não atendiam às necessidades desse aluno.
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Em busca de estratégias, um professor de filosofia sugeriu imprimir peças na impressora 3D para ajudar no trabalho pedagógico com esse aluno. Tínhamos recebido esse equipamento há um ano, mas o trabalho era muito complexo e a equipe escolhida a princípio não se adaptou ao desafio.
No intuito de desenvolver um projeto satisfatório para toda a turma, decidi traçar metas para criar um ambiente voltado para o compartilhamento de conhecimentos entre o aluno não visual e os visuais. Fiz um convite para todas as salas participarem da atividade, e tivemos a média de dez alunos interessados.
Quando começamos o projeto, o estudante cego me relatou que tinha muita dificuldade em reconhecer imagens através do tato e que ele achava muito difícil essa experiência dar certo. No entanto, mesmo com a negativa nos mantivemos insistentes no projeto.
Dos dez alunos interessados ficamos em cinco, pois tiveram questões de horários e empatia entre os participantes. Primeiramente, passei para os alunos os softwares que eu conhecia para a impressão 3D e o básico do funcionamento do equipamento. Feito isso, desafiei eles a encontrar uma forma de transformar uma imagem bidimensional em tridimensional, e essa foi a fase mais desafiadora.
Dentro de todo esse processo, muito material foi descartado. Tivemos problemas com a impressora e o estudante com deficiência visual reprovou várias peças. Precisei aprimorar ainda mais minhas revisões de literatura para ter certeza de que estávamos no caminho certo, e o aluno foi se abrindo e ficando cada vez mais participativo.
A última peça analisada foi o Abaporu, de Tarsila do Amaral, que fazia parte do conteúdo do livro didático em que o segundo ano estava estudando. O estudante fez a percepção tátil e conseguiu discutir sobre o período histórico da obra. Assim chegamos a conclusão de as placas produzidas não podem ter vários planos, elas devem ser escolhidas pelos estudantes cegos. Também percebemos que a empatia é um fator fundamental na construção do conhecimento da pessoa com deficiência visual.
O projeto ainda está em fase inicial e temos novos objetivos a seguir, como convidar mais alunos, já que agora temos os fundamentos para a impressão e convidar mais alunos cegos de outras cidades para a percepção das placas para traçarmos novos caminhos.
Nesse trabalho observei meus alunos mais autônomos, engajados e comprometidos, além de orgulhosos por serem reconhecidos por um trabalho tão especial, estão cheios de novas ideias e buscando novas tecnologias para melhorar a impressão.
Graciele Rodrigues
Artista visual e fotógrafa, com especialização em metodologia do ensino da arte e mestranda em gestão do conhecimento. Professora da rede pública estadual do Paraná há dez anos.