‘Bibliotecas digitais são tesouros escondidos’
Apesar de existirem bons acervos on-line, o acesso ainda é restrito e encontrar os arquivos nas buscas pode ser um desafio
por Vagner de Alencar 20 de junho de 2012
Digitalizadas, as bibliotecas no Brasil e no mundo estão deixando os muros físicos para também se hospedarem na internet. Mas isso não significa que elas estão mais acessíveis. Apesar dos milhares de acervos disponíveis on-line, as bibliotecas digitais ainda são consideradas “tesouros escondidos”.
Segundo Moreno Barros, professor de biblioteconomia da UniRio e mestre em ciência da informação, embora o Brasil esteja investindo alto em projetos de digitalizações, esses acervos ainda não estão ao alcance de todos. “Existe uma excessiva preocupação com imagens em alta resolução, por exemplo, um formato que só atende grandes pesquisadores, pessoas que de uma forma ou outra já estariam dispostas a frequentar o acervo localmente. Isso não é algo ruim, mas é fato que o público leigo tem mais facilidade de acesso quando as imagens estão em menor qualidade”.
O processo de digitalização, segundo Barros, implica na necessidade de uma abordagem diferente, com foco em uma escala maior de usuários para “atingir virtualmente uma audiência diferente daquela que já se atinge fisicamente”.
Milhares de pessoas poderiam estar navegando pela Biblioteca Nacional Digital, pela França no Brasil ou pela Brasiliana, algumas das principais bibliotecas digitais do país, que permitem aos usuários acessar de forma virtual e gratuita seus arquivos. “Quase ninguém conhece esses acervos, ou somente uma pequena parcela da comunidade de pesquisa acadêmica”, garante Barros.
Outros bons exemplos de biblioteca digitais seriam a Biblioteca Digital UGF (Universidade Gama Filho) e a Biblioteca Nacional Digital. A primeira, lançada em 2011 e considerada uma das maiores do Brasil. Seu acervo aberto contém teses e dissertações de quase 1.500 universidades, bibliotecas unificadas de 62 países e artigos de 48 mil revistas científicas disponíveis on-line para qualquer pessoa, gratuitamente. Já a segunda, pertence à Biblioteca Nacional e é tida como uma das precursoras do processo de digitalização de publicações e acesso a obras via internet.
A digitalização de acervos bibliográficos tem sido um método utilizado, principalmente, como forma de preservar os registros históricos, seja de um grande jornal – como é o caso do Jornal do Brasil, impresso até 2010 e que digitalizou todas as suas edições -, seja de um periódico local – como o centenário jornal Federação, de Itu (SP), que, no ano passado, colocou todo seu acervo na internet. Até o cientista Albert Einstein inspirou a criação de um site só para abarcar os seus cerca de 80 mil documentos.
Os esconderijos das bibliotecas
Ao pesquisar por uma determinada obra no Google, o sistema de busca tem dificuldade de rastrear as publicações dessas bibliotecas virtuais. Escondidos na internet, os sites das instituições que abrigam grande parte desses acervos virtuais ainda têm navegação precária e softwares não muito amigáveis.
Uma das soluções apontadas por Barros para que usuários encontrem obras nos acervos digitais e também nas bibliotecas físicas mais próximas de suas casas é fazer com que os registros bibliográficos utilizem sistemas de busca mais trabalhados, indexando melhor suas informações na internet. “Se as bibliotecas abrirem seus dados, o Google vai ranquear não apenas os sites de livrarias famosas, mas vai indicar já na primeira página também as bibliotecas físicas mais próximas das casas dos usuários.”
Confira uma aula do especialista sobre as bibliotecas e a sua indexação nos buscadores:
Segundo levantamento realizado pelo 1º Censo Nacional das Bibliotecas Públicas Municipais, divulgado em 2010, o Brasil possui uma média de 2,67 bibliotecas municipais em funcionamento para cada 100 mil habitantes. Todas elas poderiam ser mais facilmente encontradas se melhor ranqueadas nos buscadores.
Para isso, o especialista afirma que será necessário, por exemplo, abolir sistemas que dificultem o rastreamento, como é o caso do javascript, muito utilizado nos softwares de biblioteca, que funciona como se fosse uma imagem e não possibilita interação dinâmica com o usuário.
Outra alternativa apontada por Barros, que facilitaria a vida do usuário que busca por um ranking de bibliotecas, é a criação da versão brasileira do WorldCat, uma das principais redes de bibliotecas do mundo, que indica ao usuário onde encontrar livros, CDs, vídeos, resumos de artigos e versões digitais de itens raros nas bibliotecas mais próximas de suas casas.
Para conhecer as principais bibliotecas digitais brasileiras e internacionais, veja a lista indicada por Barros. O especialista, inclusive, tem um projeto para ajudar pessoas a redescobrir e reaprender o significado das bibliotecas na era do Google e do iPad. Para começar, ele propõe um encontro para ensinar as pessoas a economizar dinheiro usando essas bibliotecas. A proposta está em busca de financiamento, via crowdfunding, na plataforma do Nós.vc.