Bingo da Tabela Periódica diverte e explica química no ensino médio - PORVIR
Crédito: Dmytro Robu/iStock

Diário de Inovações

Bingo da Tabela Periódica diverte e explica química no ensino médio

Com apoio de cartelas de bingo e tabelas impressas, brincadeira engaja turmas de escola pública no Rio de Janeiro

por Thaís Petizero Dionízio ilustração relógio 3 de março de 2023

Um dos maiores problemas enfrentados pelos professores é a falta de motivação e interesse dos alunos pelas atividades propostas em sala de aula. Muitas metodologias ainda prezam pelo tradicionalismo e transmissão de conhecimento de forma passiva, o que desfavorece uma aprendizagem significativa, autônoma e contextualizada. Além disso, o professor compete a atenção do aluno com o celular, devido à facilidade que o aluno tem em acessá-lo durante a aula, aumentando ainda mais as chances de distração. A busca por novas estratégias didáticas que proporcionem um maior interesse dos alunos pela disciplina consegue ser uma grande aliada no processo de aprendizagem.

Por vezes os alunos acessam seus aparelhos móveis para bater papo, olhar as redes sociais ou jogar. O jogo proporciona ao aluno um ambiente prazeroso, divertido e emocionante, por meio de cenários atrativos, interação e protagonismo. Assim, a aplicação de jogos dentro da sala de aula, vinculados ao conteúdo da disciplina, pode romper as barreiras de aulas somente expositivas e tradicionais, promovendo experiências divertidas que possibilitam a formação de novos conhecimentos e habilidades.

Sempre prezei por aulas mais envolventes e divertidas, buscando conhecer os alunos e seus conhecimentos prévios para promover uma aprendizagem significativa. Desde a minha graduação, procurei criar e aplicar jogos didáticos. Em 2016, quando iniciei minha carreira como docente na Secretaria de Estado de Educação do Rio de Janeiro, pude ver de perto a realidade da educação pública no ensino médio e ajudar os estudantes a compreender que a química faz parte do seu cotidiano e é de suma importância para o desenvolvimento científico e tecnológico da sociedade. Neste mesmo ano, ingressei no Colégio Estadual Raymundo Corrêa, localizado na Baixada Fluminense (Queimados), onde estou até hoje. 

Apostando sempre nas atividades lúdicas e inspirada nas preferências dos meus alunos, criei e apliquei neste colégio mais 2 jogos e, em seguida, publiquei os resultados em periódicos da área de ensino/educação: Jogo “Uno da Química” e Jogo “La Casa de Química”. Este último, inclusive, recebeu uma premiação de melhor produto didático no 16º Simpósio Brasileiro de Educação Química, em 2018, realizado pela Associação Brasileira de Química.

Para dar início às atividades letivas do ano de 2023, resolvi envolver meus alunos numa atividade um tanto divertida e engajadora, um bingo. Mas não um bingo qualquer, e sim um bingo dos elementos químicos, para unir conhecimento e diversão. Os conteúdos de química trabalhados neste jogo são relativos aos elementos químicos, seus símbolos, nomes, localização na Tabela Periódica, principais características e utilidades. 

Materiais utilizados: cartelas de bingo, números para sorteio
e Tabela Periódica para consulta. Crédito: Arquivo pessoal

Como realizar a atividade?

Para aplicar o bingo, precisei providenciar cartelas numéricas de bingo, números de 1 a 75 para o sorteio e Tabela Periódica para consulta. Inicialmente, cada estudante recebeu 1 cartela de bingo e 1 Tabela Periódica. Em seguida, combinei qual seria a condição para o aluno ganhar o bingo, de acordo com o tempo que eu tinha disponível para aplicar a atividade. 

Foi acordado que o aluno que primeiro fizesse uma quina (sequência de 5 números na horizontal ou vertical) poderia gritar bingo e, sobrando tempo, continuaríamos o jogo apostando, desta vez, em cartela cheia. Antes de começar o jogo, expliquei aos alunos rapidamente como podemos localizar um elemento químico na tabela periódica, por meio da família e do período, e como verificar seu número atômico. Neste momento, alguns alunos puderam relembrar estes conceitos, e outros, que ainda não haviam tido este contato, puderam se familiarizar com o conteúdo.

Deixei claro que o número sorteado por mim seria correspondente ao número atômico (Z) de um elemento químico, e que em vez de dizer a eles o número, eu diria as características e/ou utilidades do elemento. Mas, em último caso, se não o descobrissem, eu diria sua localização (família e período). Ao descobrir de qual elemento se tratava, o aluno deveria consultar na Tabela Periódica o número atômico correspondente, e se tivesse na sua cartela de bingo deveria marcá-lo. Em seguida, novos sorteios foram realizados até que um dos alunos completasse o combinado e gritasse: Bingo!

Ao final da atividade, as Tabelas Periódicas emprestadas para consulta foram devolvidas e as cartelas de bingo foram descartadas. Os alunos ganhadores do bingo foram contemplados com 0,5 pt extra na disciplina.

Confira, abaixo a galeria de fotos:

Resultados 

O bingo dos elementos químicos como recurso metodológico supriu algumas dificuldades encontradas na compreensão dos conteúdos relacionados à Tabela Periódica e desbancou o mito de que a tabela é muito difícil e o pré-conceito que de que a listagem deve ser decorada. A atividade deixou claro que o importante é saber interpretá-la, pois é uma fonte de consulta riquíssima e que é utilizada nas provas de vestibulares e no Enem (Exame Nacional do Ensino Médio).

Ao aplicar o bingo dos elementos químicos, pude interagir com os alunos e eles comigo, gerando um vínculo de amizade e respeito. Os alunos também interagiram entre si, e aqueles que ainda não se conheciam passaram a ter contato. As utilidades e curiosidades de muitos elementos químicos passaram a ser conhecidas ou relembradas, a habilidade de buscar informação na Tabela Periódica foi colocada em prática e, conforme a atividade era realizada, mais rápido os alunos achavam a localização de um elemento. Em instantes, eu tinha alunos muito mais hábeis, focados e interativos. 

Além disso, aplicar uma atividade como essa na primeira semana de aula faz com que os alunos já tenham afeição por mim e pela química, como se fosse um cartão de visita. Como diz o ditado: “a primeira impressão é a que fica”, e por que não torná-la o mais agradável possível? Emoções positivas conduzem ao bem-estar, promovem a criatividade, facilitam a resolução de problemas e contribuem para a nossa estabilidade e sucesso. Deste modo, tive alunos mais engajados e interessados pela matéria nas aulas posteriores ao jogo. Como resultado, o conteúdo de química ficou mais fácil de ser compreendido e dominado pelos estudantes.

O que é preciso para replicar o projeto?

Cartelas numéricas de bingo, vendidas em papelarias, e tabelas periódicas impressas. É possível aplicá-lo em turmas de 1º, 2º e 3º ano, mostrando sua abrangência em vários anos de escolaridade, além de ser facilmente reproduzido por outros professores.


Thaís Petizero Dionízio

Licenciada em química, especialista em metodologia do ensino de química e em educação a distância. Mestre em química, atualmente finaliza o doutorado em Química na Universidade Federal do Rio de Janeiro. É professora da Rede Estadual do Rio de Janeiro. Instagram: @prof.thaispetizero

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educação mão na massa, ensino médio

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