Dia do Leitor: estratégias para a sala de aula
Planejamento pode incluir desde uma leitura em grupo até a escolha de textos curtos para serem lidos com a turma
por Ruam Oliveira 7 de janeiro de 2022
Ler, no século 21, é mais do que juntar palavras e frases. É mais do que conectar um texto escrito. É, também, compreender as diferentes formas de enxergar o mundo a partir das muitas formas de leitura. Neste 7 de janeiro, Dia do Leitor, olhamos para diferentes técnicas para o desenvolvimento do ato de ler, de maneira ampla e variada, observando o que faz com que alguém se interesse pela leitura, seja ela escrita, visual, imagética ou de outra ordem.
Existem diversas estratégias para alcançar uma leitura eficiente – que não necessariamente tem a ver com números. Fábio Mendes, doutor em Filosofia pela UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) e professor no IFSul (Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Sul-rio grandense), Campus Gravataí, ressalta que avaliar se o aluno é ou não bom leitor não é algo a ser feito apenas medindo a quantidade de páginas lidas. É preciso observar a compreensão.
Aqui vai a dica número um: Estrategicamente falando, docentes devem estar atentos se seus estudantes estão ou não compreendendo aquilo que lêem. “Parece que isso é redundante, mas, de fato, conheço várias pessoas que leem muito e compreendem pouco. Não adianta avançar sem compreensão. Eu acho que o bom leitor é aquele que consegue aproveitar a leitura além do que está na superfície, ou mais do que está nas palavras, buscando sentido”, diz.
Ou seja: um passo anterior na construção de um bom leitor é fazer com que o estudante entenda o que está lendo. Não é necessário oferecer ao aluno um excesso de páginas a serem lidas, porque o tiro pode “sair pela culatra” e, ao invés de gerar identificação, a leitura se torna maçante.
Investir em textos curtos
Seguindo a mesma linha de raciocínio sobre a quantidade de palavras, Fábio afirma que uma boa estratégia para incentivar a leitura é trazer textos mais curtos e simples, que possam ser trabalhados em sala de aula durante o período em que professores e alunos estão juntos.
Dica número dois: Leitura tem a ver com interesse. Conteúdo e forma de livros são variados, pensando estritamente na leitura da palavra, e o que deve ser construído é a maneira como aquele texto faz sentido para os estudantes. A leitura de uma notícia, por exemplo, costuma ser um bom caminho inicial para o estudante. Reforçando o que foi dito antes por Fábio, artigos e reportagens, que tendem a ser menores, são bons materiais para serem trabalhados no período de aula e de maneira conjunta, com os estudantes presentes.
Fábio aponta que, apesar de acreditar firmemente que não existem mais formas de ensinar sem olhar para as metodologias ativas e até mesmo para o conceito de sala de aula invertida, o ponto de partida de todas as ações continua sendo a sala de aula. Portanto, o primeiro passo de incentivo à leitura deve ser feito pelos docentes, durante o período de aula, junto com os alunos. Posteriormente, essa estratégia consegue ser ampliada, com a adição de obras para serem lidas em casa, fora do horário de classe, e trazidas para a escola onde poderão ser discutidas de maneira mais aprofundada.
“A gente tem que ensinar para os alunos como é que eles estudam para que eles possam fazê-lo em casa. É preciso ensinar aos alunos a ler em sala de aula e, em casa, eles formulam perguntas e as trazem para a aula”, pontua Fábio.
O professor Fábio escreveu um artigo aqui no Porvir contando as quatro etapas para aprender a estudar. Leia aqui
Buscar diversidade
“Acho que uma das melhores estratégias para a gente incentivar leitores é ofertar uma diversidade bem grande de gêneros, de autores, editoras e de linguagens”, aponta Juliana Pádua S. Medeiros, pesquisadora em literatura de infância, consultora pedagógica e formadora de professores.
O que seria essa diversidade? Pensando de maneira mais ampla na ideia de leitura, é algo que envolve também diferentes linguagens, como áudio e livros interativos. Uma música também pode ser usada como ferramenta de incentivo à leitura e já é algo que acontece em muitas salas de aula. É comum que educadores utilizem trechos de canções para ensinar sobre gêneros textuais, por exemplo, e essa é uma dica que também é válida quando se olha para estratégias de leitura.
Dica: diversificar os gêneros textuais aumenta as possibilidades para que o estudante se interesse pela leitura.
Uma outra estratégia, que também se relaciona com as múltiplas formas de leituras, é permitir que os estudantes escolham parte do que vão ler. Levando em consideração que o texto deve fazer sentido para que os alunos se engajem na leitura, dar esse espaço para que escolham é uma forma de incentivo. Mas atenção: este movimento também deve estar dentro do planejamento e da intenção pedagógica da aula.
“A gente não deve se pode esquecer que o papel do professor é ser um formador. Então temos que alargar o repertório desse estudante. Não é só porque ele gosta da série ‘Crepúsculo’ que vai passar a vida inteira lendo livros equivalentes. Eu posso e devo apresentar outras referências e outras experiências de linguagem. E esse é um indício maravilhoso quando eu sei o que ele gosta”, afirma Juliana.
Entender os gostos da turma também é uma estratégia para pensar o que virá a seguir no planejamento de leitura. A pesquisadora afirma que uma boa estratégia é: investir na curadoria de textos de qualidade que possibilitem ao estudante formular e testar hipóteses, alargar os olhares, comparar formas de expressão ou articular conhecimentos.
Esse tipo de incentivo permite, também, uma abordagem por meio de perguntas que sirvam para verificar se o estudante compreendeu bem o que foi lido.
Mas é preciso cautela. O professor Fábio aponta o risco de abrir demais o leque, desviando um pouco o planejamento. Apesar de considerar benéfico permitir que os estudantes façam escolhas, ele considera que é necessário impor determinados limites como, por exemplo, indicar uma quantidade de gêneros a serem trabalhados e, dentro desse limiar, deixar que escolham alguns títulos. “É preciso que o professor respeite o próprio método”, afirma.
Camila Concato, professora de literatura do lato sensu do Programa de Pós-Graduação em Letras da Universidade Mackenzie e corretora de redação do Colégio Bandeirantes, ambas instituições em São Paulo (SP), destaca ser interessante deixar que os estudantes façam suas escolhas, desde que isso ocorra em um segundo momento e que estejam também alinhadas com o que se deseja ensinar. Para ela, cabe ao professor ou professora um papel de guiar, de tecer relações entre o que o estudante deseja ler e o que se deseja ensinar.
Verificar a linguagem
O professor Fábio chama a atenção para a importância de observar o tipo de linguagem que está sendo utilizada no texto. Assim como ler “Os Sertões”, de Euclides da Cunha, por exemplo, pode ter sua dificuldade de assimilação, uma leitura pode conter seus desafios sem, contudo, diminuir o interesse dos estudantes ou ser rasa.
Fábio repete uma dica que usou no artigo sobre aprendizagem publicado no Porvir: Fazer uma primeira leitura mais geral, ou seja, “passar os olhos” pelo texto para verificar se ele se adequa à proposta de aula e se há um risco de ao invés de engajar, gerar desinteresse no aluno.
Assista ao webinário do Porvir sobre leitura em tempos de crise
E o que não fazer?
Dentro das muitas estratégias de leitura, o que não fazer conta tanto quanto aquilo que é positivo. Camila afirma que o principal é deixar claro que a intenção da leitura não é somente responder a um questionário ou usar no vestibular, por exemplo. Ela entende que essa abordagem tende a ser muito rasa quando se pensa na leitura e na literatura.
“Tem que tomar muito cuidado porque o aluno vai se sentir obrigado, e quando ele se sente na obrigação só pela obrigação, isso estraga todo um caminho super bonito de crescimento individual”, assegura.
Em outras palavras: Não é que seja proibido dizer que os textos vão cair no vestibular, mas a trajetória de incentivo à leitura deve estar além disso, a fim de colaborar na construção de sentido e compreensão do estudante a respeito do que está lendo.
Leituras em grupo
Um artigo publicado no site Edutopia aponta, entre muitas estratégias, que ler em voz alta e em grupo é algo positivo. Fábio Mendes concorda. A leitura em grupo é uma forma de gerar engajamento entre os estudantes e fazer com que iniciem conversas entre si, assim como possibilitar que dividam diferentes formas de “ver” o texto e de dar sentido à leitura.
Retomando a questão da compreensão, Fábio aponta que ler um texto curto em sala de aula, por grupos pequenos de alunos, costuma ser uma estratégia bastante eficiente.
O artigo do Edutopia sugere que essas leituras em grupo também sejam feitas em voz alta, auxiliando a fluência de leitura dos estudantes. No entanto, Fábio ressalta que o conhecimento da turma deve ser levado em consideração, principalmente para não expor estudantes que se sentem retraídos com o ato de ler em voz alta, seja por terem vergonha ou por outras questões que estão para além da sala de aula.
Lembre-se que as estratégias podem ser combinadas ou realizadas individualmente. Antes de cada novo passo, vale também verificar a compreensão da turma, o que apoia a consolidação das estratégias adotadas e a construção de leitores completos.