Dom Cabral prepara gestores de ONGs
Profissionais do terceiro setor recebem capacitação e acompanhamento por até cinco anos; a ideia é gerar mais resultados
por Vagner de Alencar 26 de outubro de 2012
No Brasil, há atualmente cerca de 338 mil organizações não governamentais, de acordo com de acordo com dados da Abong (Associação Brasileira de Organizações não Governamentais). O número de voluntários chega a 42 milhões, segundo levantamento do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada). Se de um lado a quantidade de ONGs cresce de modo expressivo, na outra ponta está a necessidade da qualidade da gestão dessas entidades. Foi pensando na formação dos profissionais que a Fundação Dom Cabral criou a Pos (Parceria de Organizações Sociais). Iniciativa, que há três anos, trabalha na profissionalização da gestão de organizações do terceiro setor, para que tenham mais recursos e expandam sua atuação social.
Hoje, a parceria é formada por 33 organizações sociais de Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo e Santa Catarina. Os profissionais dessas entidades passam por uma formação baseada em três eixos metodológicos: gestão, aquisição de conhecimento e intercâmbio. A partir de um planejamento estratégico elaborado em conjunto, os gestores recebem acompanhamentos periódicos para avaliar indicadores e metas.
Ainda como parte do programa de formação, há capacitações que atendem a aspectos específicos como gestão do voluntariado, avaliação de resultados de projetos sociais ou mobilização de recursos. “As entidades são muito comprometidas com a causa, mas isso pode ruir se não houver uma gestão profissional, com recursos e estrategicamente orientada para gerar as transformações na sociedade”, afirma Elson Valim, coordenador da Pos.
Presente na Parceria desde maio deste ano, a Cufa (Central Única das Favelas), da capital fluminense – que desenvolve principalmente por meio do hip-hop outras ações de inclusão social –, é a mais recente a aderir ao programa. Criada há mais de 10 anos, a organização tem uma equipe composta, sobretudo, por jovens formados em cursos da própria entidade, a maioria oriunda de comunidade vulneráveis.
Segundo Fernanda Borriello, diretora de programas e projetos da Cufa, o estudo está ajudando a melhorar o nível de gestão da equipe, principalmente aqueles que não tinham nenhuma formação na área de gestão organizacional. “Muitas pessoas que trabalham aqui não tem formação superior e começaram a trabalhar por conta do estímulo, instinto e força de vontade, mas sem habilidades de gestão, sem preparo”, diz.
Em São Paulo, o Instituto IT Mídia, mantido pela IT Mídia, trabalha com uma meta: ‘profissionalizar’ 1.000 jovens em situação de exclusão até 2014, nas áreas de saúde e tecnologia da informação – segmentos em que a companhia atua –, e inseri-los no mercado de trabalho. Membro do Pos, desde 2011, até o momento, o instituto já capacitou 165 jovens. Eles recebem bolsa integral para cursar faculdades relacionadas à saúde ou tecnologia e, uma vez terminada a graduação, contam com o apoio do instituto para ingressar como mão-de-obra qualificada em empresas parceiras. “Vimos, porém, que não bastaria ter uma meta. Era preciso planejamento, organização e acompanhamento das nossas ações para termos os resultados sociais que desejávamos”, conta Adelson de Sousa, presidente do Instituto IT Mídia.
Planejamento
Segundo ele, a adesão à formação possibilitou traçar o planejamento estratégico balizado por metas e indicadores, e capacitar a equipe em gestão, o que deu mais clareza ao processo e consistência à iniciativa. “O número é um detalhe, agora queremos selecionar melhor os alunos, reduzir a evasão deles da faculdade e colocá-los no mercado de trabalho de forma duradoura, perene”, conclui.
A formação é paga e custa, em média, R$ 2.500 mensais, de acordo com Valim, o custo é 25% do valor referente ao que seria cobrado se direcionado a empresas. Para o coordenador, o diferencial do programa é o fato de aliar treinamento, aplicação prática e uma rede com encontros presenciais entre as entidades parcerias. “Esses três aspectos precisam caminhar juntos para que se complementem e deem conta de uma uniformidade que ajude a melhorar a gestão dessas organizações e, claro, promova mais transformações sociais”, afirma.
A cada dois meses, as equipes das organizações se reúnem em alguma das cidades para a troca de intercâmbios. Os encontros partem de um tema em comum; no último, por exemplo, foi abordado o desafio da captação de recursos. “Embora a maioria seja de áreas de atuação distintas, esses encontros enriquecem os trabalhos de cada organização. Todos se conheçam, sabem o que cada um está fazendo para lidar com determinadas situações e partilham boas experiências e casos de êxito”, afirma Valim.
Outro aspecto importante da iniciativa, afirma Valim, é o acompanhamento de cada organização a longo prazo. “É importante acompanhar cada uma delas de modo sistêmico, avaliando seus indicadores e suas metas. Desconheço um programa que se proponha a estar com essas organizações por 4, 5 ou 6 anos, como é o nosso caso”, completa.