Projeto de educação ambiental usa metodologias ativas para sensibilizar os estudantes
Da reciclagem a mostra cultural, passando por doação de livros e limpeza de espaços públicos, professoras contam como o ativismo dos estudantes apoiaram atividades que ultrapassaram os muros da escola
por Deise Carina Backes / Jaqueline Priscila da Luz Melo 23 de outubro de 2023
Separação do lixo, limpeza dos rios, cuidado com as árvores, escolhas sustentáveis. Esses assuntos, urgentes para a sobrevivência humana, precisam de conscientização e trabalho coletivo, não podem ficar longe da sala de aula. O projeto “Escola e comunidade – preservando o ambiente em que vivemos”, que realizamos com as turmas de 4º ano da Escola Municipal Olavo Bilac, em Foz do Iguaçu (PR), nasceu do debate sobre a importância da preservação da natureza, e reuniu alunos e comunidade escolar em torno de um mesmo conteúdo pedagógico planejado.
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Tudo começou com a reciclagem de papéis na sala dos professores. Ali, os alunos aprenderam a produzir papel reciclado utilizando o liquidificador industrial da escola, com apoio de telas para moldar, também feitas de material totalmente reciclável.
Esse projeto contou com diferentes ações como palestras educativas, Mostra Cultural, arrecadação e doação de livros, além da criação de uma horta – que serviu de subsídio para um almoço com as famílias. A seguir, detalharemos um pouco mais cada uma dessas ações:
Cartas em papel reciclado
Com folhas de papel reciclado em mãos, partimos para a produção de cartas de conscientização. Como podemos melhorar nossas atitudes com o meio ambiente? As mensagens, escritas pelo quarto ano B, foram colocadas em uma caixa de correio da turma, e entregues aos alunos do vespertino, da mesma série, pela professora Jaqueline (que se vestiu de carteira). Também fizemos o exercício de uma carta-resposta para os colegas da manhã. Tanto as cartas quanto os envelopes e o selo para fechá-las foram confeccionados pela turma em papel reciclado feito com jornais.
Já na sala de informática, com o apoio da professora Sandra Hartemink, criamos um e-mail como se o remetente fosse o Planeta Terra. Como a escola está localizada em uma região de bastante vulnerabilidade, esse é o momento em que a maioria dos alunos, sem computador ou internet em casa, tem acesso à tecnologia. Todos, então, aprenderam os campos a serem preenchidos no envio de um e-mail e mandaram a mensagem, explicando como as iniciativas do nosso projeto iriam melhorar a vida da nossa comunidade e, consequentemente, da Terra. Voltamos ao papel reciclado para escrever um agradecimento para cada profissional da Companhia de Polícia Ambiental de Foz do Iguaçu, que são verdadeiros protetores da natureza.
Palestras educativas
Os integrantes da Companhia de Polícia Ambiental vieram à escola não só para recolher as cartas, como também ofereceram uma palestra para mais de duzentos estudantes sobre a função que desenvolvem e a importância de denunciar maus tratos aos animais, não realizar queimadas e incentivar o plantio de árvores. No mesmo dia, a turma conheceu uma das viaturas da Companhia de Polícia Ambiental e participou de um café da manhã como forma de homenagear o Dia do Soldado, que seria comemorado naquela respectiva semana.
A apresentação nos inspirou a lançar o concurso cultural de desenho “Eu preservo o meio ambiente”. Aberto a todas as turmas da escola, a proposta era ilustrar atitudes sustentáveis em nossa comunidade. Cinco policiais fizeram a seleção de cinco desenhos, que representavam cada ano de ensino da escola. A turma do 5º ano A aproveitou o anúncio dos vencedores para entrevistá-los também.
Por falar em palestra, recebemos a visita de Letícia Moura Benitez, coordenadora da Secretaria Municipal de Meio Ambiente, que veio conversar conosco sobre compostagem e horta na escola. O objetivo foi apoiar os alunos na horta que estavam começando a cultivar, com destaque para a criação da composteira destinada aos resíduos orgânicos do horário do lanche.
Horta e compostagem
A cada recreio, dois alunos vestiam os coletes do “Pelotão da Reciclagem” e recolhiam os resíduos, que iam para a composteira e, na sequência, para a horta.
A plantação, que contou com mudas de alface, couve, rúcula, beterraba, almeirão, cenoura, abobrinha, pepino, hortelã e cebolinha, estava atrelada ao conteúdo de ciências chamado “ciclo de energia na cadeia alimentar e fotossíntese”. A colheita resultou em um almoço ou jantar em família.
Levando o tema para diferentes gêneros textuais
Quando trabalhamos o gênero textual piada na disciplina de língua portuguesa, os alunos criaram um panfleto com base humorística entregue aos pais na saída da escola. O material salientava cuidados com a separação do lixo, a reutilização de materiais recicláveis e o descarte correto para cada resíduo.
Em outra aula, ao falarmos sobre “verbete de enciclopédia infantil”, destacamos o termo “reciclagem”. Recebemos a jornalista Izabelle Ferrari, que conversou conosco sobre temas ligados à sustentabilidade e ao conteúdo notícia, ressaltando os riscos das fake news.
Visitas de campo
Na visita ao Refúgio Biológico Bela Vista, a turma conheceu ações que a hidrelétrica de Itaipu realiza para a preservação do meio ambiente de toda uma extensão territorial, principalmente com animais silvestres e plantio de mudas de árvores nativas e frutíferas. Nessa visita, cativamos ainda mais os alunos acerca do cuidado com os animais e da importância das árvores em nossa vida.
Arrecadação e doação de livros
Atuamos na campanha de arrecadação de livros e cadernos usados. Queríamos incentivar a destinação correta do papel, trazendo das casas da comunidade tudo o que estava acumulado (sem o devido uso ou sem o descarte correto). No fim da campanha, os materiais que não puderam ser reutilizados para reciclagem foram destinados à UVR (Unidade de Valorização de Resíduos Pedro Colombelli). Os livros em boas condições de uso foram separados de acordo com faixas etárias e colocados nas “Geladeiras Literárias” instaladas em diferentes pontos da cidade.
Separamos os livros de conteúdo acadêmico para a Unioeste (Universidade Estadual do Oeste do Paraná). Como nossa iniciativa foi bem recebida, fomos convidados a levar a turma toda até lá para participar de oficinas de contação de histórias e de desenho, além de conhecer pessoalmente a biblioteca com seu acervo de mais de 30 mil obras.
Construção de comedouros e limpeza de espaços públicos
Confeccionamos um comedouro para passarinhos e outro para cães e gatos a partir do pallet (madeira descartada pelas transportadoras), mutirão de recolhimento de eletrônicos que não podem ser mais utilizados. Também apoiamos a limpeza da margem do rio (com a ajuda das famílias e dos alunos) e a revitalização de um espaço verde que ficam perto da escola.
Brinquedos com recicláveis
Criamos uma “Fábrica de brinquedos recicláveis” utilizando materiais descartáveis, atrelando as ideias e os conteúdos de jogos e brincadeiras trabalhados em sala de aula. Os brinquedos foram doados ao Clube de Mães do bairro, auxiliando-as nas reuniões e contribuindo com a aprendizagem das crianças.
Mostra Cultural
Aberta ao público, o projeto foi finalizado com uma Mostra Cultural. Nela, expusemos todas as etapas do trabalho desenvolvido e compartilhamos as melhorias que alcançamos. Aproveitamos o evento para apresentar o projeto LixoTec, que recolhe eletrônicos em desuso. Também recebemos a jornalista Bruna Cardoso, que foi entrevistada pelos estudantes sobre suas impressões da exposição.
O que conquistamos?
O projeto foi realizado de forma interdisciplinar, envolvendo alunos, suas famílias, professores, funcionários e toda a comunidade escolar. Direta e indiretamente, mais de 2 mil pessoas foram alcançadas.
Ao incorporar metodologias ativas, que colocou os estudantes como protagonistas do processo de ensino, notamos que o projeto ampliou a conscientização para as questões ambientais, não só dos alunos, mas de toda a comunidade escolar por meio de atitudes simples de sustentabilidade, que são essenciais para a melhoria da qualidade de vida.
Buscamos plantar a semente da responsabilidade social e colher frutos no futuro. Almejamos, de fato, que a conscientização e preservação ambiental ocorram.
Deise Carina Backes
Licenciada em pedagogia, é professora regente 1 (em língua portuguesa, matemática e ciências). Tem 10 anos de experiência, sendo 8 anos na rede particular e 2 anos na rede pública.
Jaqueline Priscila da Luz Melo
Bacharel e licenciada em enfermagem, já foi aluna da escola Olavo Bilac, onde hoje atua como professora regente 1 (língua portuguesa, matemática e ciências).