Em um mundo cada vez mais digital, é preciso estimular a imaginação - PORVIR
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Inovações em Educação

Em um mundo cada vez mais digital, é preciso estimular a imaginação

De acordo com Walter Longo, especialista em inovação e transformação digital, cabe aos professores tanto aprender com a imaginação infantil quanto manter a curiosidade sempre viva.

Parceria com Edify

por Luciana Alvarez ilustração relógio 13 de outubro de 2021

Máquinas já substituíram a força física do homem e dos animais. Agora, são os sistemas computacionais que passam a fazer análises, comparações, cálculos e uma série de atividades detalhadas e repetitivas antes reservadas à mente humana. Mas a criatividade e o poder de imaginar ainda diferencia os seres humanos de qualquer tipo de inteligência artificial. Por isso, as crianças deveriam ser os grandes professores dos adultos – é o que defende Walter Longo, especialista em inovação e transformação digital.

“O mundo infantil é o universo do ilimitado, do impensável. Na infância, a gente sonha acordado e vive num realismo fantástico”, disse Walter em sua palestra do evento Hub, promovido pelo Edify. “Nenhum adulto, por mais criativo que seja, é capaz de pensar tão fora da caixa como uma criança. Daí a importância de dar atenção às crianças, para que elas nos ensinem a imaginar.”

Naturalmente, o passar dos anos leva a maioria das pessoas a se conformar e se adaptar às normas vigentes, restringindo a capacidade criativa. Porém, a forma de organização social da atualidade tem acentuado ainda mais esse conformismo mental. “O universo digital está cerceando nossa imaginação, porque ele gera uma inviabilidade da introspecção, algo tão importante para a imaginação”, afirmou Walter, que é publicitário de formação.

Claro que a falta de introspecção – e a consequente falta de imaginação – não se tornarão destino final para todos. As pessoas têm escolhas a fazer diante das possibilidades e hábitos que as redes nos apresentam. “A internet é o melhor dos mundos para os curiosos, mas estamos assistindo uma polarização entre curiosos e ‘descuriosos’. Vai ser uma nova forma de segregação. De que adianta ter a biblioteca de Alexandria nas mãos se não temos nada na cabeça?”, questionou o palestrante.

O clima organizacional em empresas e escolas, quando faltam desafios novos e criativos, podem também matar a criatividade humana, acredita o publicitário.

Dessa forma, cabe aos professores tanto aprender com a imaginação infantil quanto manter a curiosidade deles sempre viva. Segundo Walter, a sensação de facilidade de se ter todas as respostas na hora que desejar é perigosa. Além de ser ilusória, ela pode minar a curiosidade. “Quantos meninos, jovens e adultos dizem que já não precisam saber certas coisas, porque quando quiserem a resposta está no Google! Isso acaba com a frustração produtiva”, disse.

Criatividade em tudo

Muita gente associa a imaginação ao universo das artes e do entretenimento. Walter ressaltou, contudo, que sua importância é bem mais ampla. “O desenvolvimento científico se dá primordialmente pela imaginação. Não há um cientista que não se pergunte: por que não?” Portanto, estimular a imaginação de um povo deveria ser obrigação do Estado, assim como de qualquer pessoa que se proponha a educar.

Em sua fala, Walter defendeu que o próprio modelo escolar tem de ser transformado, com o foco mais na vida real e menos em provas e exames padronizados. “De forma geral, hoje a escola conta o que pode ser medido, em vez de medir o que deve ser levado em conta. A vida é um grande Enem, onde estamos sendo testados todos os dias. Nossa capacidade de imaginar e rever paradigmas que vai nos levar para frente”, afirmou.

Como os músculos, a imaginação exige treino permanente. Uma das formas de incentivar a imaginação é incentivar a leitura. “Ler ou ouvir uma história é uma forma de coautoria. Quando leio, também imagino, porque vejo na minha cabeça. Na leitura eu sou protagonista; ao assistir um filme, sou um expectador externo”, explicou.

A falta de imaginação limita as pessoas no seu dia a dia, independentemente de seu trabalho, instrução ou nível social. Walter defendeu ainda que ela é uma característica evolutiva, que ajudou o ser humano a se adaptar a um mundo hostil – e pode ajudar até hoje a suportar certas dificuldades. “Imaginar é uma atitude de vida: se você está num aeroporto com voo atrasado, você fica imaginando o que tem naquela valise da pessoa ao lado. Se alguém está doente e fica preso a uma cama, não estará preso se tiver a capacidade de imaginar”, citou Walter.

Para quem convive com crianças, como no caso dos professores, demonstrar que se têm um mundo interno, criativo e fantástico, tem um valor também pedagógico. “Por um lado, mesmo sem querer, vamos sim cercear a imaginação infantil para educá-la para o mundo, dar parâmetros. Mas podemos ter um tempo de qualidade com elas e brincar juntos – dessa forma ela sente que pode continuar sendo o que é, mesmo quando crescer”, afirmou.

Na palestra, Walter lembrou ainda que a imaginação não é apenas o criar algo novo e citou cinco formas de imaginar que deveriam estar presentes na vida de todos.


As 5 modalidades da imaginação, segundo a filósofa Marilena Chauí:

  1. Imaginação reprodutora: a imaginação que toma suas imagens da percepção e da memória.
  2. Imaginação evocadora: presentifica o ausente por meio de imagens com forte tonalidade afetiva.
  3. Imaginação irrealizadora: torna ausente o presente e nos coloca vivendo numa outra realidade que é só nossa, como no sonho, no devaneio e no brinquedo.
  4. Imaginação fabulosa: de caráter social ou coletivo, cria os mitos e as lendas pelos quais uma sociedade imagina sua própria origem, seu presente e seu futuro.
  5. Imaginação criadora: inventa o novo nas artes, nas ciências, nas técnicas e na filosofia.

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desenvolvimento integral do professor, educação infantil, metodologias

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