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Escola nos Andes oferece
educação multicultural

Na Inka Samana, no Equador, currículo valoriza idiomas e culturas locais; alunos montam suas aulas e decidem horário de estudo

por Vagner de Alencar ilustração relógio 12 de março de 2013

Uma gangorra, algumas crianças e uma “facilitadora”: essa é uma cena comum em um dia de aula na Inka Samana, escola situada sobre uma pequena elevação da Cordilheira dos Andes (a quase 3.000 metros sobre o nível do mar), no Equador. Na comunidade indígena Ilincho Totoras, no sul do país, a instituição desenvolve um modelo de educação multicultural, que reforça o aprendizado dos idiomas e cultura indígena locais, de modo personalizado, ao mesmo tempo em que dá ao estudante autonomia para que ele monte seu currículo e estude nos horários que preferir.

Na escola, que trabalha com alunos da educação infantil ao ensino médio, enquanto meninas e meninos brincam em um balanço do lado de fora da instituição, a “facilitadora” as ensina a ler os dias da semana em um dos idiomas locais – o Kichwa. As expressões “professor” ou “mestre” não têm vez na escola: eles são chamados de facilitadores – responsáveis por exatamente por facilitar a aprendizagem dos alunos e atendê-los, de forma individual, sem formalidades de horários nem uniformes, muito menos com a concepção de aula que todo mundo conhece.

Steeve ROCHE / Fotolia.com

Quando não estão nos entornos da escola, dentro dela os alunos assistem às aulas em um dos três grandes salões, um para cada ciclo. “Aqui cada estudante avança de acordo com seu ritmo de trabalho e o aprendizado pode acontecer em qualquer espaço e a qualquer hora”, afirma José Maria Vacacela, que hoje é diretor da Inka Samana, mas ajudou a construir o modelo na década de 80. Ele conta que o início da concepção de que a escola deveria dar mais valor a elementos locais, e que ele aplicaria na escola, surgiu dentro de casa.

“As crianças se sentem mais felizes em virem para a escola, sem a pressão de ter que aprender a ler, escrever e calcular. Nunca estão entediadas. Isso se tornou muito importante para que elas passassem a desenvolver sua criatividade de forma espontânea.”

Nessa época, ele percebeu que um de seus sobrinhos tinha muita facilidade em aprender o idioma espanhol, mas não tinha a oportunidade de se desenvolver nas línguas de seus ancestrais porque não havia materiais didáticos apropriado. “Por que a educação pode ser livre e com muitos materiais apenas para os ricos ou estrangeiros e não para a educação indígena?  É preciso construir um currículo que valorize o respeito, a autonomia e a liberdade desses alunos a partir da sua própria cultura”, indagou.

Fundada em 1986, a instituição atendia 45 estudantes, que assistiam às aulas em uma casa alugada em péssimas condições. Hoje, com mais de 200 estudantes, em meio aos salões abertos, as crianças e os jovens têm à disposição diferentes materiais didáticos. Podem aprender brincando com jogos, ler dezenas de livros ou cartilhas confeccionadas pelos facilitadores ou até mesmo passear pelo ambiente dedicado à música e à marcenaria. Há bibliotecas, cozinha, sala de arte, quadra de esportes e até “loja de brinquedos”, com bonecas e fantoches. “Assim, as crianças se sentem mais felizes em virem para a escola, sem a pressão de ter que aprender a ler, escrever e calcular. Nunca estão entediadas. Isso se tornou muito importante para que elas passassem a desenvolver sua criatividade de forma espontânea”, afirma o diretor.

‘É permitido conversar com o colega’

No salão, os alunos sentam-se em bancos de madeira, ordenados de forma circular. A diferença entre a escola tradicional é que na Inka Samana não há um período mínimo para que o aluno avance de série e nas aulas também é permitido conversar com o companheiro do lado. “O diálogo é sinônimo de trabalho em equipe, de troca de ideias”, reforça Vacacela.

Em uma aula de inglês, por exemplo, os alunos formam sua agenda temática com ênfase aos aspectos culturais locais. Em um desses planos de aulas, por exemplo, aprendem a língua inglesa ao desenvolver um projeto no qual celebram o Kapak Raymi (festa indígena em homenagem ao Deus do Sol).

O mesmo acontece com os estudantes do ensino fundamental, que, além de temas-base – dados bimestralmente a todos –, precisam também elaborar projetos livres – como se fossem TCCs (trabalhos de conclusão de curso), que podem ser desde um prato na cozinha  da escola até mesmo construção de um objeto na marcenaria.

Outra característica da metodologia são as assembleias, momento reservado para que os estudantes possam palpitar sobre os temas e conteúdos das aulas, além de avaliar os facilitadores e seu próprio rendimento nas aulas. Essa participação também é estendida aos pais, que têm a oportunudade de ajudar na construção do currículo escolar durante as reuniões com os facilitadores.


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