Escolas desenvolvem estratégias para apoiar famílias durante a quarentena - PORVIR
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Coronavírus

Escolas desenvolvem estratégias para apoiar famílias durante a quarentena

Escuta ativa, aproximação humana, canal aberto para tirar dúvidas e transparência foram alguns dos caminhos seguidos para oferecer segurança aos pais

Parceria com LIV

por Marina Lopes ilustração relógio 17 de abril de 2020

Desde que as aulas foram suspensas para conter a disseminação do novo coronavírus (COVID-19), escolas de todo país começaram a se organizar para desenvolver atividades remotas. Diante do desafio, mais do que nunca, a parceria com as famílias se tornou fundamental para garantir que crianças e adolescentes continuem se desenvolvendo. Mas como contar com o envolvimento dos pais e responsáveis nesse processo e oferecer apoio para que eles se sintam seguros?

Se de um lado as escolas precisam se reinventar em tempo recorde, do outro, as famílias também precisam lidar com questões novas, como as dúvidas na hora de orientar os filhos com atividades, a ausência de equipamentos ou conectividade, insegurança em relação ao futuro e até mesmo a dificuldade de conciliar o trabalho em casa com o tempo demandado para acompanhar as crianças. Para a psicóloga Renata Ishida, coordenadora pedagógica de conteúdo no LIV – Laboratório Inteligência de Vida, o momento é desafiador para todos.

“O mais importante agora é as escolas chamarem as famílias para também serem responsáveis. Não é só falar o que o outro tem que fazer, mas também ouvir”, destaca Renata. De acordo com ela, o diálogo nesse momento é fundamental para construir um espaço de criação conjunta, em que os dois lados pensam em estratégias. “Estamos sendo convocados agora a melhorar as nossas comunicações”, afirma.

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Escuta ativa para identificar demandas
Na Escola Vera Cruz, em São Paulo (SP), a escuta foi um dos elementos centrais para desenvolver ações durante o período de quarentena. Após alguns dias de atividades remotas, a instituição fez uma pesquisa com famílias para avaliar o processo e entender quais eram os seus desafios. “As famílias vivem muitas dificuldades concomitantes e distintas. Então, entendemos que o questionário seria um caminho para acolher e escutar”, conta Débora Rana, coordenadora pedagógica de 3º ao 5º ano do ensino fundamental.

A pesquisa envolveu perguntas de diferentes naturezas, desde a disponibilidade de conexão e acesso a dispositivos em casa até mesmo a quantidade de tempo diário que os pais ou responsáveis poderiam dedicar para apoiar as crianças. “É preciso abrir canais. As escolas estão muito preocupadas em manter conexão com as crianças, mas também é importante manter conexão com as famílias.”

A partir da análise dos resultados, a Escola Vera Cruz começou a identificar algumas mudanças simples que já poderiam começar a ser implementadas no processo de aulas remotas. Uma delas foi a navegabilidade da plataforma utilizada para desenvolver as atividades. “Por mais que a gente forme o professor para usar tecnologia em sala de aula, ele não precisa construir tudo do zero nesse ambiente. Quando ele começa a trabalhar cem por cento no digital, surge uma demanda técnica nova de pensar usabilidade, que no geral é feita por um profissional de design de produto digital”, explica Ana Paula Gaspar, assessora de tecnologia educacional. Com esse diagnóstico, ela conta que a escola começou a criar caminhos mais intuitivos para que os estudantes pudessem ter maior autonomia na hora de navegar e desenvolver as atividades.

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Aproximação humana a distância
Em Curitiba (PR), na Escola Projeto / Lápis de Cor, uma das estratégias utilizadas para oferecer segurança e apoiar as famílias durante a quarentena foi a humanização de todo o processo de produção das atividades online. “Logo no início gravamos um vídeo com todos os professores e enviamos para as famílias. Nas outras semanas, começamos a mostrar como os professores estavam produzindo as aulas nas suas casas para mostrar um pouco dessa parte humana também”, relata a diretora Luziângela Cornelsen de Queiroz Telles.

Com a suspensão das aulas, a escola começou a desenvolver um plano de trabalho baseado em uma adaptação da metodologia da sala de aula invertida. Para isso, decidiu usar uma ferramenta de agenda digital que os pais já estavam familiarizados. Por lá, são enviadas as aulas gravadas, atividades e roteiros de estudos. Depois de ter contato com os materiais, os alunos participam de conversas simultâneas com os professores para debater e fazer experiências juntos.

“Desde o começo, colocamos para as famílias que nós entendemos que elas têm trabalho, tarefas domésticas e até mesmo cursos para fazer. Sabemos que é difícil eles acompanharem seus filhos nas aulas online”, conta a diretora, ao mencionar que a escola procurou reduzir a quantidade de atividades e a duração das aulas. Ela também reforça que é preciso criar um canal de escuta para ouvir demandas específicas que possam surgir em cada família. “Tem famílias cujos pais não trabalham fora, outras, o pai ou a mãe não estão em casa. Precisamos tentar ajudar de outra forma quem está com dificuldade.”

Na educação infantil e nos anos iniciais do ensino fundamental, a escola também pensou em soluções mais específicas, como o envio de materiais para a casa dos alunos e o empréstimo de jogos e livros. “Semana que vem vamos mandar os iPads para com alguns aplicativos instalados”, adianta Luziângela.

Canal aberto para tirar dúvidas das famílias
Por entender que as famílias também poderiam ter dificuldade para acompanhar as atividades que as crianças e os adolescentes teriam que fazer em casa, o Colégio Super Ensino, em Ourinhos (SP), deu início ao período de atividades remotas com a criação de um canal aberto para tirar dúvidas das famílias em relação ao uso das ferramentas. “Assim que a escola encerrou o ciclo presencial, na semana seguinte o nosso técnico já estava à disposição dos pais. Outro canal que a gente manteve aberto foi o contato direto com a direção pedagógica e com a orientação educacional. Eles poderiam entrar em contato para solicitar apoio e ter um atendimento individual”, conta a orientadora educacional Glaucia Turcato.

Como a instituição já trabalhava com o G Suite, serviço do Google que oferece ferramentas de colaboração e produtividade, as atividades online foram desenvolvidas com esses recursos. No período de mudança, o colégio também apostou no envolvimento dos estudantes para interagir com as famílias. “Aqui nós temos um grupo de alunos do ensino médio que são monitores. Durante a quarentena, eles começaram a participar de grupos de WhatsApp do ensino fundamental para também ajudar a fazer a ponte entre as famílias e os professores.”

Após encerrar o bimestre com as atividades remotas, em diálogo com as famílias e entendendo desafios do momento, a escola decidiu antecipar o recesso escolar para oferecer um tempo de respiro antes de retomar as aulas. ”O carinho dos pais nesse momento tem nos ajudado a perceber que estamos no caminho certo. Eles não fizeram críticas no sentido de destruir, mas de falar que vamos juntos até o final nesse desafio”, observa.

Transparência é fundamental
No Colégio Elvira Brandão, em São Paulo (SP), os canais de diálogo com as famílias também serviram para compartilhar de forma transparente todas as etapas do processo de adaptação do currículo para o ambiente digital. “Falamos para a família sobre o currículo que seria trabalhado a distância e começamos a nos comunicar semanalmente com eles para explicar as atividades e próximos passos”, recorda Caroline Genero, articuladora estratégica do colégio.

Após perceber que as famílias também traziam algumas dificuldades, a escola optou por refazer alguns combinados e também diminuir um pouco a intensidade das atividades. “Os pais são os nossos parceiros. A ideia é que a gente caminhe ouvindo e entendendo as suas necessidades para poder aprimorar o trabalho. Tudo isso que estamos vivendo é muito novo”, destaca.

“Durante a escuta das famílias, fizemos pequenas adaptações. Como esse trabalho vai chegar em casa? O que podemos fazer como instituição para que isso fique bom tanto para a escola quanto para as famílias?”, menciona João Sant Ana, articulador estratégica do Colégio Elvira Brandão. “Quanto mais transparente essa relação, mais tranquilo fica o processo”, conclui.

Momento reforça a importância das socioemocionais
Diante de todos os desafios levantados para trabalhar em parceria com as famílias, a psicóloga Renata Ishida, coordenadora pedagógica de conteúdo no LIV – Laboratório Inteligência de Vida, também lembra que, mais do que nunca, o momento reforça a importância do desenvolvimento de habilidades socioemocionais para lidar com a situação e melhorar as relações. “Eu acho que nesse momento de quarentena, está ainda mais evidente a importância desse aprendizado, pensando em desenvolver autoconhecimento e conseguir gerir melhor as emoções.”

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