Evasão escolar e possíveis soluções apontadas por jovens para reverter o atual cenário
Pesquisadores da Rede Conhecimento Social discutem as principais demandas de entrevistados pela pesquisa Juventudes e a Pandemia de Coronavírus (covid-19)
por Redação 22 de novembro de 2021
Após trazer o alerta para a saúde mental de adolescentes e jovens em 2020, a segunda edição da pesquisa “Juventudes e a Pandemia de Coronavírus (covid-19)” mostrou que 43% dos jovens pensam em desistir de estudar. A pesquisa promovida pelo Conjuve (Conselho Nacional da Juventude) com correalização de Em Movimento, Fundação Roberto Marinho, Mapa Educação, Porvir, Rede Conhecimento Social, Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) e Visão Mundial ouviu 68 mil jovens entre 15 e 29 anos só em 2021
No artigo abaixo, João Guilherme Medeiros, Thaís Duarte, Mariana Lima, Alice França e Odilon Gomes, jovens pesquisadores da Rede Conhecimento Social, organização que desenvolveu a metodologia da pesquisa, trazem interpretações dos principais achados e caminhos para resgatar o interesse do estudante pela escola.
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A luta pelo acesso à educação no Brasil esteve sempre ligada à luta pela diminuição da desigualdade, sendo a educação a principal via que possibilita a mobilidade social. Em 2020, devido aos impactos ocasionados pela pandemia mundial do vírus da COVID-19, esse enfrentamento ganhou entornos ainda mais complexos: 4 milhões de estudantes brasileiros abandonaram os estudos, segundo dados do Datafolha, sendo que destes, 54% pertencem às classes D e E. A evasão escolar, que já era um grande problema, ocupa lugar central no debate, especialmente, quando falamos do Ensino Médio.
Com o intuito de entender os impactos que a juventude sofreu durante esse período de pandemia, a 2° edição da pesquisa Juventudes e a Pandemia do Coronavírus escutou mais de 68 mil jovens do país. Segundo a pesquisa, os próprios jovens apontam os principais caminhos que os levariam de volta ao banco das escolas: garantia de trabalho e renda; acesso a equipamentos tecnológicos que permitam que estes assistam às aulas; e apoio familiar e psicossocial.
De modo a garantir o direito constitucional de acesso à educação para esses 4 milhões de estudantes e atendendo as reivindicações apresentadas por eles, faz-se necessário um amplo esforço governamental, com investimentos substanciosos, que garantam acesso e permanência nas escolas, por meio de medidas eficazes que diminuam os obstáculos encontrados por esses e que possibilitem o seu retorno às salas de aula.
A ampliação do Ensino Técnico e Profissionalizante é apontada pelos jovens como uma via possível, de modo a capacitar a comunidade estudantil para o mercado de trabalho, por meio de cursos técnicos, semanas capacitadoras e ou cursos de pequena duração que agreguem conhecimentos profissionais. A pesquisa Juventudes e a Pandemia do Coronavírus revela que 35% dos jovens ingressaram no mercado de trabalho durante a pandemia e, conciliado a isso, 30% dos jovens abandonaram a escola devido a necessidade de complementação de renda e por não conseguirem aliar estudos e trabalho.
Os jovens apontam ainda que é fundamental o desenvolvimento e fortalecimento de programas voltados para o bem-estar psicológico da comunidade estudantil, para que possibilite a garantia do apoio necessário à saúde psicológica destes. Segundo a pesquisa, 8 a cada 10 jovens apresentam algum problema psicoemocional, sendo que 90% da juventude possui demandas prioritárias voltadas para a promoção de projetos relacionados com o bem-estar psicológico e ações de autocuidado.
A criação de um programa de renda estudantil é uma outra frente defendida por jovens. Também são necessárias bolsas de estudos e incentivos que permitam o acesso à alimentação, a condução, a obtenção de equipamentos e a conexão a uma internet adequada, garantindo a dignidade humana e possibilitando o acesso à sala de aula. De acordo com os dados da pesquisa, 20% dos estudantes não tinham recursos tecnológicos para acesso às aulas, e, 4 a cada 10 jovens buscaram complementação de renda durante a pandemia, sendo que metade destes vivem de trabalho informal sem direitos trabalhistas.
Por meio da promoção dessas alternativas, acredita-se que será mais factível o retorno desses estudantes para dentro da sala de aula, possibilitando o combate à evasão por motivos socioeconômicos, impactando assim, na ascensão social de milhões de famílias, fortalecendo a luta pela diminuição da desigualdade social no Brasil e garantindo o direito dos estudantes de permanecerem no ambiente escolar.
Mensagens principais:
Alice França
“Os índices da evasão escolar no Brasil estão elevadíssimos e a chegada da pandemia fez com que esses números crescessem ainda mais. Entre os inúmeros motivos, um dos principais é a necessidade do jovem ir em busca de uma renda extra. Porém, é importante lembrar que mesmo em momentos de incertezas e dificuldades, temos que continuar persistindo em nossos sonhos. Segundo Nelson Mandela: “a educação é a arma mais poderosa que você pode usar para mudar o mundo”. Portanto vamos juntos e juntas buscar alternativas para que a educação seja um direto de todos e todas, não de poucos e poucas”.
João Guilherme Medeiros
“O artigo retrata a realidade enfrentada pela juventude brasileira em meio a pandemia, temas como trabalho, renda, acesso à educação e saúde mental, são recorrentes em toda a bolha social da juventude. A vontade de tornarem-se independentes financeiramente, de ajudarem com as contas de casa e ao mesmo tempo conseguirem conciliar os estudos é a busca da grande maioria da juventude que se vê sem soluções diante de sua realidade. Esses caminhos apontados no artigo podem ser a luz da esperança para esses jovens, essas soluções propostas podem promover a todos uma dignidade financeira e assegurar o direito constitucional desses cidadãos de terem acesso à educação”.
Mariana Lima
“Quando há um problema tão grave como a evasão, a responsabilidade se estende a toda comunidade escolar, como também ao poder público que precisa viabilizar o acesso à assistência social e garantir que o direito de acessar a educação seja sempre prioridade para esse jovem”
Thaís Duarte
“A paralisação das escolas durante o período pandêmico fez com que jovens e adolescentes enfrentassem muitas dificuldades. E a falta de políticas públicas e investimentos para apoiar os alunos nesse momento, fez com que muitos não seguissem com os seus estudos, por conta de fatores como a falta de equipamentos, a baixa qualidade da internet e lugares pouco apropriados para acompanhar as aulas. Como disse Paulo Freire (1921-1997): “Se a educação sozinha, não transforma a sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda.” Então com uma educação de qualidade e igualitária, se torna possível a transformação social, por isso é fundamental encontrar soluções para que adolescentes e jovens não desistam dos estudos”.
*** Texto por João Guilherme Medeiros, Thaís Duarte, Mariana Lima, Alice França e Odilon Gomes. Eles ão jovens pesquisadores da Rede Conhecimento Social
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