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Inovações em Educação

3 pilares para a formação continuada no pós-pandemia

Em seminário sobre educação, pesquisadoras afirmam que investimento em desenvolvimento profissional e cuidado com o currículo faz toda diferença na vida dos estudantes

por Ruam Oliveira ilustração relógio 11 de abril de 2022

O que é ser docente? Perguntou Bárbara Born, coordenadora de pesquisa do Instituto Singularidades, e doutoranda em Educação pela Escola de Educação da Universidade de Stanford. 

Quando se está em sala de aula, muitas coisas estão acontecendo ao mesmo tempo. Além da atenção dirigida aos estudantes, é preciso organizar o pensamento para o que está sendo dito, observar a forma como o conteúdo está sendo apresentado e levar em conta o contexto.

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“Tem milhões de decisões sendo tomadas na sala de aula que vão muito além dessa ideia de transmitir conhecimento. Ensinar não é rotineiro. Não tem como prever o que vai acontecer em sala de aula. Ensinar abarca diferentes objetivos como a garantia do bem estar, por exemplo, e todos muito bem articulados”, disse Bárbara. 

Tudo isso sem contar que os alunos são também diversos e podem estar em diferentes níveis de aprendizagem. Bárbara ressalta que a pandemia adicionou outras complexidades à profissão, exigindo habilidades como eficiência, inovação – para entender que cada sala de aula é única – e capacidade adaptativa.

Ensinar não é rotineiro. Não tem como prever o que vai acontecer em sala de aula

E é aqui que entra a formação continuada: quando educadores entendem o que não conhecem e vão em busca desse conhecimento, explica Bárbara. A coordenadora comenta que é por meio das formações continuadas que os educadores vão poder refletir sobre as metodologias utilizadas, pensar os conteúdos e entender os objetivos deles.

Bárbara destaca três pilares importantes para a formação continuada: forma, conteúdo e modelo.

Em relação à forma, a educadora cita a aprendizagem ativa como um dos elementos que os professores podem buscar entender para aplicar em suas aulas. Ela ressalta, porém, que a aprendizagem ativa ideal não é aquela em que se usa apenas jogos, mas a que incorpora elementos de aprendizagem dos estudantes. 

“A formação fomenta a possibilidade de criação de espaços onde os professores estão aprendendo com os pares, entendendo que eles são importantes”, afirma Bárbara. Ela complementa que maximizar a comunidade de pares é sempre uma oportunidade de aprender mais. 


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Essa participação coletiva nas formações também pode ter um reflexo benéfico na sala de aula. É muito comum que, seja por falta de verba ou por outro motivo estratégico, muitas escolas indiquem um educador para participar de formações que volte para repassar o conteúdo aos colegas. Caso esse professor não seja formador, essa formação tende a ser mais fraca. 

“Assim como o professor precisa conhecer o aluno, o formador precisa conhecer os professores e saber como desenhar experiências formativas e estratégias para construção de manutenção de comunidades e prática”, ressalta.

Participar coletivamente de formações é uma maneira de pensar em conjunto diferentes aplicações e também de dar retornos sobre as estratégias. 

Sobre o conteúdo, Bárbara comenta que ele precisa sempre estar alinhado ao currículo. Uma formação continuada que não leva em consideração a aplicação, em que o conteúdo aparece de forma mais genérica, dificilmente vai chegar de uma maneira positiva para o corpo docente.

O que leva ao modelo de formação. Pensando do ponto de vista de gestão, é compreensível que existam alguns “sustos”, visto que o investimento em formação não é algo barato. Bárbara ressalta que essas atividades não devem ser feitas somente duas ou três vezes ao ano. Precisam ser contínuas. Dando tempo e espaço para os educadores opinarem, interagirem e também construírem juntos.

“Se a gente quer de fato assegurar que  jovens e crianças aprendam com profundidade e proficiência precisamos apoiar os docentes”, assegura  Bárbara.

O que dizem as pesquisas

O cenário educacional apresenta diversos desafios para um educador ou uma educadora. Desde o início da profissão, é correto pensar que a vida de estudos tende a não parar. Ou seja, conforme o tempo avança, continua sendo necessário se atualizar, buscar novos conhecimentos e se preparar para uma aula que faça sentido para os estudantes. 

E de que maneira buscar por formações ou ampliação de conhecimentos pode impactar diretamente na sala de aula? Pesquisas na área de desenvolvimento profissional existem para tentar responder a esse tipo de questionamento.

A pesquisadora Kathleen Lynch, professora da Escola de Educação da Universidade de Connecticut e Doutora em Educação pela Universidade de Harvard, desenvolveu um estudo para entender quais impactos o desenvolvimento profissional e as políticas educacionais dentro deste âmbito podem ter nas aprendizagens. O foco dela foi particularmente nas áreas de STEM (Ciências, Matemática e Tecnologias). 

Por meio de uma revisão bibliográfica para compreender o quanto se sabia a respeito desses impactos, a pesquisa apontou que, quando combinados, programas de desenvolvimento profissional focados na melhoria de currículos fazem com que os estudantes recebem uma educação melhor. 

“Os programas que incluíam o foco em melhorar o conteúdo pedagógico, entender como os alunos aprendem têm maior impacto do que aqueles que não tinham esse propósito. Os que tinham foco em desenvolvimento profissional e currículo também foram melhores”, disse Kathleen. 

Entre as descobertas, a colaboração e a possibilidade de que educadores participem de reuniões contínuas e possam trocar experiências dentro desses programas também se mostraram mais eficazes. 

Os dados coletados por Kathleen também mostraram que dar mais tempo para os professores ficarem focados nessas formações faz muita diferença. 

Barbara e Kathleen participaram de painel sobre formação continuada durante o Seminário de Educação Singularidades, no fim de março. 

Confira o painel completo

Painel do seminário online “Como engajar estudantes e promover aprendizagem em profundidade no contexto pós-pandêmico?”


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formação continuada, formação de professores, tecnologia

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