A importância do currículo e da formação em tecnologia na prática docente
Crédito: tirachardz/freepik

Inovações em Educação

Formação docente e currículo interdisciplinar mudam a relação do estudante com a tecnologia

A quinta competência da BNCC prevê compreender, utilizar e criar tecnologias de forma ética, significativa e reflexiva. Especialistas refletem sobre a formação continuada e interdisciplinar dos professores

Parceria com APDZ

por Ana Luísa D'Maschio ilustração relógio 8 de setembro de 2021

Foi-se o tempo da sala de informática como único espaço para aprender tecnologia na escola. Projetos de robótica e propostas desenvolvidas por meio de metodologias ativas começaram a conquistar espaço em diferentes disciplinas nos últimos anos – e devem ganhar ainda mais terreno por meio das atividades híbridas na volta às aulas presenciais.

Mas basta olhar no retrovisor para rever quão grande foi o desafio de encontrar alternativas tecnológicas que pudessem garantir o ensino remoto durante a pandemia da Covid-19. No primeiro bimestre do fechamento das escolas, mais de 60% da rede pública municipal do país não tinham qualquer estratégia para lidar com as atividades a distância, conforme informou estudo do CIEB (Centro de Inovação para a Educação Brasileira).

“Aqui no Brasil, falamos de tecnologia na educação há mais de 50 anos. A sala de informática morreu, nasceu o trabalho com robótica. Hoje, a tecnologia é o nosso meio de aprender, de nos comunicar. Contudo, veio a pandemia e todo mundo foi pego de surpresa, sem saber o que fazer. Como esse contraponto é possível?”, questiona a professora com especialização em psicopedagogia Sueli de Abreu, diretora de inovação da APDZ Educação e Tecnologia.

A resposta, de acordo com a especialista, está na relação com a aprendizagem, na formação e na qualificação do professor. Além disso, a escola deve ter um currículo que englobe a tecnologia em todas as disciplinas, avançando, assim, no desenvolvimento das competências e habilidades previstas pela BNCC (Base Nacional Comum Curricular).

A quinta competência da BNCC prevê trabalhar o tema em, pelo menos, três níveis diferentes: compreender, utilizar e criar tecnologias de forma ética, significativa e reflexiva. “O documento é inteiramente pautado por competências e habilidades. Eu não absorvo, eu construo uma habilidade. Por isso, a tecnologia está muito mais associada à aprendizagem do que à mera informação”, ressalta Sueli.

Alfabetização tecnológica
Também especialista em educação, Michelle Pinheiro é uma das autoras da seção Cultura Digital na plataforma Nosso Ensino Médio, que visa apoiar a formação de professores e gestores, bem como a implementação de novos currículos. Ela complementa o raciocínio de Sueli:

“Assim como os estudantes passam por um percurso de aprendizagem, nós, educadores, também passamos por esse percurso. Não dá para achar que na primeira experiência já teremos total sucesso. É necessário conhecer, experimentar, planejar e não perder de vista que o foco é a aprendizagem do estudante”, diz.

Tanto professores quanto alunos precisam passar por aquilo que Sueli define como “alfabetização tecnológica”. “Sei que não posso escrever poesia antes de me alfabetizar. Eu vou construir a minha alfabetização, e a mesma coisa acontece com a tecnologia”, explica. “Por isso, tenho de repensar minha postura como professor, independentemente da disciplina. Não adianta só aprender a fazer videoaula ou postar no Instagram: tenho de aprender como interagir com meus alunos. Se a gente não fizer essa alfabetização dos alunos nos meios digitais, eles vão usar o apenas percentual que conseguem aprender na interação com tais objetos.”

Inspiração
Na rede estadual do Espírito Santo, a experiência de testar recursos e experiências de aprendizagem por meio da tecnologia se fortaleceu no período de distanciamento social. A plataforma “Currículo Interativo Digital”, que disponibiliza planos de aula e objetos de aprendizagem, ganhou novos conteúdos para a realização das aulas remotas, inspirando outras secretarias de Educação a seguir o modelo.

“O uso de tecnologias foi intensificado no contexto de pandemia, que exigiu distanciamento físico, mas não emocional e pedagógico”, afirma a subsecretária de Planejamento e Avaliação da Secretaria de Educação do Espírito Santo, Isaura Nobre. “Estar neste contexto requer uma participação ativa de professores e estudantes, considerando o quanto as tecnologias estão inseridas no nosso cotidiano”, complementa a gestora.

A proatividade de educadores e alunos no período resultou no recém-lançado e-book “Distantes, mas presentes: práticas que aproximam relatos de experiências educativas durante a pandemia”, que reúne 28 práticas de cultura digital criadas entre 2020 e 2021 na rede estadual. Entre elas, está o curta “Entre paredes”, desenvolvido pelos estudantes do 1º ano do ensino médio da EEEFM (Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio) Ary Parreiras, do município de Cariacica, orientados pelo professor Marcos Valério Guimarães, da disciplina Projeto de Vida. Assista ao vídeo:

O contexto pandêmico favoreceu a expansão da formação continuada em tecnologia dos profissionais da educação capixaba, explica a subsecretária. “Formando assim, aproximamos o professor dessa integração e, na prática, contribuímos para que ele experimente o desenvolvimento de competências voltadas às tecnologias e às suas possibilidades pedagógicas.”

Com a retomada das aulas presenciais, o momento é de dar um passo além, mas sem se esquecer da formação contínua, concordam as especialistas. Michelle Pinheiro sugere: “Conheça, estude e aplique as metodologias ativas. Se os educadores pensarem no Ensino Híbrido ou na Aprendizagem Baseada em Projetos neste momento, teremos o uso da tecnologia acontecendo da melhor forma possível”.

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base nacional comum curricular, formação de professores, novo ensino médio, tecnologia

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