Fundação Lemann leva Khan Academy a escolas públicas
Aulas traduzidas para o português estão chegando a 1.200 alunos das redes municipais de São Paulo e Santo André
por Patrícia Gomes 9 de agosto de 2012
Mal sabia Salman Khan, um físico formado pelo MIT, que as aulas despretensiosas de matemática que ele postava no YouTube para ajudar seus primos chegariam tão longe. Com vídeos curtos e simples, suas explicações ficaram tão populares na internet que ganharam o mundo. Agora, vídeos da Khan Academy traduzidos para o português estão chegando a mais de 1.200 alunos de escolas municipais de São Paulo e Santo André.
A iniciativa, parceria da Fundação Lemann com a Khan Academy, reuniu os vídeos traduzidos e contextualizados para a realidade brasileira em uma ferramenta on-line. Desde o início do ano, o projeto vinha sendo testado em seis turmas de três escolas. A partir das próximas semanas, no entanto, ele será levado a mais sete instituições, num total de 45 turmas majoritariamente de 4o e 5o anos nas aulas de matemática. “A intenção é que, no futuro, isso possa se tornar uma política pública”, diz Daniela Caldeirinha, coordenadora de projetos da fundação, ao apresentar o Khan Academy na Sala de Aula para os professores que participarão do projeto durante capacitação ocorrida hoje.
O primeiro passo em sala de aula, explica Daniela, é a criação de login e senha para que as crianças tenham acesso ao ambiente on-line, onde estão os vídeos e os exercícios. Enquanto os alunos exploram a ferramenta, o professor consegue acompanhar, em tempo real, o percentual de acertos dos estudantes, o número de vezes que eles tentaram um exercício até conseguir chegar ao resultado correto e aos vídeos que eles assistiram.
“O desempenho deles melhora muito e o raciocínio lógico também”, diz Angela Maria dos Santos, que dá aula na Emef Educandário Bom Duarte. A turma da professora estava entre as que receberam o projeto no início do ano e é composta por alunos vindos de famílias de baixa renda ou que moram na própria instituição. “Eles tinham muita dificuldade nas operações mais simples, como adição e subtração, e a ferramenta ajudou muito”, afirma.
Cada aluno da turma de Angela Maria que participa do projeto recebeu um laptop. “No dia que fomos entregar o computador, a Angela começou a chamar os alunos por ordem alfabética para receber o computador. O primeiro aluno a receber, o Alex, foi aplaudido de pé pelos colegas”, conta Daniela, que estava na escola neste dia. A Fundação Lemann doa kits com cerca de 30 laptops – o número varia conforme a escola, mas é calculado para que cada aluno trabalhe com seu computador – às escolas participantes. Para facilitar o trabalho, a organização oferece também suporte técnico para tirar dúvidas ou dar assistência remota aos professores.
Além do apoio técnico e dos equipamentos, a fundação dá apoio pedagógico aos professores em reuniões semanais. Nesses encontros, são discutidas as estratégias a serem empregadas em sala de aula e discutidos os resultados. “Não existe um único jeito de trabalhar com a ferramenta”, frisa Daniela. Em alguns momentos, metade da turma vai estar no ambiente on-line, enquanto a outra metade está desenvolvendo outra atividade. Às vezes, toda a turma estará junta assistindo aos vídeos. Para fins de avaliação do projeto, a fundação sugere que metade das aulas de matemática contem com a ferramenta.
Ao fim de todas as aulas, a fundação pede que os professores entreguem um formulário de autoavaliação aos alunos. Nesse formulário, as crianças devem dizer se fizeram a atividade, se acharam fácil, se aprenderam e se podem ensinar a um colega. Essa última informação, diz Daniela, pode ajudar os professores a programarem agrupamentos de alunos e trabalhos em equipe para as próximas aulas. As turmas que participarem do projeto e algumas que não participam e formam um grupo de controle farão uma prova antes de o projeto ser implementado e outra ao final do ano letivo.
Veja uma das aulas de matemática da Khan Academy traduzidos para o português: