Gestão de crise precisa estar na agenda da direção escolar
A crise não avisa quando chega. Nessas horas, os gestores precisam atuar com agilidade e transparência diante da equipe escolar e das famílias. É necessário ter muita responsabilidade, apuração e monitoramento
por Juliana Miranda 22 de maio de 2024
O cenário pós-Covid ainda traz os impactos da pandemia, que afetaram profundamente as relações humanas. O trabalho, o consumo, a comunicação e o comportamento da sociedade mudaram. A maneira de lidar com esse novo contexto exige habilidades e competências nem sempre desenvolvidas na mesma velocidade com que as transformações se apresentam. Nesse cenário, um dos setores que mais sofreu e ainda vem sentindo as consequências dessas mudanças é a educação.
Soma-se a isso famílias conectadas pelo WhatsApp. Por meio de grupos de pais, disseminam, por vezes, informações nem sempre apuradas no devido tempo e com o devido cuidado. Afinal, a escola é o espelho da sociedade e reflete aquilo de melhor e de pior que nela se manifesta. Conflitos sociais de todos os tipos intensificaram-se nos últimos anos, tendo a escola como palco e as famílias como vozes para a amplificação dos acontecimentos para além dos muros das instituições.
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Casos recentes de discriminação e bullying em escolas renomadas vêm ganhando os noticiários e, na rede pública, a situação é ainda mais preocupante. Violência e casos de suicídio aumentaram consideravelmente entre pré-adolescentes e jovens, o que afeta as escolas. Segundo os dados mais recentes do Ministério da Saúde, a morte por suicídio entre adolescentes de 15 a 19 anos cresceu 81% na última década. Em relação a situações de discriminação, por exemplo, de acordo com o relatório do Observatório Judaico dos Direitos Humanos no Brasil, episódios de antissemitismo envolvendo colégios saltaram mais de 510% em um ano no Brasil. Problemas relacionados ao bullying estão presentes em cerca de 38% das escolas brasileiras, segundo dados do 17º Anuário Brasileiro de Segurança Pública.
Em paralelo, o MEC (Ministério da Educação) acaba de anunciar protocolos de prevenção e resposta ao racismo, para serem aplicados em todas as instituições de ensino do país – públicas e privadas.
Em meio a esse cenário nada previsível estão os gestores escolares – a maioria habituada a uma gestão familiar. Assim, não contam com qualquer apoio ou preparo técnico para lidar com situações extremas, como ter a reputação de sua escola ameaçada de um dia para o outro na opinião pública.
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Aqueles que ainda não enfrentaram um acontecimento negativo que ameace a imagem de sua instituição estão no mesmo barco – o risco existe para todos, em maior ou menor grau, e a suscetibilidade nunca esteve tão presente nas salas de aula. A crise não avisa quando chega. Nessas horas, é preciso atuar com agilidade e transparência; muita responsabilidade, apuração e monitoramento. Não ter apoio especializado agrava a situação, isso porque eventuais erros iniciais na condução de um foco emergencial impactam diretamente na imagem da instituição, trazendo prejuízos reputacionais e financeiros.
Nessas situações, atentar-se ao que não deve ser feito também é fundamental: não agir com emoção; demorar para se posicionar ou se posicionar de maneira equivocada; entrar em discussões em redes sociais; subestimar o potencial de viralização da crise; terceirizar responsabilidades e, por fim, não solicitar apoio e agir por impulso. Essas são algumas das regras básicas para qualquer foco potencial.
E, como toda a crise também é oportunidade de aprendizado, tão importante quanto seu gerenciamento é o chamado pós-crise. Trata-se de um período oportuno para rever rotas, ampliar o diálogo com a comunidade escolar, reforçar ações e identificar gaps para evitar que outros focos sejam deflagrados.
É preciso lembrar que a escola não está blindada ao que acontece na sociedade, mas seu papel como agente transformador precisa ser reforçado com ações efetivas de combate a qualquer tipo de discriminação. Também é fundamental promover iniciativas que reforcem a valorização do respeito, da empatia e a promoção ao desenvolvimento socioemocional. Do lado das famílias, se faz necessária uma reflexão em relação ao seu papel educador. Ambas – família e escola – precisam caminhar de mãos dadas nesse processo, como uma rede de apoio capaz de contribuir para a mudança que tanto almejamos, de uma formação mais humanizada para nossas crianças e adolescentes.
Em relação ao gestor, é preciso considerar que o dia a dia da escola requer habilidades essenciais frente aos inúmeros desafios – que são muitos e cada vez mais complexos – de administrar uma instituição de ensino. Mas é certo que não se pode mais gerir às escuras, sem o devido preparo e mapeamento dos eventuais riscos. Ainda que uma boa gestão de crise possa mitigar impactos e blindar a marca, a prevenção sempre será a melhor alternativa.
Juliana Miranda
Jornalista com mais de 20 anos de experiência em comunicação corporativa, é CEO da Mira Comunicação e especialista em comunicação estratégica para o setor de educação.