Por que incluir a inteligência artificial nas práticas pedagógicas? - PORVIR

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Por que incluir a inteligência artificial nas práticas pedagógicas?

Há quem ainda tenha receio de levar ferramentas de IA para a sala de aula. Que tal conhecer boas estratégias para facilitar esse processo?

Parceria com Escolas Conectadas

por Ruam Oliveira ilustração relógio 25 de outubro de 2023

A temática da inteligência artificial na educação tem sido acompanhada aqui no Porvir e aparece com cada vez mais frequência em espaços de troca entre os professores. Boa parte dos educadores e das educadoras já reconhecem que estão diante de uma mudança de paradigma, e que é possível aproveitar as ferramentas que usam IA em suas práticas pedagógicas. 

Contudo, há ainda quem resista ou não saiba bem ao certo como lidar com essa tecnologia cada vez mais presente em diversas plataformas – incluindo as de educação. 

O ChatGPT – ferramenta de inteligência artificial generativa –, por exemplo, alavancou a discussão sobre o uso da IA dentro do ambiente escolar. Questionamentos como: “De que maneira poderemos saber se foi o estudante mesmo quem fez a redação?” ou “Será que essas ferramentas vão fazer com que postos de trabalho desapareçam?” são muitas vezes repetidos nas escolas e em grupos de professores. 

Apesar de estar em alta, não há uma obrigatoriedade para o uso de inteligência artificial na sala de aula, explica Ig Ibert Bittencourt, professor associado da UFAL (Universidade Federal de Alagoas) e pesquisador visitante da Escola de Educação da Universidade de Harvard (Estados Unidos) 

“O que estamos percebendo no mundo é um movimento muito grande em todos os setores, e não apenas na educação, e isso tende a aumentar à medida que essas tecnologias ficam mais robustas. As pessoas vão entendendo efetivamente que tipo de papel elas têm na promoção de aprendizagens dos estudantes”, afirma. 

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O pesquisador destaca que a inteligência artificial não deve ser vista como “balas de prata” – ou seja, soluções definitivas e que resolvem todos os problemas –, mas que os educadores podem explorá-las e procurar conhecer cada vez mais as múltiplas possibilidades de uso dentro das práticas pedagógicas.

“É normal ter medo ou ficar com receio desse tipo de tecnologia, mas o primeiro passo é entender que todos estão aprendendo nesse processo – sejam professores ou pesquisadores – e com isso estamos abertos a aprender colaborativamente como isso pode agregar valor à educação”, ressalta Ig.

Da tela para a prática 

O professor de matemática Deivide Nascimento, que atua no ensino fundamental e médio no colégio Marista Glória, em São Paulo (SP), conta que a inteligência artificial entrou na sua rotina de sala de aula quando viu que era possível tornar a matemática mais interessante por meio dela. 

É normal ter medo ou ficar com receio desse tipo de tecnologia, mas o primeiro passo é entender que todos estão aprendendo nesse processo

Ig Bittencourt, professor na UFAL e pesquisador de Harvard

O primeiro assunto que ele abordou neste ano foi a radiciação (método matemático inverso à potenciação) e sabia que, para isso, precisaria revisar os conteúdos de potenciação para, só então, iniciar o assunto pretendido. “Eu pensei em trabalhar o tema usando um jogo e pedi ao Chat GPT que me desse uma sugestão”, conta. 

Em uma outra proposta de jogo, o educador fez o seguinte pedido à plataforma: “Por favor, me ajude a criar um jogo que envolva os assuntos progressão aritmética (fórmula geral e soma de uma PA) e progressão geométrica (fórmula geral e soma finita de uma PG), para alunos do 8º ano do fundamental II”.

Com isso, a página lhe enviou uma série de sugestões contendo materiais necessários, regras possíveis e qual preparação seria necessária. Ele usou esses direcionamentos como base para dar início à criação de um jogo e foi aperfeiçoando conforme entendeu que seria melhor, levando também em consideração as necessidades da turma. 

“A inteligência artificial age como uma bússola confiável, apontando a direção. A jornada, porém, é trilhada pelo educador. Simplesmente seguir um caminho único nem sempre resultará no melhor desfecho; é fundamental ajustar o percurso de acordo com as necessidades pedagógicas de cada nível escolar”, destaca. 

Assista ao Webinário do Escolas Conectadas sobre este tema

Para ele, a inclusão da inteligência artificial em suas práticas pedagógicas aconteceu de forma natural. “Acho difícil lutar contra a maré”, comenta Deivide. O professor ressalta que, com o tempo, cada vez mais plataformas de educação estão incluindo aspectos de inteligência artificial em suas ferramentas e lutar contra isso pode significar estagnar a própria prática. 

O professor de matemática é um entusiasta desse uso de inteligência artificial em suas práticas pedagógicas e as utiliza principalmente na elaboração de atividades gamificadas. 

Ele já desenvolveu outros jogos com o apoio de inteligência artificial e até mesmo influenciou colegas de escola a criarem os próprios, disseminando entre o corpo docente essa prática. Essa acaba sendo uma outra estratégia: trabalhar em colaboração com colegas, seja para aprender, para tirar dúvidas ou colocar em prática tais ferramentas. 

Caminhos possíveis 

O professor Ig destaca que existem diferentes caminhos para introduzir a inteligência artificial nas práticas pedagógicas, desde aquelas que auxiliam estudantes com deficiência até as que exploram o desenvolvimento da criatividade ou o ensino de idiomas, por exemplo. 

Em relação ao trabalho docente, Ig sugere que, com a inteligência artificial, os professores podem incluir tecnologias para preparar planos de aula ou reconstruir casos práticos para estimular debates entre os alunos. 

Temos de lembrar que esse é um processo de transformação digital e toda transformação digital é, antes de mais nada, uma transformação cultural.

Ig Bittencourt, professor na UFAL e pesquisador na Universidade de Harvard

Até mesmo gestores escolares podem se beneficiar de algumas funcionalidades das inteligências artificiais para observar níveis de aprendizagem, bem estar das equipes ou pensar na gestão de alimentos e recursos, por exemplo. 

Desafios à frente 

Mesmo com boa vontade e abertura, ter alguns conhecimentos prévios sobre essas ferramentas auxilia no momento da implementação. No caso do professor Deivide, a facilidade que ele tinha com plataformas digitais o auxiliou nesse processo, mas essa nem sempre é a realidade da maioria das pessoas. 

“Acredito que a formação continuada é importante, mas precisamos ter coragem de transformar a educação básica brasileira. Coragem para, além de repensar a formação a distância, repensar também os currículos para entender o que de fato faz com que a gente tenha, ao final da graduação, um professor capaz de efetivamente fazer com que seus alunos se engajem, aprendam, desenvolvam e mantenham o bem-estar”, reflete Ig. 

Para o pesquisador, a formação inicial ainda é um grande desafio. Em 2022, o MEC (Ministério da Educação) homologou um complemento à BNCC (Base Nacional Comum Curricular) focado em normas de computação na educação. Ig destaca que esse feito também ampliou a necessidade de incluir letramento computacional – a capacidade de utilizar os códigos e conhecer computação – desde a graduação até as formações continuadas. 

Formação: Acesse o curso gratuito “Introdução à inteligência artificial: usos simples e criativos para transformar a aprendizagem”, da plataforma Escolas Conectadas. 

Para além de um uso mais sistematizado das inteligências artificiais em sala de aula, Ig considera que não se trata somente de facilitar processos. Muitos professores já utilizam inteligências artificiais generativas, como o Chat GPT, citado acima, e o Bard (inteligência artificial do Google), para elaborar planos de aula, pensar em formas de pesquisa ou até mesmo ensinar pensamento crítico à turma. 

“Temos de lembrar que esse é um processo de transformação digital e toda transformação digital é, antes de mais nada, uma transformação cultural. Um dos maiores erros é pensar que a transformação digital é sobre tecnologia, mas na verdade é sobre pessoas”, disse Ig. 

É necessário, portanto, também reconhecer que essas mudanças atingem pessoas, que no caso da educação é o foco principal. 

Deivide salienta que essa alteração acaba não ficando longe da perspectiva dos professores que usam IA. Isso porque, apesar de os estudantes estarem imersos em tecnologia, ainda há a necessidade de ensiná-los a utilizá-la de maneira mais qualificada. 

Se, por exemplo, eles conhecem o Chat GPT, os educadores podem tentar se aprofundar um pouco mais nessa temática tendo em vista um uso coletivo mais adequado que corresponda aos desafios atuais da educação. 

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inteligência artificial, tecnologia

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