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Inovações em Educação

Identificar para incluir: como sensibilizar educadores sobre dislexia

Para especialistas, entender do que se trata o transtorno é um dos objetivos mais importantes para garantir a inclusão de crianças com dislexia nas escolas

Parceria com Editora Moderna

por Ruam Oliveira ilustração relógio 13 de setembro de 2023

Uma escola inclusiva é aquela que está disposta a ensinar a todas as pessoas. Independentemente de terem  ou não deficiência. Em muitos casos, esse conceito se perde e, com ele, a oportunidade de muitas crianças, adolescentes e jovens de aprender. Dentre esses, podem estar as crianças com dislexia.

A dislexia é apontada como o transtorno de maior incidência nas escolas (entre 5% e 17%) em todo o mundo. De acordo com dados do Instituto ABCD, especializado em dislexia, aproximadamente 4% da população brasileira possui o distúrbio, que se manifesta majoritariamente durante a fase de alfabetização. 

A dislexia está classificada, de acordo com os principais Manuais Diagnósticos em Saúde, como um TEAp (Transtorno Específico de Aprendizagem) das habilidades de leitura e escrita, explica a ABD (Associação Brasileira de Dislexia). Ou seja, para que o diagnóstico seja concluído, é necessário que a pessoa saiba ler e escrever

Segundo Danielle Voelin, fonoaudióloga, o diagnóstico de dislexia só pode ser confirmado após os nove anos de idade, devido à “maturação neurológica de áreas essenciais para a aprendizagem”.

Contudo, já no período de alfabetização é possível observar alguns sinais. “Esta identificação e uma consequente intervenção podem resultar em melhoras significativas das habilidades linguístico-cognitivas e na diminuição do fracasso escolar (favorecendo tanto o aluno quanto os professores, já que o déficit de conteúdo escolar a ser compensado será menor)”, diz Daniele.

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Ao longo desse processo, a fonoaudióloga afirma que os educadores são fundamentais não apenas no auxílio da identificação do transtorno, como também no apoio a especialistas, como é o caso da fonoaudiologia. 

“Existem fatores que são considerados como preditivos para o bom desempenho da leitura, como habilidades de consciência fonológica, conhecimento do alfabeto, nomeação automática rápida e repetição de não palavras”, diz. “Sendo assim, os professores de pré-escola e dos 1º e 2º anos podem identificar alunos que apresentam desempenho abaixo do esperado nestas habilidades e que, consequentemente, configuram o perfil de estudantes de risco para a dislexia”, conclui. 

Para ela, essa identificação permite que até mesmo os professores realizem algumas intervenções em sala de aula e encaminhem os estudantes para uma avaliação interdisciplinar antes que o quadro se agrave.

E como os educadores e a escola podem atuar para incluir crianças com dislexia?

Antes de iniciar qualquer trabalho, a escola – na figura de integrantes da gestão escolar, coordenação e corpo docente – precisa entender o que é a dislexia e qual sua principal característica. Samara Cazzoli y Goya, colaboradora pedagógica da Turma do Jiló e especialista em educação inclusiva, destaca que para além de ter uma formação específica, os professores devem sobretudo ter conhecimento a respeito do que estão lidando. 

Formadora de professores, Samara conta que durante as aulas as dúvidas recorrentes envolvem “o que é e como acolher o aluno?”. Neste contexto, sua recomendação é mudar a perspectiva de docentes da dificuldade para as habilidades que os alunos possuem. 

“É uma coisa impressionante a classe dos professores. Eles têm uma capacidade muito rápida e eficaz de criar e pensar em atividades, sobretudo na escola pública, porque atendem a maior porcentagem de alunos neurodivergentes”, conta. Para ela, após entenderem o que é a dislexia – ou outro tipo de transtorno – a maior parte dos educadores já consegue tomar atitudes mais inclusivas.  

Diferentes modelos e abordagens 

A ABD defende que é na escola que a dislexia, de fato, aparece. A organização ressalta que, mesmo que pessoas com dislexia enfrentem dificuldades em outros ambientes ou situações, esses desafios não se comparam com o que encontram na escola, onde a leitura e a escrita são valorizadas e permanentemente utilizadas.

Os modelos educacionais existentes nem sempre dialogam com as necessidades de todos os alunos. “A escola que conhecemos certamente não foi feita para estes estudantes neurodivergentes”, destaca a instituição. 

Samara considera que a existência de um currículo padronizado também torna a inclusão mais difícil de se concretizar. “Recebemos um currículo que normalmente foca muito em um conteúdo que obriga os professores a seguirem em uma mesma velocidade e isso é terrível. As crianças não têm ‘tamanho único’, sejam disléxicas ou não”, afirma. 

Flexibilizar os currículos, para ela, seria uma forma de garantir que haja uma redução de perdas na aprendizagem de crianças com dislexia. 

Estratégias para uma boa aula 

Uma demanda comum é identificar as melhores estratégias para ajudar crianças com dislexia a aprender. Especialistas consultadas pelo Porvir destacam que, embora existam muitas abordagens, é essencial adaptá-las à individualidade de cada criança.

Entre boas estratégias citadas pelas especialistas estão: 

  • dar preferência a avaliações orais;
  • realizar perguntas objetivas e reduzir o número de questões caso haja a necessidade de avaliações escritas;
  • oferecer um tempo maior para a realização das provas;
  • permitir o uso de gravadores para auxiliar no estudo em casa;
  • consentir o uso de dicionários para que o aluno faça a correção dos seus erros ortográficos;
  • utilizar aplicativos que convertem texto em fala.

Uma outra aliada da educação inclusiva é a tecnologia, que pode ser usada também em casos de alunos com dislexia. A ABD elenca, entre os principais pontos positivos do uso de tecnologia com alunos disléxicos, a possibilidade de personalização, visualização de informações, acessibilidade e retorno mais rápido, por exemplo. 

“As ferramentas digitais são fundamentais, existe a tecnologia assistiva que auxilia a criança na leitura, por exemplo”, diz Samara. Para ela, os estudantes devem utilizar essas ferramentas estando acompanhados e com mediação dos professores, nunca sozinhos. Isso para evitar o risco de que elas se distraiam ou acessem conteúdos distintos dos previstos em sala. 

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ensino fundamental, Série Desafios da Educação Inclusiva

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