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Inovações em Educação

Jantares virtuais para trabalhar empatia

Virtual Dinner Guest reúne famílias, professores e estudantes de diferentes países, em volta da mesa, para trocar conhecimento

por Carolina Lenoir ilustração relógio 1 de outubro de 2013

Na próxima vez que você se sentar à mesa de jantar, esqueça os manuais de etiqueta. Saia da refeição empanturrado e comente sobre isso em alto e bom som – fale com a mente cheia (e talvez com a boca também). Essa é a ideia por trás do The Virtual Dinner Guest Project, que tem conectado pessoas ao redor do mundo, inclusive professores e estudantes universitários, por meio de uma chamada de Skype, a partir de suas mesas de jantar. Mais do que compartilhar comida e conversa em um dos ambientes de socialização mais antigos e universais, o projeto tem um objetivo educacional claro: o de fomentar o conhecimento, o entendimento e a tolerância entre pessoas de países e contextos diferentes, ao ligá-las por meio de discussões sobre questões essencialmente humanas.

Criado há dois anos pelo norte-americano Eric Maddox – formado em filosofia e pós-graduado em resolução de conflitos internacionais –, o projeto busca corrigir narrativas distorcidas ao possibilitar que cidadãos de todo o mundo compartilhem suas realidades e colaborem para desconstruir estereótipos. O jornal da noite é substituído por um diálogo direto e em tempo real entre dois grupos de dois países diferentes, que estão vivenciando o que, até então, só se sabia a partir da mídia. A mesa e o jantar são imprescindíveis, assim como computadores e webcam, mas os cenários podem ser os mais distintos, desde uma sala de aula até um espaço público.

Jantares virtuais reúnem pessoas de todo o mundo para desenvolver empatia entre povoscrédito tashka2000 / Fotolia.com

Maddox explica que, durante os jantares, é usado o “método socrático” ou “modelo dialético” de investigação crítica, em que os participantes perguntam uns aos outros questões baseadas em um texto que leram juntos. Esse modelo foi muito inspirado pela faculdade onde ele se formou, a St. John’s College, em Santa Fé, Novo México, nos Estados Unidos. “Os jantares são mediados por mim ou pela minha equipe de um lado, e por um representante de uma organização na outra extremidade, que pode ser um professor, jornalista ou um membro de uma ONG, por exemplo.”

Os grupos não precisam ser de países que estejam em meio a algum conflito entre si. Participantes da Tunísia, Egito, Líbano e Síria, por exemplo, conversaram sobre as similaridades dos embates internos de cada país a partir das mudanças políticas recentes. Além disso, as conversas podem girar em torno de outros tipos de conflito, como cultural, econômico, religioso ou qualquer outro baseado em identidade

No começo do The Virtual Dinner Guest Project (ou VDGP), os grupos que participavam da conversa eram formados aleatoriamente, geralmente com cinco ou seis pessoas de cada lado da videoconferência. Com o tempo, Eric percebeu a necessidade de os participantes terem um vínculo com alguma organização, para proporcionar estrutura e foco. “Podem ser instituições de ensino, organizações não-governamentais, associações comunitárias ou meios de comunicação. Buscamos essencialmente organizações que entendam e representem bem o ambiente em que estão inseridas”, afirma o diretor. As pessoas que desejam participar individualmente são bem-vindas, mas, como o projeto tem recursos limitados e demanda a participação em grupos, o VDTP pede que os interessados identifiquem uma organização que possa sediar o jantar e fornecer o equipamento necessário.

Entre as universidades que já participaram estão University of New Mexico e Northwestern University, nos Estados Unidos, e estudantes da também norte-americana Yale e da London School of Economics, na Inglaterra. Instituições acadêmicas de países como Austrália e Irlanda, além do Oriente Médio, já manifestaram interesse em participar dos eventos nos próximos meses. O projeto está em busca de organizações em toda a América Latina interessadas em fazer parte dos jantares.

Desde o ano passado, o projeto se estabeleceu no Oriente Médio e no norte da África. Porém, de acordo com Maddox, todos os países têm lugar à mesa. “Os grupos não precisam ser de países que estejam em meio a algum conflito entre si. Participantes da Tunísia, Egito, Líbano e Síria, por exemplo, conversaram sobre as similaridades dos embates internos de cada país a partir das mudanças políticas recentes. Além disso, as conversas podem girar em torno de outros tipos de conflito, como cultural, econômico, religioso ou qualquer outro baseado em identidade”, explica ele, que vê como possível também a realização de um evento do VDGP entre grupos de um mesmo país.

O norte-americano entende que, a fim de alcançar resultados significativos, a discussão deve ir além do núcleo de participantes do jantar. Por isso, ao fim da conversa, cada grupo faz uma pergunta para que o outro saia às ruas de seu país e peça para cidadãos comuns respondê-la. “O compromisso é que sejam abordadas pessoas fora do círculo social habitual dos participantes, com um foco especial naquelas cujas vozes são geralmente ignoradas pela mídia. Só assim é possível construir algo representativo, que vá além de simplesmente compartilhar os pontos de vista de pessoas que pensam da mesma forma”, afirma o diretor.

As respostas e as reações são filmadas e postadas no site e no Facebook do projeto. A necessidade desse tipo de abordagem fica clara quando comparados os vídeos feitos por um grupo da Carolina do Norte, nos Estados Unidos, e outro do Cairo, no Egito. Ambos tinham a missão de perguntar para seus compatriotas o que eles falariam para cidadãos do outro país caso tivessem a oportunidade. Os vídeos mostram que ainda existe um nível preocupante de ignorância e preconceito, mas também que há quem esteja disposto a aprender sobre as diferenças e os valores em comum entre os povos. Compare!


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socioemocionais

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