Lucro em lugar de quantidade: Os números dos MOOCs em 2016
Veja os temas e cursos mais buscados e entenda por que cada vez mais sites estão cobrando por recursos que já foram gratuitos
por Dhawal Shah, para o EdSurge 10 de janeiro de 2017
O movimento de cursos abertos online, que começou quando a Universidade de Stanford ofereceu em 2011 os primeiros MOOCs (sigla em inglês para cursos online abertos massivos), já tem meia década de idade. Naquela época, os fornecedores dos cursos tinham acabado de levantar US$ 400 milhões de investimento e hoje empregam mais de 1.000 funcionários.
O brilho dessas empresas diminuiu, porém elas continuam a expandir sua presença. Em 2016, 23 milhões de pessoas se cadastraram para fazer um curso pela primeira vez, de acordo com dados da Class Central. Um quarto desses usuários usou sites regionais como XuetangX (criado pela Universidade de Tsinghua e o Ministério da Educação da China) e Miríada X (uma parceria da Fundação Telefónica e o Banco Santander por meio da Universia na América Latina). O total de estudantes que entrou em pelo menos um curso chegou a 58 milhões, contra 35 milhões em 2015.
De acordo com o número de cadastros, o Coursera continua sendo o maior ofertante de MOOCs no mundo, com mais de 23 milhões de alunos. Dentre os cinco maiores sites, apenas XuetangX é uma plataforma de língua não-inglesa:
1) Coursera – 23 milhões
2) edX – 10 milhões
3) XuetangX – 6 milhões
4) FutureLearn – 5,3 milhões
5) Udacity – 4 milhões
Em 2016, 2.600 novos cursos foram anunciados (contra 1.800 em 2015), o que elevou o total de MOOCs para 6.850 em mais de 700 universidades. Até mesmo a Universidade de Oxford, uma das mais antigas do mundo, pegou o bonde dos MOOCs.
Ao contrário dos últimos anos, não houve nenhuma rodada significativa de investimento nas plataformas em 2016. Isso significa que para muitas delas, gerar caixa se tornou prioridade. Alguns dos recursos que antes eram oferecidos de graça – certificados, exercícios valendo nota e conteúdos – já não são encontrados mais dessa maneira. Todos os maiores sites já têm planos de lançar cursos apenas no modelo pago.
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Maiores tendências de 2016
MOOCs não são mais massivos: Os MOOCs estão gradativamente se transformando de salas virtuais em uma experiência mais parecidas com a plataforma de vídeos Netflix. Muitos cursos não são mais oferecidos apenas uma ou duas vezes por ano, e agora estão disponíveis para que o usuário experimente no próprio ritmo, quando ele desejar. O Coursera agora oferece cursos o ano todo, com novas sessões começando a cada duas semanas ou mensalmente.
Essa mudança levou a um significativo aumento no número de cursos em que osn estudantes podem entrar e começar quase que instantaneamente. Antes, era necessário entrar em uma turma gigante e os cursos eram oferecidos sem uma frequência específica.
Isso significa que, ao invés de 10 mil pessoas aprendendo juntas, muitos estudantes estão no próprio ritmo, em grupos muito menores. De maneira perceptível, a atividade no fórum de muitos cursos é quase inexistente. Houve uma época em que o Coursera dizia que os usuários passavam 22 minutos respondendo nos fóruns, mas esse não é mais o caso.
Créditos em faculdades, certificações e diplomas: Os estudantes vão pagar para provar que completaram um curso? Essa parece ser a aposta entre as plataformas de MOOCs, que agora oferecem mais de 250 certificações. (Relacionadas a 750 cursos, uma vez que cada certificação consiste de aproximadamente três cursos).
Aqui vai um resumo do que aconteceu em 2016. A ordem é aleatória:
1) O edX expandiu MicroMasters (micromestrados) para 14 universidades diferentes.
2) O FutureLearn anunciou seis cursos de pós-graduação da Universidadede Deakin e lançou uma nova certificação chamada FutureLearn Programs.
3) O Kadenze lançou seu próprio sistema de certificações, chamado Kadenze Programs.
4) O Coursera aumentou o número de especializações para 160 e também anunciou o segundo programa de mestrado com a Universidade de Illinois.
5) Quase 4.000 estudantes estão matriculados no programa de mestrado da Udacity em parceria com a universidade de Georgia Tech.
Fornecedores regionais de MOOCs ganharam fôlego: Cerca de 25% dos novos alunos de cursos online foram atraídos por sites regionais em línguas diferentes do inglês. XuetangX (China), Miríada X (América Latina) possuem milhões de alunos, enquanto a France Université Numérique e a Edraak (Oriente Médio e norte da África) estão perto de superar a marca do primeiro milhão. O ano também foi marcado pelo lançamento da SWAYAM, a plataforma oficial da Índia, e pela EduOpen, financiada pelo governo da Itália.
Cursos pagos: Em junho, o Coursera pilotou um novo formato em que todos os materiais do curso, incluindo vídeos, estavam por trás de um paywall (sistema de cobrança). Desde então, o site acrescentou diversos cursos exclusivamente pagos. O movimento não é novo; o edX também tem cursos assim desde 2014, sob o nome de “Educação Profissional”. O FutureLearn também anunciou a intenção de oferecer cursos pagos dentro dos seis da pós da Universidade de Deakin. Os cursos terão amostras grátis, mas a maior parte das disciplinas será paga.
Menos cursos individuais: Para as plataformas de MOOCs que oferecem suas próprias certificações (especializações, nanodegrees, Xseries), a maior parte dos novos cursos está dentro desse sistema. Em alguns casos, os cursos foram divididos em certificações. O curso sobre modelos gráficos de probabilidade com cofundadora do Coursera, Daphne Koller, foi dividido em três e agora virou uma especialização.
Guinada para o modelo Business to Business (B2B): As empresas vão pagar? Em 2016, o Coursera anunciou o Coursera para empresas. O Udacity, que trabalhou com diversos nomes da tecnologia para criar seus nanodegrees, também possui produto focado no treinamento profissional. O FutureLearn também tem um produto corporativo, com página exclusiva para áreas como medicina e escolas.
Temas
Como em 2015, cursos na áreas de negócios e tecnologia (ciência da computação, dados e programação) dominaram os lançamentos. Juntos, eles respondem por 40% de todos os novos cursos criados em 2016. Essa concentração não é uma surpresa, dado que os certificados pagos oferecidos pelas plataformas estão direcionados a essa áreas.
Fornecedores
Com mais de 1.700 cursos ativos, o Coursera tem a maior diversidade, mesmo depois de interromper centenas de cursos. O edX, com 1.300 cursos, vem em segundo, seguido pelo FutureLearn e seus 480 cursos.
Fora dos Estados Unidos, o Miríada X, da América Latina, oferece 350 cursos em espanhol. Na China, o XuetangX tem mais de 300 cursos em chinês.
Cursos mais bem avaliados
Cerca de 2.600 cursos foram oferecidos pela primeira vez em 2016. Após análise de mais de 8.000 comentários dos usuários do Class Central, nós conseguimos fazer um ranking (pela inferência bayesiana de suas notas) para criar uma lista dos melhores cursos gratuitos de 2016.
1) Coding in your Classroom, Now! (Programando em sala de aula, Agora!) da Universidade de Urbino no EMMA
2) Tsinghua Chinese: Start Talking with 1.3 Billion People (Chinês Tsinghua: comece a falar com 1,3 bilhão de pessoas) da Universidade de Tsinghua no edX
3) The Nature of Code (A natureza da programação) da Processing Foundation no Kadenze
4) Introduction to Agent-based Modeling (Introdução à modelagem baseada em agente) do Santa Fe Institute no Complexity Explorer
5) The 3D Printing Revolution (A revolução da impressão 3D) da Universidade de Illinois em Urbana-Champaign no Coursera
6) Becoming a changemaker: Introduction to Social Innovation (Tornando-se um agente de mudanças: introdução à inovação social) da Universidade de Cape Town no Coursera
7) Preparing to Manage Human Resources (Preparação para gestão de recursos humanos) da Universidade de Minnesota no Coursera
8) Creative Applications of Deep Learning with TensorFlow (Aplicações criativas de aprendizagem profunda com TensorFlow) no Kadenze
9) Teaching for Change: An African Philosophical Approach (Ensinando para mudança: uma abordagem filosófica africana) da Universidade Stellenbosch no FutureLearn
10) Stanford Introduction to Food and Health (Introdução de Stanford à alimentação e saúde) da Universidade de Stanford no Coursera
Mais buscados
Os usuários do Class Central fizeram mais de 270.000 buscas usando 70.000 termos. As 25 palavras-chave mais usadas (traduzidas para o Português, quando necessário) respondem a 12% do total: python, java, machine learning, redação, inglês, estatística, ciência de dados, processamento de imagem, c, excel, psicologia, big data, espanhol, marketing, francês, contabilidade, gestão de projetos, finanças, android, música, javascript, sql, direito, fotografia, alemão.
Melhores universidades
Usamos as avaliações dos cursos para representar as universidades e então fizemos uma inferência bayesiana. Excluímos as instituições com menos de cinco cursos ou menos de 50 notas.
1) Instituto de Santa Fe
2) Universidade de Cape Town
3) Universidade Vanderbilt
4) Universidade de Michigan
5) Universidade de Groningen
6) Universidade de Duke
7) Universidade de Leiden
8) Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT)
9) Universidade de Harvard
10) Universidade de Yale
2016: Monetização em lugar de tamanho
Quando fiz meu primeiro MOOC, em outubro de 2011, os vídeos, tarefas e certificados eram livres. Agora muitos deles não são mais gratuitos. No caso do Coursera, até os exercícios que valem nota estão por trás de um sistema de pagamentos. O número de recursos e experiências que eram gratuitos encolheu dramaticamente nos últimos anos, levando à questão de quão “abertos” os MOOCs realmente são. Fazer o curso simultaneamente com milhares de alunos não é mais um chamariz (do ponto de vista dos fornecedores). Houve uma mudança para o foco em profissionais que buscam qualificar a carreira em detrimento dos curiosos e daqueles que só querem aprender algo novo para a vida.
Em 2017, as atenções de fornecedores serão ainda mais direcionadas a isso, com certificações e conteúdos relacionados a habilidades com maior demanda em negócios e tecnologia. Também veremos os fornecedores de MOOCs tentando entrar no lucrativo mercado de treinamentos corporativos.
Dhawal Shah é fundador e presidente-executivo do Class Central, site que funciona como agregador de cursos online.
* Artigo publicado originalmente no EdSurge e traduzido mediante autorização.