Museu argentino conta a história da escola
Em Buenos Aires, Museo de las Escuelas proporciona experiência interativa por diferentes práticas escolares
por Marina Lopes 3 de novembro de 2015
Imagine voltar no tempo e entrar em uma sala de aula do século passado. Quais práticas foram transformadas? O que permanece igual até hoje? Em Buenos Aires, o Museo de las Escuelas é um convite para conhecer a história da educação. Com um acervo de mais de três mil peças, entre objetos, móveis, documentos, fotografias e livros didáticos, os visitantes participam de uma experiência imersiva por diferentes períodos da escola argentina.
Em diferentes espaços, como uma sala de aula tradicional ou o pátio do recreio, o público é convidado a recriar práticas escolares de leitura, escrita e atividades lúdicas. “A experiência para quem vai ao museu é muito interessante. Nós contamos a sua história escolar por meio de um exercício de temporalidade e identidade entre gerações”, explicou Silvia Alderoqui, diretora do espaço e especialista em didática das ciências sociais e da arte, em entrevista ao Porvir.
Na última semana, Alderoqui esteve no Brasil para participar do Seminário Internacional Diálogos em Educação e Museu, realizado pelo Núcleo de Ação Educativa da Pinacoteca do Estado de São Paulo, entre 27 e 30 de outubro. Durante sua apresentação, que aconteceu no último dia do evento, ela falou sobre participação do público em museus e compartilhou a experiência do espaço cultural argentino.
Criado em 2002, a partir de um convênio entre o Ministério da Educação da Cidade de Buenos Aires e a Universidade Nacional de Luján, o museu tem como público principal as escolas básicas e centros de formação docente do país. Além do seu acervo, em grande parte composto por doações, o museu considera os visitantes como o seu maior patrimônio. “Estamos convencidos de que nós precisamos mais da comunidade do que ela precisa dos museus”, mencionou durante sua apresentação, ao defender que as experiências em museus sejam mais centradas nos visitantes.
No museu argentino, os recursos participativos são parte importante da visitação. Em diferentes exposições, o público é convidado a interagir e deixar registrada a sua experiência escolar, como escrever em uma lousa diferentes formas que os professores usam para pedir silêncio na sala de aula.
Ao vivenciar diferentes períodos e práticas escolares, que abrangem desde o início do século 20 até quase 1980, o visitante consegue fazer uma análise sobre os métodos que ainda são mantidos na educação. “É possível perceber algumas continuidades em concepções muito rígidas de escola, enquanto outras práticas já são mais flexíveis”, explica Alderoqui. “Antes a sociedade vivia com outro tipo de modelo para educar. Com o passar do tempo criamos esse modelo para ser massivo”, completa.
Além das experiências que acontecem dentro do Museo de las Escuelas , são organizadas pequenas mostras itinerantes em instituições públicas e privadas, que recebem painéis sobre a história da educação. Para o próximo ano, o museu está organizando uma exposição sobre a escola do futuro, que irá levar em conta as idealizações feitas por alunos, pais e educadores.
Após o seminário, em entrevista ao Porvir, Silvia Alderoqui também falou sobre o diálogo que deve existir entre museu e escola. Confira um trecho da conversa:
Porvir – Qual é a relação entre escola e museu? O que eles têm em comum?
Alderoqui – Na América Latina, os dois nasceram na mesma época. Quando se organizaram as nações, surgiram os sistemas educativos para ensinar e os museus para contar e preservar as histórias. Na Europa aconteceu um processo um pouco distinto, mas na américa foi assim.
Escola e museu se relacionam na sua origem, mas depois eles se separam um pouco. Os museus se concentraram apenas na investigação e as escolas seguiram educando. Agora, eles estão tratando de regressar.
Porvir – O que fazer para aproximar a escola do museu?
Alderoqui – Os museus precisam considerar que as escolas, professores e alunos são comunidades interessantes para se trabalhar, e não apenas estatísticas de visitas. Eles precisam trabalhar para que as visitas sejam uma experiência diferente, que apresentam resultados interessantes para a escola.
Porvir – Como educar uma criança para gostar de ir ao museu?
Alderoqui – O desafio está em fazer com que as crianças tenham boas experiências quando vão a museus. Elas precisam ter uma experiência memorável, que não imite estrutura de uma sala de aula. Os 40 ou 50 minutos que ela passa dentro de um museu precisam ser diferentes. Esse tempo deve ser desenhado para informar a criança de uma forma imaginativa e criativa. Precisa ser uma experiência verdadeira, e não apenas uma vivencia.