O Futuro se Equilibra #006 - Aprendizagem Inacessível - PORVIR
Jéssica Figueiró / Porvir

Podcast O Futuro se Equilibra

O Futuro se Equilibra #006 – Aprendizagem Inacessível

O sexto episódio de O Futuro se equilibra conversou com Claudia Werneck, fundadora da Escola de Gente, sobre a importância da acessibilidade na educação e como ela está relacionada com a equidade

por Redação ilustração relógio 19 de janeiro de 2022

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Podcast O Futuro se Equilibra

Garantir que todas as alunas e todos os alunos entendam, se comuniquem e tenham o máximo aprendizado possível nas aulas deve ser uma preocupação de todas as escolas. Na verdade, de todas as pessoas que são preocupadas com a educação.

Infelizmente nem sempre é assim. Muitas vezes o caminho para a equidade é dificultado pela falta de acessibilidade, seja ela física, comunicacional ou de outra ordem. O sexto episódio de O Futuro se Equilibra traz uma reflexão sobre o que é necessário para que a acessibilidade deixe de ser vista apenas como um acessório. Claudia Werneck, fundadora da Escola de Gente e convidada desta edição, defende que a inclusão é o marco zero da equidade e, sem acessibilidade, não é possível alcançá-la.

A Bianca Dias Tagliacozzo, que tem síndrome de Down, conta um pouco sobre sua trajetória escolar e como foi chegar até o ensino superior.
Atualização: A Bianca Dias Tagliacozzo iniciou os estudos aos três anos, quando foi alfabetizada, e não aos seis. 

Apresentação: Tatiana Klix
Produção: Gabriela Cunha e Larissa Werneck
Edição e captação de som: Gabriel Reis
Roteiro: Ruam Oliveira e Tatiana Klix
Concepção: Ruam Oliveira, Tatiana Klix e Vinícius de Oliveira
Apoio estratégico: Vinícius de Oliveira e José Jacinto Amaral
Música: Unicorn Heads, Asher Fulero, Steve Adams, Dan Henig, Cheel, Godmode e Reed Mathis.

[Áudio disponível em libras]

 

identidade visual de o futuro se equilibra - o podcast

[início]

[música de fundo]

[Claudia Werneck]

A acessibilidade comunicacional, principalmente, ela é a base da equidade. Porque imagina que você seria se você nunca pudesse ter se comunicado com alguém, nunca pudesse ter expressado sua opinião e nunca pudesse ter recebido informação, nunca pudesse ter lido um livro, nunca pudesse ter conversado sobre algum assunto.

Então a acessibilidade comunicacional não é um detalhe, alguma coisa que entra no final para completar o processo de construção de equidade. Ela é a parte inerente. Ele é o marco zero da equidade, porque ela garante que as pessoas sejam representadas naquilo que elas são e possam comunicar o que pensam, e possam saber o que as outras pessoas estão pensando. Entretanto, esse não é o pensamento habitual. A acessibilidade comunicacional, ela é muito esquecida, muito esquecida mesmo nesse papel de estrutura, como estruturantes do processo de equidade.

[música de fundo]

[Tatiana Klix]

Essa que você ouviu é a Claudia Werneck, fundadora da Escola de Gente. Ela é a nossa convidada do episódio de hoje de O Futuro se Equilibra, sobre o papel da acessibilidade na busca por equidade na educação.

Eu sou Tatiana Klix, diretora do Porvir, seja bem vindo, seja bem vinda.

[música de fundo]

[Tatiana Klix]

Quando falamos em acessibilidade, estamos falando da condição necessária para qualquer processo de inclusão. Trata-se também da eliminação de barreiras que impedem as pessoas de realizarem atividades e exercerem funções na sociedade. Neste sentido, o direito de falar e ser ouvido, de compreender, de fazer parte de conversas, é o ponto de partida da acessibilidade.

O Brasil tem muitos mecanismos que defendem e asseguram os direitos das pessoas com deficiência. Para  citar um exemplo, temos a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência, promulgada em 2015, que se propõe a promover, em condições de igualdade, o exercício dos direitos e liberdades fundamentais dessas pessoas. A lei visa a inclusão social e a garantia da cidadania.

E a escola está dentro disso. O capítulo 4 dessa mesma lei fala especificamente sobre o direito à educação.

[filtro na voz]

Art. 27. A educação constitui direito da pessoa com deficiência, assegurados sistema educacional inclusivo em todos os níveis e aprendizado ao longo de toda a vida, de forma a alcançar o máximo desenvolvimento possível de seus talentos e habilidades físicas, sensoriais, intelectuais e sociais, segundo suas características, interesses e necessidades de aprendizagem.

[Tatiana Klix]
[música de fundo]

Aqui no podcast, nós  sempre ouvimos uma história real, inspirada em pessoas reais e que nos ajudam a ver na prática como é a vida de alguém que tem algum desses marcadores sociais e como isso afeta sua vida escolar.

Hoje vamos conhecer a Bianca Dias Tagliacozzo, de 25 anos, que tem Síndrome de Down e é formada em educação física.

Quem interpreta é a Flávia Souza.

[início do relato]

Meu nome é Bianca Dias Tagliacozzo e tenho 25 anos. Tenho Síndrome de Down e até me formar em educação física na faculdade eu estudei em 5 escolas diferentes. Todas elas de ensino regular.

[música de fundo]

No ensino infantil, minha mãe conta que esse foi o período em que eu sofri menos preconceitos. As crianças só queriam brincar, então não davam tanta atenção às diferenças.

Foi lá onde me alfabetizei e onde encontrei a minha melhor amiga da vida, a Marina. Estudávamos na mesma sala e continuamos amigas até hoje. Nós somos muito idênticas! Incluindo o gosto por comida japonesa. Entrei lá com seis anos de idade e na minha turma somente eu tinha síndrome de down.

Alguns professores também me marcaram muito, como a Nancy – a primeira professora que eu adorei – e a Landa, que foi quem me alfabetizou e eu mantenho contato até hoje.

[música de fundo]

Ainda no ensino fundamental 1, mudei mais uma vez de escola. Tive medo de início. Neste colégio, como em muitos outros que estudei, havia poucas pessoas com deficiência. Mas apesar do receio, lá eu também fui feliz. Fiz muitas amizades, vivi aventuras com meus amigos, com quem eu estudava, fazia festas e viajava junto.

Muitos dos professores com os quais tive contato, me inspiraram de diferentes maneiras. O professor Dorival, de história, me contava coisas fascinantes. Por causa dele eu quero conhecer o mundo. Minha mãe lembra que ele era um dos professores mais durões do colégio, mas que sempre me tratou de igual para igual. Também conheci a professora Rosângela, que me dava aulas de ciências. Eu sempre gostei da área da saúde, e mais pra frente acabei seguindo por esse caminho na minha profissão.

Foi muito divertido esse período. Mas aí chegou a hora de encarar o ensino médio e tive que trocar de escola de novo. Fiquei triste por ter que abandonar todas as experiências boas que vivi.

[música de fundo]

Era um novo desafio que se apresentava para mim. Eu tinha 15 anos. E surgiram muitas dificuldades.  O currículo não era adaptado para mim, mas como eu tinha algumas dificuldades, as avaliações precisavam ser modificadas, como ajustes nos enunciados, por exemplo. Eu participava de trabalhos em grupo, mas faziam muito bullying comigo.

Os professores até eram abertos ao diálogo, mas os colegas não. Eles faziam muito bullying comigo, mesmo.

Fiquei até o segundo ano nessa escola, mas junto com a minha família entendi que ali não era um bom lugar para mim. Eu nunca pensei em desistir, porque sempre gostei muito de estudar.

[música de fundo]

Então, no terceiro ano do ensino médio ingressei, mais uma vez, em uma nova escola, onde eu terminei o colégio.

Eu acho que aqueles que puderam me conhecer melhor, tiveram a chance de entender como é conviver com alguém com um ritmo diferente. De certa forma, essa convivência foi boa para mim, mas também foi boa para as outras pessoas.

Depois do ensino médio, chegou a hora de prestar o vestibular.
No começo eu havia pensado em tentar seguir a tradição da minha família e estudar na Unicamp, em Campinas. Minha mãe estudou lá e meu pai também. Mas como moro em Indaiatuba, que fica há 30 km de lá, decidi ingressar em uma faculdade aqui na cidade mesmo.

[música de fundo]

Com 18 anos lá estava eu entrando no curso de educação física. Eu escolhi esse curso porque gostava de musculação e queria ser personal trainer. Meu sonho era trabalhar com pessoas com e sem deficiência.

A faculdade não foi diferente de todos os inícios de curso. Eu tive dificuldades para fazer os trabalhos, porque as pessoas não queriam fazer grupos comigo. Foi difícil conhecer pessoas e fazer com que elas me conhecessem. Foi difícil, mas eu sempre soube que iria conseguir.

Na minha casa, a minha família sempre trabalhou para que eu entendesse que não era ruim ter down. Eu sempre compreendi e me entendi como alguém com down, tinha consciência e também sabia das minhas limitações. Na faculdade, por exemplo, eu gravava e escrevia as aulas e no dia seguinte estudava com um professor particular.

[música de fundo]

Com 22 anos, me formei! Meu Trabalho de Conclusão de Curso foi “Os Benefícios do Exercício Resistido para Pessoas com Síndrome de Down”. A minha conclusão foi de que é muito bom fazer exercício físico para combater hipertrofia, para a questão muscular e também por uma questão social.

Logo que me formei, trabalhei numa academia, mas parei por conta da pandemia.
Hoje eu atuo como assistente técnica do time de Futsal Down da Ponte Preta de Campinas, ajudo a montar o treino, na preparação física e a montar o time.

Meu sonho para o futuro? É ser preparadora física da seleção brasileira de futsal down. Também quero ter o meu próprio Studio de Personal. Ah, e também conhecer o Tite, o Neymar e o Thiago Silva!

[música de fundo]

[Tatiana Klix]

A Bianca estudou toda a sua vida em escolas regulares. E quando foi para a faculdade, também estudou em uma instituição regular. Assim como ela própria disse, esse convívio com pessoas diferentes foi tão positivo para ela, quanto o contrário. A presença dela também é positiva para o restante da turma.

Em setembro de 2020, o governo federal brasileiro instituiu a Política Nacional de Educação Especial, que deseja matricular crianças e adolescentes com deficiência em classes e instituições especializadas. Esse decreto não só vai contra à Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência e a própria constituição federal, que garante a educação como um direito assegurado pelo Estado, como também funciona para segregar pessoas com deficiência.

[Claudia Werneck]

Eu quero fazer um alerta porque uma escola que não quer uma criança com deficiência para mim não quer nenhuma criança. Uma escola que não gosta de uma criança com deficiência, não gosta de nenhuma criança, só que disfarçam muito bem. Mas quando chega na deficiência, se ela diz que só não quer a criança com deficiência, a sociedade aceita, porque parece que ela quer todo mundo, só não quer aquela, então gera um pouco de compaixão. A escola é tão boa só ali que ela não quer uma criancinha e, não, isso é um reflexo do que a escola não quer.

Então, eu sempre comento, assim como os grupos, diversidade pessoal de engenheiro, de etnia, de raça, de origem, de endereço, eu digo gente, fiquem atentos porque esse decreto que que tentou se implementada não é que ele não queria só as crianças com deficiência. Isso é um portal que se abre para não se querer quase nenhuma outra criança. A gente não pode deixar nenhum portal de segregação ser aberto no âmbito escolar, porque isso é algo que não tem volta ou demora muito para você volta aos estados mínimos de garantia de busca de equidade.

[Tatiana Klix]

O artigo 206, da constituição federal de 1988,  garante igualdade de condições para o acesso e permanência na escola. Já o inciso III do artigo 208 aponta que é dever do Estado o atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino.

Criar espaços separados, não é um caminho para a equidade. A Claudia Werneck pontua o quão importante é dar condições adequadas para todos e todas, independentemente da existência de deficiências ou não.

Ela traça um paralelo:

[música de fundo]
[Claudia Werneck]

As escolas têm que fazer um exercício, um exercício bem bobinho, um exercício bobinho assim: todas as crianças que estão nessa escola são humanas? sim. Não tem jacarés, elefantes, hipopótamos. São humanas, são gente. Se elas são humanas, elas têm o mesmo valor humano, porque o valor humano é imutável. Eu posso botar mais um olho na cabeça de alguém que ele não fica mais humano, eu posso tirar um olho da pessoa que não fica menos humana. A gente tem essa mania de julgar, de achar que algumas crianças, porque têm deficiência, porque têm alguma doença crônica, ou porque são, de algum modo, consideradas em desvantagem, que elas são menos humanas, no sentido de que valem menos, a gente pensa isso, mas não assume.

Mas, teorizando sobre o assunto, nós sabemos que não há nada que você possa fazer para aumentar ou diminuir o valor humano de um ser humano, nasceu humano, assim ficará pode ser mais bonito, mais feio, mas nada muda. Ele é um ser humano, se ele é um ser humano, tem o mesmo valor, Todo ser humano tem o mesmo valor que nada muda. Então toda a forma de comunicação humana tem o mesmo valor certo. Não existe forma de comunicação mais humana, menos humana. Se eu vou construir uma escola para humanos e humanas, a comunicação acessível é aquela que dá conta de todos os modos humanos das pessoas humanas se comunicarem. Então tem que ter uma comunicação acessível na escola, como a base de tudo.

[música de fundo]

[Tatiana Klix]

A pandemia nos trouxe alguns exemplos de como diversos setores da sociedade ainda não estão atentos a essa questão.  E uma comunicação acessível deve ser pensada não só para as crianças e adolescentes deficientes em período escolar. Deve abarcar a todas e todos que fazem parte do processo educativo.

[Claudia Werneck]

Crianças com deficiência já são uma das populações mais vulneráveis do planeta mesmo sem pandemia. E a maior parte desse grupo populacional vive países em desenvolvimento, como o Brasil, nas regiões de maior pobreza. Então na pandemia, se você juntar a baixa conectividade das casas dos lares nas reuniões nas regiões periféricas, urbanas e rurais. Mais a falta mesmo, não só de celular, mas o WI-Fi da casa e você trancada em casa sem poder e pouco equipamento para dividir com família ou nenhum equipamento para dividir com a família para estudar, mais a questão do online oferecido pelas escolas não terem acessibilidade comunicacional que é algo que eu não consigo aceitar, entender, admitir como que com uma maior tranquilidade escolas particulares – sobre ensino público não posso garantir – mas escolas particulares, eu ouvi muito isso aulas à distância, sem nenhuma acessibilidade e acessibilidade, ela não é apenas para estudantes também para a família.

Se após ter uma criança que mora, ela não tem nenhuma deficiência, mas ela mora com a avó, que tem catarata, que não consegue enxergar mais, nada que não conseguiu superar, que não tem dinheiro para se operar. Então a acessibilidade não só para estudantes como também para quem está na família, porque eu sei que as famílias foram muito envolvidas nesse online.

[Tatiana Klix]

A comunicação não acessível, acima de tudo, isola. Isola pessoas com deficiência e também famílias.

Quando se pensa em acessibilidade em questões estruturais, Claudia afirma que esse contexto já está sendo um pouco mais compreendido pelas instituições, mesmo que ainda precise de muitas melhorias. Agora, quando se pensa em comunicação inclusiva e acessível, há pouquíssimo esforço para transpor essas barreiras que dificultam o acesso à educação.

Se a pessoa não tem o direito de acessar, também não terá condições de fazer parte do grupo. Estará, portanto, isolada. E isso é o oposto da garantia de equidade.

Existe um jeito de quebrar preconceitos, que é conhecer as diferenças, estar em contato com o que é diferente é sempre um movimento positivo. Foi um homem com síndrome de down quem mudou a perspectiva da Claudia Werneck, quando ela atuava como jornalista.

[Claudia Werneck]
[música de fundo]

A chama da comunicação, inclusiva, a chama da comunicação acessível, que é o que eu mais entendo, o que mais me move, dentro do contexto da equidade, da inclusão, dos direitos humanos é uma chama que foi acesa por um fósforo interno em mil novecentos e noventa e um, quando uma pessoa com síndrome de Down disse para mim que a síndrome de down era como a aids. Eu falei “Que isso?! AIDS mata!” naquele tempo AIDS não tinha cura, não tinha coquetel. E ele falou, “mas querer se comunicar e não conseguir é morrer”. Desde que ouvi essa frase, ele riscou um fósforo dentro de mim, esse homem com síndrome de Down, que é um cara que está bem hoje, inclusive, há alguns anos que não falo com ele. Eu tenho essa sensação que essa chama ela me alimenta e eu a alimento e isso é uma forma de existir. É como se fosse um monstro guloso, que tem que ser alimentado com muita vontade de fazer inclusão, para que ele não me devore.

Então, eu me sinto assim totalmente embebida, envolvida e preocupadíssima porque eu eu vi a diferença das crianças que começaram a frequentar a educação inclusiva, não de forma perfeita, até porque a inclusão é um ciclo que não se acaba, então é um processo diário. Assim, com equidade também, entendo que é. E no final não tem prêmio, não tem prêmio. Não existe prêmio para a pessoa que mais pratica equidade, a pessoa que mais pratica inclusão. Não, o prêmio é continuar fazendo e é no processo que você se fortalece.

[Tatiana Klix]

A Claudia viveu muitas histórias transformadoras, que nos fazem refletir sobre a importância de ter contato com pessoas com deficiência. Ter uma formação adequada também é importante. Se você puder fazer um exercício de memória, consegue lembrar quando foi que em sua vida teve acesso a uma formação voltada à comunicação acessível e inclusiva? A resposta que você conseguir, já diz muito sobre onde estamos.

Mesmo que exista uma distância, é necessário ir atrás de formação. E também garantir que as novas gerações entendam essa necessidade.

[Claudia Werneck]

A comunicação acessível, ela deveria ser um tema de todos os anos da formação de professores, do magistério, da pedagogia, não da eletiva. Não da mais básica. Deveria ser também na formação de nós jornalistas. Então, assim, é como se não existisse esse tema como tema de formação cidadã, nem profissional.

[música de fundo]

É importante que os estudantes e as estudantes sejam também formados para criarem soluções de comunicação acessível. As pessoas adultas já estão tão distantes dessa sensação de pertencimento natural, que é dada muitas vezes pela comunicação, que tem algumas soluções que a gente não consegue criar. Mas uma criança consegue, vou contar uma história para você, que é uma história que não é minha.

Mas, a que circula muito entre a gente, que é uma história antiga de uma escola pública em Belo Horizonte que tinha uma criança, com espectro de autismo, nasceu espectro autista, essa criança na sala de aula, ela às vezes dava uns gritos. E a escola, tudo bem, todo mundo lidava como uma coisa natural, não era um problema, nem era uma esquisitice, era algo da personalidade daquele estudante, era um menino. Até que um dia ia ter uma festa na escola e parece que a Secretaria de Educação e prefeito, iam visitar a escola, ia ter um grande evento, as professoras começaram a pensar como é que ia ser quando essa criança gritasse, que reboliço ia ter, ia assustar? começaram a conversar sobre o que fazer nessa situação, porque para elas era certo que a criança tinha que estar no pátio junto com as outras. Uma das professoras, depois de quebrarem a cabeça e não conseguirem encontrar a solução, elas resolveram conversar com as outras crianças da mesma turma e perguntaram: Vocês sabem como a gente faz para ele não gritar? As crianças falaram “Ué, vocês não sabem não? É só dar a mão para ele”.

[música de fundo]

[Tatiana Klix]
A Claudia é autora de 14 livros sobre inclusão. E tem uma história sobre a escrita, que também diz muito sobre o caminho que ela fez para chegar ao ativismo pela inclusão. É uma história de quando ela era criança…

[música de fundo] 

[Claudia Werneck]

Quando eu tinha onze anos o homem foi à Lua, eu morava no Grajaú e minha mãe e meu pai me acordaram para ver os astronautas pisando na Lua de madrugada. Poucas crianças foram acordadas pelos seus pais, mas eu e meu irmão fomos. No dia seguinte eu falei para o meu pai: “Pai, eu preciso contar para os astronautas a emoção que estou sentindo de eles estarem na lua”. E meu pai poderia ter falado: “Imagina minha filha, eles estão muito ocupados. Você mora num país pobre, subdesenvolvido…”. Telefone não funcionava naquela época, não tinha linha de telefone, você pegava o telefone e ficava conversando enquanto vinha uma linha para você ligar. Mas meu pai, ao contrário, falou: “Não, minha filha, é muito importante que eles saibam o que você está sentindo. Eu fiz uma carta que eu tenho até hoje. Minha tia Zilda traduziu para o inglês, ela trabalhava na embaixada americana. Mandamos para os astronautas e meses depois eles me responderam.

Quando eu consegui me comunicar com os homens mais importantes do planeta, a sensação de pertencimento foi tão grande que nesse dia eu me tornei ativista que eu sou hoje. Lógico que não sabia que ia estudar inclusão e acessibilidade, mas a força da comunicação me deu força de pertencimento no mundo e me mantém até hoje assim.

[Tatiana Klix]

O Futuro se Equilibra é o podcast do Porvir sobre equidade na educação. A cada 15 dias chegamos até você com uma história real, sobre um tema importante e que impacta diretamente na vida de muitas pessoas, impedindo ou dificultando o acesso à educação.

Esse programa conta com o apoio do Instituto Unibanco.

Este episódio sobre acessibilidade está disponível nas plataformas de áudio, em texto no nosso site e também em libras e legenda em nosso canal do Youtube. Queremos que ele chegue ao máximo de pessoas possível e que essas histórias te inspirem a pensar a forma como olha para o mundo ao seu redor.

Eu sou Tatiana Klix, diretora do Porvir e roteirizei esse episódio junto com o Ruam Oliveira. A produção é da Larissa Werneck e da Gabriela Cunha e a edição de som é do Gabriel Reis, eles são a podmix. Obrigada Bianca e Gláucia, por dividirem sua história com a gente, e à  Flávia Souza, pela interpretação.

Não deixe de compartilhar esse podcast com outras pessoas, isso nos ajuda a crescer.

Agradeço pela escuta e até a próxima!

[fim]

 

 


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equidade, podcast

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