O Futuro se Equilibra #019 – Estude como uma mãe
Maternidade e educação ainda precisam ter uma conversa séria. É sobre isso que vamos falar em O Futuro se Equilibra.
por Redação 20 de julho de 2022
Gestar, ver nascer, crescer e ajudar a formar uma outra pessoa não é uma tarefa simples.
A maternidade traz consigo diversas mudanças. Significativas mudanças não só para a mulher que está em gestação, como para as pessoas que fazem parte de seu convívio. E essas mudanças acontecem quando a gravidez é planejada ou não.
Neste episódio vamos falar sobre Maternidade e Educação, com a participação de Fernanda Staniscuaski, do Parent in Science.
Apresentação: Tatiana Klix
Produção: Gabriela Cunha e Larissa Werneck
Edição: Gabriel Reis
Roteiro: Ruam Oliveira e Tatiana Klix
Concepção: Ruam Oliveira, Tatiana Klix e Vinícius de Oliveira
Apoio estratégico: Vinícius de Oliveira e José Jacinto Amaral
Direção de arte: Regiany Silva e Ronaldo Abreu
Música: Airtone, Unicorn Heads, Cheel, Telecasted, Chris Haugen, GodMode, RKVC,pATCHES, Asher Fulero, Cheel, Steve Adams, Dan Henig e Corbyn Kites.
[início do episódio]
[Tatiana Klix]
Você está ouvindo O Futuro se Equilibra, o podcast do Porvir sobre Equidade na Educação. O Instituto Unibanco apoia nossa iniciativa.
[música de fundo]
[Tatiana Klix]
Gestar, ver nascer, crescer e ajudar a formar uma outra pessoa não é uma tarefa simples.
A maternidade traz consigo diversas mudanças. Significativas mudanças não só para a mulher que está em gestação, como para as pessoas que fazem parte de seu convívio. E essas mudanças acontecem quando a gravidez é planejada ou não.
Se a mãe planejar entrar ou estiver no ensino superior, com certeza terá um caminho difícil pela frente.
Maternidade e educação ainda precisam ter uma conversa séria. É sobre isso que vamos falar hoje em O Futuro se Equilibra.
Eu sou Tatiana Klix, diretora do Porvir.
[música de fundo]
Nossa primeira temporada está chegando ao fim. O próximo episódio encerra esse nosso percurso sobre como os marcadores sociais como raça, gênero, diferenças e classe impactam na busca por equidade na educação.
Ao longo desses quase vinte episódios tratamos sobre pobreza menstrual, habitação e moradia, trabalho, racismo religioso, interseccionalidade e diversos outros temas. Sempre acompanhados de uma história real, interpretada pelo nosso grupo de atores e atrizes.
Hoje nós vamos contar a história da Ambar Soldevila Cordoba. O caso dela é muito particular, mas mostra bem como a gente ainda tem um caminho grande a percorrer quando se pensa em educação e maternidade. Quem interpreta é a Sarito Rodrigues.
[música de fundo]
[início da história]
Com 36 semanas de gravidez, a gente está vivendo um momento alto de expectativa. Em breve será a hora de ver o rostinho daquele bebê que a gente carregou por tanto tempo.
A gente lembra da dificuldade para achar uma posição pra dormir, dos pés inchados… E da expectativa de como será quando esse pequeno ser humano sair de dentro da gente e chegar fisicamente ao mundo. Será que a gente vai dar conta?
No meu caso, eu tive uma expectativa diferente. Com 36 semanas de gestação eu estava defendendo uma dissertação de mestrado. Dali a poucos dias nascia o Caetano, esse bebê lindo e maravilhoso que eu chamo de meu.
Sou a Ambar Soldevila Cordoba, tenho 29 anos. Comecei o mestrado em ecologia e biomas tropicais em 2019. Moro em um pequeno vilarejo próximo a Ouro Preto, Minas Gerais, junto com meu companheiro.
O Caetano não foi um bebê planejado. Até porque, estando no mestrado, não seria o período ideal para isso. Acho que ninguém pensa em ter um filho no meio da pós-graduação. Aconteceu! Eu fiquei grávida durante a pandemia de covid-19.
Mas é aquilo, né? O meu bebê é uma gostosura, lindo e muito alegre. Mas, como qualquer bebê, demanda muito. Então tem a parte romântica sim, mas também a parte difícil. Para ser mãe a gente precisa ter uma dedicação muito intensa, mesmo quando o pai é participativo.
Eu fui escrevendo a dissertação como pude, apesar do período já avançado de gravidez.
O nascimento dele estava previsto para acontecer no final de setembro. Isso significava vinte dias depois da minha apresentação de defesa do mestrado. Após o nascimento dele eu teria dois meses para entregar a versão definitiva do meu artigo.
E já durante a gravidez eu procurei me informar junto à pós sobre licença maternidade. Mas para ter essa possibilidade, meu filho teria que nascer dentro da vigência da bolsa à qual eu estava vinculada, o que não iria acontecer. Esse é o regimento…
E eu fiquei desesperada, né? Eu estava ali meio leiga de tudo, dos meus direitos e tal, fui acreditando no que as pessoas me diziam.
Eu sabia que o puerpério seria difícil, então era tudo muito desesperador.
Fora isso, a pandemia também impactou as finanças da minha família. O município aqui vive do turismo, que não estava acontecendo. A gente tem uma pizzaria e, nessa época, estávamos vivendo somente de pedidos por delivery.
Foi chegando o prazo da entrega final e tudo isso junto foi me impactando de um jeito muito pesado.
Em abril, eu recebi um comunicado do programa de pós-graduação me informando que iria perder meu título por não ter entregue no prazo o artigo. Mesmo eu tendo enviado justificativas. Mesmo com uma carta da minha orientadora justificando a minha situação.
A universidade disse que eu deveria ter pedido o aumento de prazo antes. Me senti muito injustiçada. Foi um esforço muito grande para terminar o trabalho, já no final da gravidez. Mas para eles era como se eu não tivesse interesse em receber o título.
A minha gestação foi muito tensa por conta dessas coisas.
Eu apresentei o trabalho, a banca aprovou e tudo mais, porém ficou faltando essa licença para eu poder finalizar o processo de maneira mais tranquila.
Eu acho que as universidades precisam pensar a respeito disso. Falta uma legislação para que esse direito seja garantido. Gerar um ser é um dos trabalhos mais importantes do mundo. Acho que falta uma consciência coletiva sobre o quanto é justiça para as mães poderem maternar e também estudar.
O sistema acaba comigo simplesmente por eu ser mãe. Eu não tenho tempo de dedicação igual a outras pessoas que não são mães.
O que mais me entristece é que a maternidade não é valorizada.
No fim das contas, depois de muito lutar, a universidade voltou atrás e me concedeu o título de mestre. Mas se eu tivesse perdido? Isso iria impactar a minha vida, a vida da minha família…
Então, dar visibilidade para essa questão é fundamental. Espero que a universidade olhe com mais atenção para isso. A universidade não é um espaço acolhedor para as mães. Como a gente vai levar nossos filhos para assistir uma aula? Quando não tem espaço para amamentar, por exemplo, a gente também acaba ficando mal vista porque levamos os nossos filhos para a aula…
Uma mulher que é mãe – vivendo todas as camadas de dificuldades, mudança hormonal, cuidado com o bebê etc – não pode ser injustiçada assim. Eu me senti injustiçada.
Se a gente garante uma maior visibilidade para as mães, a gente também garante que a situação na sociedade mude. É bom para todos.
[música de fundo]
[Tatiana Klix]
A gravidez na adolescência é uma das principais causas de evasão escolar, seja pelas meninas se sentirem discriminadas ou por falta de tempo, mesmo, para estudar. Quando jovens e mulheres estão na universidade isso também acontece.
A lei 6.202 de 1975 é pouco conhecida. Ela diz o seguinte:
[filtro na voz]
Art. 1º A partir do oitavo mês de gestação e durante três meses a estudante em estado de gravidez ficará assistida pelo regime de exercícios domiciliares instituído pelo Decreto-lei número 1.044, 21 de outubro de 1969.
Parágrafo único. O início e o fim do período em que é permitido o afastamento serão determinados por atestado médico a ser apresentado à direção da escola.
Art. 2º Em casos excepcionais devidamente comprovados mediante atestado médico, poderá ser aumentado o período de repouso, antes e depois do parto.
Parágrafo único. Em qualquer caso, é assegurado às estudantes em estado de gravidez o direito à prestação dos exames finais.
[sem filtro]
[Tatiana Klix]
Ou seja, até existe uma lei que trata sobre a gestão das estudantes. Mas ela não garante a licença maternidade. Essa lei é um adendo à uma outra, de 1969, que trata sobre doenças.
Infelizmente, e não só porque é uma lei pouco conhecida, ainda existem muitas lacunas a preencher. Vimos a situação específica da Ambar, mas que diz muito sobre como as escolas e universidades se preparam para lidar com a maternidade.
Para esse episódio, nós conversamos com a Fernanda Staniscuaski, mãe de três filhos, fundadora e coordenadora do Parent in Science, movimento que chama a atenção para a parentalidade na universidade e que propõe mudanças nas instituições de ensino superior.
Com ela tratamos mais sobre o ambiente nas universidades, mas entendemos que o tema requer um olhar também para a educação básica.
[Fernanda Staniscuaski]
[música de fundo]
Nossas alunas não têm esse direito garantido. Para a pós-graduação houve um pequeno avanço em dois mil e dezessete, quando você tem a lei que possibilita a prorrogação das bolsas por até quatro meses é cento vinte dias em função da maternidade, seja nascimento ou adoção. Então, isso foi um avanço que ocorreu, mas isso é limitado aos bolsistas.
Existem projetos de lei que buscam garantir o direito de licença maternidade para estudantes de todos os níveis de cento e oitenta dias de licença maternidade. Esse projeto foi aprovado no Senado e está na Câmara agora aquele projeto que também geral de incentivo à participação das mulheres na ciência. Ele traz essa questão da licença maternidade. É um projeto que foi muito bem elaborado, porque ele traz uma condição que é essencial, porque um outro outro desafio que a gente tem é a garantia de, mesmo quando existe dentro das legislações das universidades, o direito à licença, várias vezes esse direito não é respeitado isso, principalmente na pós graduação, por causa das questões de tempo de defesa – os vinte e quatro, quarenta e oito meses do estado de doutorado. Então os problemas são muito reticentes em relação a permitir essa prorrogação.
Porque eu falei que esse projeto de lei é muito bem construído, porque uma das cláusulas que está lá no projeto é que essa prorrogação, seja na graduação, na pós graduação, ela não pode impactar negativamente em processos de avaliação dos cursos, então é extremamente importante. Então esse é o primeiro desafio até o direito básico de permitir que essa aluna tenha tempo de se readaptar à nova vida, com o filho e tudo mais. E seguir nos seus estudos, seja na graduação ou na pós.
[Tatiana Klix]
Essa escolha, para o tempo de ser mãe, não pode penalizar quem ainda está na graduação. No caso das mulheres com vínculo empregatício com as universidades, os direitos são mais claros e assegurados. O mesmo não acontece com as estudantes.
Um outro desafio apontado pela Fernanda está relacionado com a estrutura das universidades. A maioria delas não foi pensada para receber mães e crianças.
Poucas têm creches, ou como vimos no episódio sobre acolhimento na universidade, algumas deixam que as alunas levem seus filhos para a aula. Porém, sabemos que essa situação está longe de ser a ideal.
A Universidade Federal do Rio de Janeiro, a UFRJ, possui algumas ações de subsídio para estudantes. Eles destinam o valor de R$ 321 a alunos que comprovem ter dependentes com idade inferior a seis anos. A ideia desse auxílio é suprir parcialmente as despesas da parentalidade com custos em educação infantil.
É pouco, sabemos, mas serve para entendermos que ações pontuais estão sendo feitas pelo Brasil.
[Fernanda Staniscuaski]
O terceiro maior problema é uma questão cultural de não se aceitar a maternidade neste período. Quando uma aluna engravida, durante a graduação ou pós planejada ou não, a recepção que ela vai ter de que foi, o que é extremamente absurdo que a gente tem essa cultura. A gente recebe relatos diariamente sobre alunas, inclusive com medo de contar com os seus orientadores ou orientadoras, que estão grávidas, porque sabe que a reação é difícil, a gente ouve que foi do tipo e acabou tua carreira e tudo mais. A gente precisa dessa mudança cultural muito séria de que a maternidade não é um problema na carreira, na vida da mulher.
O nosso problema é que nossos sistemas não estão adaptados para acolher essa mudança, principalmente na academia, onde a carreira acadêmica, o ocupar a academia sempre foi privilégio de um grupo muito específico de pessoas. E quando a diversidade entra na universidade através das ações afirmativas ou de muitos movimentos que lutam pela diversidade dentro das instituições, ela não se adaptou. Então, a gente ainda tem as mesmas cobranças como se fosse única e exclusivamente homens de classe média alta, brancos, que tem em casa alguém cuidando de todas as suas outras faces da vida.
[Tatiana Klix]
A maternidade na graduação ainda é um tema menos discutido. Isso reflete na quantidade de informações que nós temos.
[Fernanda Staniscuaski]
[música de fundo]
A gente tem poucos dados em relação a estudantes, isso é algo que tem tentado obter. Mas se for ver qualquer senso de educação superior que se faça, raramente se inclui a questão da parentalidade. Então até mesmo número de discentes que têm filhos. Existe um levantamento que foi feito pela Andifes, a Associação das Instituições Federais Ensino Superior. Eles falam que onze por cento dos nossos alunos têm filhos, mas a gente tem pouquíssimos dados em relação a, por exemplo, evasão. Existem alguns estudos que mostram que ter filhos aumenta a evasão de alunas de doutorado, a possibilidade de concluir o curso e existem muitos dados já para os docentes, para as professoras, entre isso sim em termos de progressão, de carreira, de produtividade, de ascensão, a gente tem muitos, muitos dados. Então a gente realmente precisa quando se faça qualquer avaliação dentro do nosso sistema de ensino, comece a se olhar, a parentalidade, a questão de ter filhos. A gente sabe de experiência, assim que existe esse impacto, então a gente tem alguns dados que mostram uma capacidade maior, de uma probabilidade maior de invasão. Mas a gente não tem, por exemplo, um levantamento nacional que mostre essa realidade. Seria extremamente importante a gente esses dados, porque se a gente quer pensar em políticas de apoio, a gente precisa entender qual é o problema.
[Tatiana Klix]
Seja por meios oferecidos pela própria instituição, seja em casa, ter uma rede de apoio é fundamental para garantir que meninas e mulheres possam ser mães e, também, consigam concluir os estudos.
Não pensar na possibilidade de que as mulheres e jovens sejam mães, possam exercer a maternidade e seguir estudando é negligenciar o direito à educação. De certa forma, não pensar a maternidade é permitir que o caminho de evasão continue acontecendo.
[Fernanda Staniscuaski]
Então, um ponto de transição que vai, porque precisa de políticas de apoio, a aluna conclui a graduação e deseja entrar na pós graduação, seguir carreira acadêmica e assim por diante. Então, algumas universidades, nos processos de seleção de pós-graduação passaram a adotar critérios para análise de currículo, pontuações diferentes para alunas que são mães.
Então essa é uma política que ela acaba sendo de novo institucional e alguns exemplos isolados para a Universidade Federal Fluminense foi uma das primeiras que, dentro das suas regulações, colocou nos processos seletivos de pós-graduação uma avaliação diferencial para as alunas candidatas que têm filhos. Então, é essa, certamente, uma política que poderia ser pensada no âmbito nacional de qualquer processo que envolveu a análise de currículo ou de trajetória acadêmica que se considere a maternidade. Isso pode ser feito por a olhar um período maior do currículo, adotar pontuações, fatores de correção, enfim, reservar cotas. Acho que o Programa de Pós-Graduação de Ecologia do IMPA, Instituto das Pesquisas Amazônicas, reservou cotas ou eles adotaram um fator condicionante. Não existem alternativas, então essa é uma política que deveria ser pensado assim, pensando nessa progressão.
[Tatiana Klix]
Ou seja, isso também está associado a uma questão de permanência. Ainda mais levando em consideração que à medida em que mais mulheres chegam à pós-graduação, mais competitivo se torna em termos de acesso.
[Fernanda Staniscuaski]
[música de fundo]
Nos últimos anos, a gente tem promovido essa discussão dentro das nossas instituições, por exemplo, a gente tem o programa de embaixadores e embaixadoras do Parent. Hoje nós somos noventa cientistas dentro do Parent in Science e levar essa discussão para as nossas instituições é o caminho dessa mudança cultural. Mas há, na verdade não é algo específico da academia, essa mudança cultural é algo da sociedade como um todo e passa por coisas muito fundamentais, como, por exemplo, a concepção que a gente tem, de quem tem que cuidar dos filhos é a mãe. Essa é vista como uma obrigação da mulher dentro da nossa sociedade, inclusive os direitos de licença. Hoje em dia a licença paternidade do Brasil são cinco dias. Não, desde o início a gente a dizer quem vai cuidar do filho porque o país, se quisesse, podia, é uma mudança cultural geral. Dentro das universidades a gente precisa reforçar isso de que existem vários estereótipos associados à maternidade de que a mulher vai parar, não é mais comprometida com o trabalho, com os seus estudos, que a mulher vai se tornar incompetente para estar ocupando o lugar, porque teve um filho.
Então a gente precisa dessa construção. Nenhuma mulher se torna incapaz de seguir com o seu trabalho com seus estudos, por se tornar mãe, desde que exista um ambiente apropriado para. Vai haver uma mudança de rotina dessa pessoa, falando de docentes e sem que seja quem for. O sistema precisa aceitar isso, porque se não a gente vai de novo reforçar que aquela pessoa não deveria estar ali, não aceitar que aquela pessoa pertença àquele espaço e cobrar resiliência vinte e quatro horas por dia, de alguém não da. A gente consegue, a gente não, gente, ninguém tem que ser superior, significa lutando contra o sistema tempo inteiro. Sistema tem que se adaptar, não existe mais nenhuma dúvida de que excelência dentro das nossas instituições, está vinculada à diversidade e à diversidade. Vai passar por incluir as mulheres, incluindo as mulheres mães.
[Tatiana Klix]
Muitas mulheres, principalmente na academia, são indiretamente penalizadas por se afastarem das atribuições no período de licença maternidade. Isso porque na maioria dos casos é a produtividade que conta, mas ser mãe não era algo que dava para incluir no Currículo Lattes. Não até pouco tempo atrás…
[Fernanda Staniscuaski]
[música de fundo]
Estão uma das primeiras da campanha do Parent in Science se foi a maternidade no Lattes então a inclusão dessa informação. Por isso é importante? Você pega meu currículo e olha lá nos anos de dois mil e quinze e dois mil e dezesseis não publicou nenhum artigo, sente. Em dois mil e quatorze, eu ganhei meu último edital científico da área de biologia, onde eu atuava, hoje em dia não atuomais nessa área. Mas, enfim, ganhei um edital científico e depois, toda vez que eu pedia o edital, uma bolsa vinha, mas ela não publicou por dois anos, ela não publicou por dois anos.
Ninguém nunca, né? Comentou, perguntou o porquê desse buraco no meu currículo. Como a gente fez um levantamento para saber se a gente viu que acontece com todas as cientistas de uma maneira geral, tem esse essa queda de produtividade. A gente precisa que esses buracos nos nossos currículos estejam justificados. E aí então vai à campanha de maternidade no Lattes, que é a plataforma onde os cientistas têm os seus currículos cadastrados. A gente queria uma um campo especifico onde houvesse informação desses afastamentos relacionados à maternidade. A gente fez o pedido em dois mil e dezoito em abril de dois mil e vinte e um, três anos depois, surge então no currículo artes o campo licenças lá dentro, não pode informar os seus períodos de licença maternidade,
[Tatiana Klix]
E o que isso pode significar para mulheres cientistas e/ou estudantes?
[Fernanda Staniscuaski]
[música de fundo]
Isso tem duas implicações muito grandes: Primeiro é tirar a maternidade da invisibilidade.
Várias pessoas : Ah, mas só vão aumentar o preconceito de colocar essa informação. Durante toda a nossa história a gente tentou esconder a maternidade, separar ela da nossa vida profissional e não deu certo. Mas a gente já tem bem claro que não funcionou. A gente tem que forçar o outro caminho. A minha maternidade faz parte da minha carreira profissional, não tem como separar isso. A gente tirou a maternidade da invisibilidade. Obviamente tem que vir acompanhado de uma mudança cultural para não penalizar as pessoas que tu vai olhar lá e “ah não essa aí tem filho, não quero”, não dá para ser assim. A gente precisa dessa mudança cultural. Mas tem uma implicação prática em vários editais hoje em dia, quando vão olhar o currículo das cientistas a ela teve filhos neste período? Então, eu vou olhar um período maior de tempo pra ver, né? A tendência de produtividade dessa cientista, adotar um fator de correção, seja o que for as políticas que já existem, algumas instituições e agências de fomento.
Elas são dependentes da informação, da maternidade. Aí, é por isso que é importante a gente ter essa informação no currículo.
[música de fundo]
[Tatiana Klix]
O Futuro se Equilibra é uma produção do Porvir com o apoio do Instituto Unibanco.
Quem produz este podcast é a Gabriela Cunha e a Larissa Werneck. A edição é do Gabriel Reis. Eles são a podmix.
O Ruam Oliveira, repórter do site, escreveu esse roteiro junto comigo.
No próximo e último episódio desta temporada, vamos falar sobre a importância de políticas públicas de educação na busca por equidade. Vamos conversa com a Anna Penido , diretora executiva do Centro Lemann, diretora executiva do Centro Lemann.
Você pode sempre nos escrever e enviar suas impressões para o contato@porvir.org
Eu sou Tatiana Klix, diretora do Porvir. Muito obrigada pela escuta!
[fim do episódio]