O que é a Cultura do Remix e como ela estimula a criatividade - PORVIR
Crédito: Black Salmon/iStock

Inovações em Educação

O que é a Cultura do Remix e como ela estimula a criatividade

Educadores contam como as atividades remixadas incentivam a criatividade de professores e estudantes

Parceria com Rede Brasileira de Aprendizagem Criativa

por Maria Victória Oliveira ilustração relógio 23 de agosto de 2022

Durante toda a vida escolar e universitária, estudantes são desencorajados a se inspirar – ou sequer olhar – para o trabalho dos colegas sob a ameaça constante das palavras “cópia” e “plágio”. Essa postura também se aplica aos educadores, que, em muitos casos, não trocam experiências ou percepções devido à possibilidade de realizarem um trabalho semelhante e, assim, serem acusados de copiar a ideia do outro. 

Para a RBAC (Rede Brasileira de Aprendizagem Criativa), é justamente aqui que mora a potência da criatividade. Se alguns podem achar que se inspirar no trabalho do colega é uma postura que demanda “menos trabalho”, os educadores que compõem a rede pensam o contrário: ao se inspirar em boas ideias, é necessário colocar a criatividade para trabalhar dobrado, a fim de adaptar a experiência realizada ao seu próprio contexto. 

Esse é o princípio da Cultura do Remix. “O Remix acontece quando uma pessoa ou grupo de pessoas tomam conhecimento de uma atividade e desejam realizá-la com seus alunos, colegas de trabalho e outros pares, a partir do seu próprio contexto, paixões, conhecimentos e limitações, materiais, ambiente, e principalmente, propósito”, explica Eduardo Pereira, professor no departamento de engenharia elétrica da Universidade Federal de São João del-Rei (MG) e articulador do Núcleo Vertentes da RBAC. 

Uma atividade remixada é, portanto, uma proposta com modificações a partir de uma atividade inspiradora. Pode ser o mesmo formato em um novo contexto, com uma nova temática e novos materiais. Ou pode partir da inspiração do uso de determinado material e utilizá-lo em outra situação, com novos propósitos e objetivos. 

A Cultura do Remix e a aprendizagem criativa 

Eduardo defende que investir em atividades remixadas pode representar um primeiro passo para educadores que estão mergulhando agora no universo da aprendizagem criativa. Esse tipo de atividade permite que o professor entenda como realizar uma facilitação que promova a aprendizagem a partir do brincar sem deixar de lado a intencionalidade pedagógica. 

Os alunos, por sua vez, têm suas paixões, interesses, tempo de aprendizagem, repertório e motivações observados e respeitados, além de compreender outros conceitos, como o erro enquanto parte da aprendizagem. 

Para possibilitar esse processo de inspiração a partir de algo já criado, a RBAC criou o Estúdio Pedagógico, espaço destinado a inspirar os educadores e permitir que explorem experiências educacionais mão na massa e significativas. No endereço, o conteúdo está organizado em diferentes níveis, para diferentes temáticas e etapas de ensino. 

“Ao utilizar esse espaço, as pessoas acabam tomando consciência sobre alguns pontos relevantes para a abordagem, como ser atento a uma boa facilitação das atividades, na preparação dos materiais e permitir aos alunos fazerem projetos que sejam significativos para eles”, reforça Eduardo. 

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Potencial de troca 

Para o educador, um dos principais benefícios em estimular a Cultura do Remix é promover a experiência da troca de vivências e conhecimentos, partindo do pressuposto de que uma aprendizagem significativa não é algo que se constrói sozinho. “Poder contar com toda uma comunidade torna factível a mudança de um estilo de ensino instrucional, centrado no professor, por uma aprendizagem mão na massa centrada no aluno.” 

Essa mudança de foco também é observada no próprio processo da Cultura do Remix. Ao ler sobre e se preparar para aplicar uma atividade, Eduardo explica que o professor ‘troca de chapéu’: de professor, passa a ser aluno e torna-se aprendiz novamente. 

“Com isso, ele entende melhor as dimensões da aprendizagem criativa, experimentando, compartilhando e refletindo como foi essa experiência, vendo o que funcionou para ele e seus alunos e dando um passo além na adaptação da atividade para seu contexto”, afirma. 

Trata-se, portanto, de uma mudança de percepção sobre o trabalho dos educadores, que passam a se inspirar e reconhecer o que os colegas desenvolvem em detrimento de uma cultura que preza pelo individualismo. 

Do global para o local 

A partir da atividade Engenhocas para salvar o planeta, Elen Karina Ferreira, professora de apoio aos Projetos Pedagógicos da EMEB Professora Nadia Issa Pina, de São Bernardo do Campo (SP), e participante da RBAC da região do ABC Paulista, resolveu criar a atividade remixada Engenhocas para proteger a Mata Atlântica para alunos do ensino fundamental 1 e 2. 

Atividade Engenhocas para proteger a Mata Atlântica (Crédito: Divulgação)

Além de ser o bioma predominante na região sudeste e em São Paulo, onde a escola está localizada, a Mata Atlântica já estava prevista no currículo, o que incentivou ainda mais o desenvolvimento da atividade interdisciplinar, que envolveu as áreas de ciências, geografia, história, língua portuguesa e matemática. 

Os estudantes foram desafiados a desenvolver habilidades artísticas a partir da criação de engenhocas com sucatas para garantir a preservação do bioma e, assim, puderam relacionar os impactos ambientais com os animais e vegetação em extinção, conhecer os ecossistemas da Mata Atlântica, entender a importância da preservação do meio ambiente, reconhecer-se como agentes transformadores e multiplicadores, observar os impactos das atividades humanas sobre o meio ambiente, interpretar gráficos, tabelas e textos, entre outros pontos. 

A educadora teve a ideia durante uma live sobre a atividade inspiradora e, mesmo sendo a primeira vez que se aventurou a fazer uma atividade remixada, Elen conta que gostou muito do resultado e afirma que o fato de partir de algo já existente ajudou no quesito da pesquisa bem feita sobre o conteúdo, facilitando o processo da remixagem.

“Quando os alunos são desafiados a criarem suas próprias invenções, eles refletem em todo conhecimento adquirido nas aulas e nos surpreendem indo muito além do conteúdo discutido no âmbito escolar, pois vivenciam a problemática do tema para encontrar uma solução. Eles realmente aceitaram o desafio de criar suas engenhocas fazendo uma reflexão sobre a relevância da sua criação na preservação da Mata Atlântica, além de se divertirem bastante.”

Bora Criar! | Engenhocas para Salvar o Meio Ambiente

Desenvolvendo a criatividade 

Ao contrário de Elen, Sandra Elias, professora de tecnologia, integrante do GEG (Grupo de Educadores Google) de Vinhedo e articuladora da RBAC, já estava familiarizada com a Cultura do Remix e o processo de realizar atividades remixadas. “As propostas têm credibilidade, passaram pela curadoria da equipe pedagógica e podem ser redesenhadas para a minha necessidade local. Por que, então, não usar o que está pronto e assim otimizar tempo e esforços?”, defende Sandra. 

Inspirada na atividade Vamos criar uma janela mágica?, a educadora propôs que os estudantes do 5º ano colocassem a criatividade no papel ao criar uma janela mágica que representasse o que gostariam de ver ao olhar para fora. Já os alunos do 4º ano foram convidados a criar placas divertidas, a partir da atividade homônima, representando seus sentimentos e paixões: as pessoas que mais gostam, o que fazem em seu tempo livre, do que brincam, quais são as comidas preferidas, entre outros interesses. 

Atividade Placas Divertidas (Crédito: Divulgação)

Sandra conta que as duas propostas compartilham o componente da criatividade: os estudantes possuem liberdade para construir seus projetos, expressar-se em diferentes linguagens e, ainda, têm espaço para diversas formas de manifestações artísticas e culturais. 

Esse estímulo possibilita que a criatividade seja trabalhada e desenvolvida, uma vez que, ao contrário do que muitos pensam, não é algo que só alguns têm acesso ao nascer. “A criatividade pode e deve ser desenvolvida, mas para isso é necessário oportunizar momentos de experimentação, durante os quais os alunos assumem riscos e testam suas ideias limites. Esse processo permite que criem planos e estratégias, comecem com pequenas ideias e possam ir além, o que é essencial para desenvolver diferentes habilidades e competências”, conclui.

Conheça a atividade Vamos criar uma janela mágica?

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aprendizagem criativa, cultura maker, tecnologia

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