ONG em área rural do Sri Lanka usa tecnologia para oferecer aulas extracurriculares
Fundação criada por professor de inglês tem programa para voluntários estrangeiros ensinarem em diferentes áreas
por Marina Morena Costa 31 de maio de 2016
Há quase 20 anos, a Fundação Horizon Lanka leva conectividade e ensino inovador para uma pequena cidade rural do Sri Lanka, o vilarejo de Mahawilachchiya. Com o uso de computadores e TV via satélite, a ONG oferece aulas de inglês, ciências, matemática, dança, canto, desenho e esportes, buscando oferecer uma complementação educacional que ajude as crianças da região a se equiparar às que estudam em áreas urbanas do país.
A Fundação foi criada em 1998, quando Nanda Wanninayaka, um professor de inglês do vilarejo, começou a escrever um jornal – feito a mão! – em inglês com seus alunos. A iniciativa chamou a atenção da embaixada dos Estados Unidos em Colombo, capital do Sri Lanka, que doou um computador para que o trabalho continuasse.
Pouco depois, Wanninayaka deixou a escola e começou a receber os alunos em sua casa, no contraturno. O professor lembra que dava aulas de inglês e orientava sobre o uso das Tecnologias da Comunicação e Informação (TICs) sob a sombra de uma mangueira enorme em seu jardim, por falta de outro espaço adequado. Ensinava sobre computadores, sem computadores, apenas desenhando em um quadro negro.
Ao longo dos anos, a instituição conquistou importantes avanços em inclusão tecnológica no vilarejo. Conduziu projetos para aquisição de computadores e laptops (para a ONG e para os moradores), garantiu acesso ininterrupto à internet, em 2004, quando nem telefone fixo estava disponível na aldeia, construiu uma rede de computadores, conectando 28 casas de estudantes e duas escolas públicas com internet, em 2006 (segunda a fundação, essa foi a primeira rede de malha de internet do Sri Lanka).
Entre 2007 e 2010, o projeto de Wanninayaka foi replicado pelo Ministério da Educação em 50 escolas de áreas rurais das nove províncias do Sri Lanka. Cerca de 100 milhões de rúpias cingalesas (US$ 700.000) foram alocados para o projeto. “Fui contratado como consultor, mas o governo não forneceu um centavo sequer ao projeto principal [a Fundação Horizon Lanka]”, conta o professor em entrevista ao Porvir.
Com a saída de Wanninayaka para trabalhar no projeto de expansão, a Horizon Lanka enfrentou dificuldades financeiras. Segundo o fundador, a mídia divulgou que a Fundação receberia parte dos 100 milhões de rúpias, e as doações pararam. “A maioria dos nossos doadores desviou o seu apoio a outros projetos, com o entendimento de que o governo cuidaria da Horizon Lanka. Quando o financiamento não veio para nós, pedi a um funcionário do gabinete do presidente se poderia publicar um artigo em nosso site dizendo que o governo não estava nos ajudando com o financiamento prometido, mas o funcionário me disse que se eu fizesse isso, o governo tomaria como descrédito. Com este tipo de ameaça indireta eu me calei e o projeto sofreu severamente. Tivemos que fechá-lo durante três anos e meio”, relata.
Wanninayaka voltou em julho de 2014 e tem lutado para conseguir mais fundos para a organização. Atualmente, a instituição realiza uma campanha de financiamento coletivo para arrecadar US$ 5.000. A verba irá ajudar a Fundação em vários aspectos, será destinada ao conserto de computadores, compra de material para salas de aula, manutenção das instalações, alojamento para voluntários e treinamentos. Após essa campanha, o professor pretende realizar outras, com objetivos específicos.
Um programa que tem dado resultados positivos é o de professores voluntários estrangeiros. A fundação recebe pessoas do mundo inteiro que desejam ensinar para as crianças do vilarejo. Em troca, oferece moradia e alimentação. Atualmente, há vagas para professores de inglês, TICs, esportes, artes (dança, canto, fotografia, etc.), marketing e angariação de fundos.
Klára Gebhartová, estudante de Medicina de Praga, na República Checa, passou cinco semanas na Horizon Lanka, em meados de outubro de 2015. “Você não precisa se estressar porque seu inglês não é excelente e você não é um professor profissional. A única coisa importante é ensinar com entusiasmo. No começo eu estava um pouco estressada, eu não tinha um cronograma exato e todo o programa estava comigo. Mas em poucos dias percebi que aqui não há ninguém que vá te julgar. Estou aqui, não sou perfeita, mas posso fazer o meu melhor para ensinar às crianças o que eu sei. Depois que percebi isso e fiquei mais aberta, comecei a ter ideias e criar naturalmente”, relatou para o site da fundação.
Hoje são atendidos cerca de 100 alunos, mas em 2005, nos tempos áureos, a instituição chegou a atender 500 crianças, segundo o seu fundador. A fundação tornou-se “uma porta de entrada para o ensino superior” para as crianças do vilarejo, nas palavras de Wanninayaka. Segundo o professor, a Horizon Lanka produziu professores qualificados de inglês, engenheiros de software, médicos, engenheiros, contadores, advogados e graduados em outras especialidades.
“A Horizon Lanka dá confiança aos estudantes em suas habilidades e se esforça para garantir às crianças na zona rural Sri Lanka as mesmas oportunidades que os seus pares na cidade sem ter que viajar por horas a cada dia”, resume.