Os bons resultados das escolas de educação integral - PORVIR

Inovações em Educação

Os bons resultados das escolas de educação integral

Conheça municípios onde esse modelo vem aproximando pais, cidadãos e escola e melhorando os resultados no Ideb

por Vagner de Alencar ilustração relógio 13 de setembro de 2012

A escola pode extrapolar seus limites e ir muito além de seus muros e ocupar também as ruas e bairros da cidade. Na chamada educação integral, os professores podem atuar como educadores comunitários e ajudar a identificar demandas, mapear espaços, pessoas e oportunidades que possam se tornar parceiros na construção de trilhas educativas; os alunos podem aprender os conteúdos curriculares a partir de vivências em diferentes espaços como na praças, quadras de esportes, lojas, igrejas, postos de saúde etc. (veja a matéria feita pelo Porvir sobre a conceituação de educação integral)

O conceito vem se tornando cada vez mais frequente devido à divulgação de iniciativas bem sucedidas desenvolvidas em diferentes municípios. No Rio de Janeiro, por exemplo, o Ginásio Experimental Carioca está trabalhando a multidisciplinaridade dos professores; em Belo Horizonte, as parcerias entre escolas e universidades preparam os professores do futuro por meio de experiências chão-escola. Já em Apucarana, o modelo de educação integral é obrigatório em todas as escolas municipais; enquanto em Sorocaba, as atividades do contraturno seguem o conceito de cidade educadora.

Ginásio Experimental Carioca

Criado em 2011, o modelo de educação integral do Ginásio Experimental Carioca vem sendo desenvolvido em 19 escolas públicas da cidade do Rio de Janeiro e a estimativa é chegar a 28, em 2013. A iniciativa é realizada especificamente com alunos de 7o, 8o e 9o anos e já vem colhendo frutos. No último Ideb, quatro das dez melhores escolas da rede municipal eram ginásios experimentais. Na cidade, a rede de educação é composta por 1.062 escolas, sendo que 416 são de fundamental II. “Precisávamos experimentar em algumas escolas para ver o que poderia ser feito no restante da rede”, afirma Heloísa Mesquita, coordenadora do projeto.

crédito S.Kobold / Fotolia.com

Um dos segredos do programa, pontua Heloisa, é a atuação polivalente dos professores, que estão inseridos em dois grandes núcleos: humanidades e exatas. Na área de humanidades (história, geografia e português), os professores de português dão aula de história e geografia e vice-versa. O mesmo acontece com os professores de exatas, que se revezam dando aulas de matemática e ciências. A medida faz com que os professores planejem juntos suas aulas. “Ao planejar em conjunto, eles estão estudando e tendo uma formação continuada. A escola fica como uma orquestra onde todos estão afiados em um mesmo ritmo”.

“Educação integral no nosso contexto tem sido um exercício de centralidade da educação, colocar efetivamente a educação como centro motor do desenvolvimento de uma comunidade, de uma sociedade”

Uma das novidades do modelo de ensino são as disciplinas diferenciadas. Algumas são optativas, criadas para completar de forma lúdica o conteúdo tradicional, como é o caso das disciplinas de robótica, ciclos de leitura, teatro, cinema ou sexo e rock ‘n rol – nesta última, por exemplo, os alunos aprendem conteúdos sobre cuidado com o corpo e o uso de drogas.

Outra disciplina diferenciada é a que trabalha a vocação dos alunos. Chamada de projeto de vida, ela ajuda os estudantes a planejar aquilo que pretende ser “quando crescer”. Se ele quer ser um jornalista, por exemplo, os professores-tutores (que fazem a mesma função de um orientador da faculdade), acompanham e analisam o desempenho do aluno, dando sugestões do que fazer, como estudar.

Apucarana, Paraná

Já em Apucarana – a 365 km da capital Curitiba –, no Paraná, a experiência de educação integral  foi estabelecida em lei pela câmara municipal há dez anos. Hoje, as 38 escolas de ensino fundamental I seguem um currículo que leva os mais de 11 mil alunos a se apropriarem de outros espaços da cidade. “Educação integral no nosso contexto tem sido um exercício de centralidade da educação, colocar efetivamente a educação como centro motor do desenvolvimento de uma comunidade, de uma sociedade”, afirma Claudio Silva atual secretário especial de educação superior, que trabalhou nos últimos sete anos como secretário de educação de Apucarana.

Essas mudanças aconteceram não apenas pela ampliação da carga horária –ampliada para nove horas diárias –, mas principalmente a partir da aproximação dos pais da escola (por meio de associações) e através parcerias com clubes sociais, postos de serviço e universidades.

Uma iniciativa realizada no município foi a instalação estratégica de 30 mini-postos de saúde próximos às escolas. “As crianças são levadas para serem atendidas com regularidade o que faz com que a educação integral se torne, de certa forma, uma economia para município. Com esse acompanhamento, as crianças tendem a ter menos problemas de saúde”, afirma Silva. Além disso, os dentistas dos postos, assumem também o papel de professor. “Eles entram na sala de aula, orientam as crianças, que passam a ter uma regularidade nos consultórios odontológicos”, completa.

O modelo trouxe melhorias no ensino do município. É  o que aponta os dados do último Ideb, que mostra que as escolas estão todas acima da média nacional, de 5,5%. Os melhores resultados foram das unidades localizadas na periferia, consideradas campeãs por alcançarem a média de 7,5%. A melhora também é refletida na evasão escolar, praticamente zero.

crédito Emerson Ferraz / Divulgação

Oficina do Saber, escola de tempo integral em Sorocaba

 

Cidades educadoras

Outra experiência bem sucedida acontece em Belo Horizonte, Minas Gerais. Inspirado pela Associação Cidade Escola Aprendiz com o conceito de bairro-escola – ao envolver a comunidade em um processo educativo –, o programa desenvolvido em BH se tornou exemplo de cidade-educadora. Conhecido como Escola Integrada, o projeto vem sendo desenvolvido desde 2004, por meio de parcerias entre prefeitura, fundações, ONGs e instituições de ensino superior. O programa abrange cerca de 65 mil estudantes do 1o ao 9o do ensino fundamental, que, durante nove horas diárias, realizam trilhas educativas e participam de atividades culturais, esportivas e de formação cidadã.

Segundo Natacha Costa, diretora geral da Associação Cidade Escola Aprendiz, o diferencial do programa é que os educadores das comunidades têm a figura de um professor comunitário que é o gestor de todo o programa na escola. “Os educadores ajudam a reconhecer os saberes de arte, cultural e esporte da comunidade, pois eles estão no cotidiano das crianças”, afirma.

Para reforçar a ideia de redes, a secretaria de educação realiza parcerias com onze universidades para trabalhar com estudantes de cursos de extensão e licenciatura. A iniciativa possibilita, por exemplo, que universitários da área de música trabalhem musicalização na escola ou que alunos das faculdade de jornalismo ministrem oficinas de rádio ou jornal escolar. “Os estudantes desenham propostas de atividades, montam portfólios e as escolas escolhem quais atividades vão desenvolver, enquanto as universidades dão supervisão os estudantes”, afirma Natacha.

crédito Emerson Ferraz / Divulgação

Inauguração da Oficina do Saber, em Sorocaba, interior de São Paulo

 

Oficina do Saber de Sorocaba

Já em Sorocaba, no interior de São Paulo, há cinco anos, o projeto Escola em Tempo Integral-Oficina do Saber leva atividades em contraturno para mais de 20 escolas de regiões vulneráveis em quatro bairros da cidade, atingindo 10% da rede municipal. Depois do turno tradicional, os estudantes, de 7 a 10 anos, almoçam na escola e de tarde realizam oficinas esportivas, culturais e outras atividades de reforço.

A diferença é que os espaços de aprendizagem não se limitam à sala de aula em estrutura formal de ensino. As atividades acontecem em praças, parques, quadra de esportes, igrejas, seguindo o mesmo conceito do programa Cidade Educadora.

Neste ano, o programa passou a contar também com o trabalho de universitários da Fefiso (Faculdade de Educação Física) e da Academia de Ensino Superior, além de alunos da Uniso (Universidade de Sorocaba), que atuam como estagiários. “A rede com a universidade contribui para a formação do educador do futuro, fornecendo uma formação no chão-escola. No fundo é um ciclo virtuoso que está sendo criado na cidade entre futuros professores, comunidade, coordenadores e alunos”, afirma Natacha.


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educação integral

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