'Professores precisam ser seus próprios gurus' - PORVIR
Crédito: Sergey Peterman/Fotolia.com

Inovações em Educação

‘Professores precisam ser seus próprios gurus’

Ewan McIntosh, da startup NoTosh, fala ao Porvir como a inovação pode chegar à escola para incentivar alunos a mudarem o mundo

por Vinícius de Oliveira ilustração relógio 5 de março de 2015

Uma escola com menos paredes, que facilite a circulação de pessoas e ideias é o modelo dos sonhos de Ewan McIntosh, presidente e fundador da Notosh Limited, startup que busca redesenhar escolas e torná-las um terreno fértil para a inovação.

A empresa com sedes em Edimburgo, na Escócia, e em Melbourne, na Austrália, busca levar para a educação estratégias que fazem sucesso em grandes empresas (como coaching e design thinking) para tornar aulas mais divertidas, professores mais eficientes e alunos capazes tomar decisões de impacto no mundo.

Na entrevista concedida ao Porvir durante o evento Innovate 2015, promovido pela Graded School de São Paulo, McIntosh analisa as barreiras físicas e metodológicas para mudanças na sala de aula, que geralmente resultam em desculpas como “não tenho tempo, não tenho dinheiro e minhas ideias nunca serão aceitas” por parte dos professores. Para combater tais problemas, dentre outras sugestões, McIntosh sugere que o ego seja deixado de lado, e propõe maior colaboração dentro da escola para que professores, curiosamente, deixem de dar ouvidos a “gurus” da educação e consigam ser autossuficientes.

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Porvir: Quais são as barreiras para a inovação chegar à escola?
Ewan McIntosh: Os problemas são os mesmos em qualquer país do mundo, até nos mais ricos: falta de tempo, falta dinheiro e currículo sobrecarregado. As palestras que tenho feito aqui tratam de como sair do conflito criativo, em que todos alegam que as coisas são impossíveis de serem feitas. Essa suposição se deve ao fato que ainda hoje as pessoas acreditam que a maneira mais rápida de aprender é por meio da aula em que o professor transmite todo o conteúdo. E todo mundo sabe que isso não é verdade.

Porvir: Existe uma solução para isso?
McIntosh: Se você disser que essas pessoas estão erradas, elas vão responder: “Deixe-me sozinho. Eu não ganho dinheiro suficiente para fazer isso”. Para elas, o que você precisa fazer é proporcionar motivação, entender seus maiores desafios e ajudá-las a planejar o currículo. Muitas vezes, os professores não sabem nem fazer isso. Apesar de não ser um jeito muito sexy, esse é o primeiro passo para inovar no aprendizado e permitir que estudantes direcionem seus estudos e colaborem no planejamento das aulas.

Porvir: E como a inovação entra na sala de aula?
McIntosh: A inovação pode acontecer de diversas maneiras, como analisando coisas que estão quebradas. Ideia banais, quando analisadas com profundidade, possuem valor real. Ter boas ideias é fácil e você não precisa fazer um monte de pesquisas para descobrir, por exemplo, que o trânsito de São Paulo tem problemas. A parte mais difícil é dizer “eu posso tomar a iniciativa, eu posso fazer isso”. Temos que ter a certeza que os estudantes saiam com a certeza de que podem mudar o mundo, mas o maior desafio é que nossos professores não acham que podem fazer isso.

ECrédito: Divulgação

 

Porvir: Qual o papel de professores e líderes educacionais nesse processo?
McIntosh: Minha frase preferida de Steve Jobs [presidente da Apple morto em 2011] dizia que “existe um momento na vida em que se descobre que tudo ao seu redor foi feito por pessoas que não são mais inteligentes que você”. Quando percebe isso, sua vida muda para sempre e você não consegue olhar para as coisas do mesmo jeito. Não importa se você é professor de uma escola com recursos ou de uma em comunidade pobre, a questão é sempre a mesma: fazer pequenas mudanças na aula que terão grande impacto ou dizer que apenas segue ordens? A pessoa que decidiu não quer que você obedeça, ela quer saber se o trabalho é bom.

Porvir: Poderia ser mais específico?
McIntosh: Professores não precisam acreditar só em gurus de conferências como essa [risos], mas se comprometer com ações que mostrem como fazer a diferença para seus alunos. Quando isso acontece, o professor se torna o guru que chega para todos os outros colegas na escola e diz: “Precisamos parar de fazer desse jeito. Eu fiz assim e olha o que aconteceu”. Nada fala mais alto do que o resultado do trabalho e da mudança de postura dos alunos.

Porvir: Como estabelecer a cultura de feedback?
McIntosh: A cultura de prototipagem permite acesso a uma a avaliação de um terceiro com menos tempo, investimento e esforço. Como diz Ron Berger [educador americano diretor da Expeditionary Schools], o feedback deve ser gentil, direto e útil [veja o vídeo abaixo, em inglês, sobre uma atividade com alunos da 1a série]. Prototipar não é pedir um rascunho final de um trabalho, mas fazer seus alunos começarem a trabalhar desde o primeiro dia em alguma coisa, mesmo que seja fraca. Mais tarde, você deve fazer com que eles peçam feedback de outras pessoas. 

Porvir: Como é a escola ideal para você?
McIntosh: Acho que deve dar aos jovens um sentimento de que eles podem mudar o mundo ao seu redor. Acabar com o “ego” é importante tanto para professores quanto para alunos, que precisam entender que, para produzir algo significativo, você nunca pode trabalhar sozinho e deve contar com a colaboração de outras pessoas. Todas as escolas precisam realizar conferências comandadas por seus próprios professores − e não com palestrantes escoceses [risos] −, para que eles comecem a se ver como alguém que está aprendendo tanto quanto os estudantes. Mas a prioridade número 1 é dar um cartão de biblioteca para um professor e fazê-lo estudar, porque muitas das respostas para a educação já estão dadas, em inglês ou português bem claro.

Veja abaixo o vídeo (em inglês) citado por McIntosh em que Ron Berger, da Expeditionary Schools, acompanha alunos da primeira série em um processo de feedback


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