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Como Inovar

Projeto conecta alunos a voluntários e leva novos temas à escola

Quero na Escola é um dos trabalhos finalistas do programa Social Good Brasil Lab e concorre a investimento semente

por Vinícius de Oliveira ilustração relógio 4 de novembro de 2015

Quem conversa com professores já ouviu que alunos muitas vezes se mostram  desinteressados em sala de aula. Mas isso de forma alguma quer dizer que eles perderam a vontade de aprender coisas novas. Uma amostra disso é a experiência do site Quero na Escola, que conecta temas pedidos por alunos a voluntários que podem contar histórias, ensinar atividades como fotografia e cerâmica ou discutir temas urgentes como machismo e racismo.

Criar o elo entre quem tem sede de aprender e outros que estão sempre prontos a ajudar foi um projeto criado pela jornalista Cinthia Rodrigues junto com outras três amigas, que também atuam na área. Conselheira na escola de seus filhos e autora do blog Escola Pública, Cinthia diz que alunos tem um monte de interesses, mas a escola quer que eles aprendam só o currículo, o que não necessariamente é o que eles desejam fazer naquele ponto da vida”.

Da ideia para o site

A ideia de mudar esse cenário começou com uma inscrição no Social Good Lab, laboratório de quatro meses que promove o uso de tecnologias e novas mídias para solução de problemas sociais. Segundo Cinthia, a ideia era pensar em uma solução para o professor, mas a proposta caiu por terra tão logo começou a fase de estudo para entender melhor onde o projeto deveria agir. “Nas entrevistas e no próprio exercício para chegar em qual era o problema para o professor, o que aparecia de principal era a falta de interesse do aluno”.

A certeza da necessidade de mudar o escopo veio após uma entrevista com uma aluna de 15 anos. “A entrevista dela foi crescente e de desinteressada ela começou a falar sobre o que gosta de fazer. Como a gente poderia saber que dentro daquela escola haveria alguém atrás de uma aula de escrita criativa? Nós quatro, jornalistas, poderíamos falar sobre isso.”

Durante um hackaton (maratona de programação), foi criado o site que nas primeiras sete semanas alcançou a marca de sete mil visualizações. Nele, um aluno faz um pedido de uma atividade que gostaria de ter dentro de sua escola. Do outro lado, um voluntário cadastrado diz o horário e quantas oficinas pode oferecer. Um mecanismo simples que tem surpreendido a própria criadora. “A gente não chegou nenhuma vez a ir atrás de um profissional específico. O Quero na Escola tem uma rede bem pequena, de 500 curtidas no Facebook, mas eles vão aparecendo pela minha rede pessoal ou de alguém que compartilha os posts”.

Experiência na prática

O Quero na Escola já intermediou a realização de cinco oficinas (artesanato, fotografia, cerâmica, contação de histórias e palestra sobre machismo e racismo), que podem atender o pedido e impactar um único aluno ou um período todo.

No caso Teo Ferreira de Oliveira, de 19 anos, estudante da escola  Escola Técnica Guaracy Silveira, em Pinheiros, na zona oeste da capital paulista, a experiência foi exclusiva. “Eu me interessei pelo projeto porque queria achar alguma coisa para fazer no tempo livre que tenho à tarde”. Após cadastrar um pedido de uma oficina sobre cerâmica, convidou amigos, mas estes acabaram não aparecendo no dia da oficina. “Acabou sendo só eu, mas aprendi muita coisa. Quando a gente pensa em cerâmica a gente pensa que são apenas os potes, mas não é só isso. Faz uns cinco anos que minha mãe me levou para uma oficina de cerâmica e eu achei superlegal. Eu queria aprender mais a parte teórica sobre os primeiros trabalhos, como foram evoluindo e o tipo de materiais que você pode usar”.

Na semana anterior ao Enem (Exame Nacional do Ensino Médio), cujo tema da redação envolveu violência conta a mulher, uma palestra realizada na escola Escola Estadual Joaquim Alvarez Cruz, em Parelheiros, na zona sul de São Paulo, teve a participação de todos os 170 alunos do período noturno. Quem comandou a atividade foi a jornalista Marcella Chartier, da curadoria de conhecimento para escolas Cobogó e uma das idealizadoras da ONG feminista Casa de Lua.

Dar ao aluno o poder de escolher o que ele quer aprender deveria ser uma coisa que a gente visse mais. Precisamos ouvir isso

“Dar ao aluno o poder de escolher o que ele quer aprender deveria ser uma coisa que a gente visse mais. Precisamos ouvir isso. O gênero é o nosso tema e logo que a Jéssica [aluna da escola] pediu uma palestra sobre machismo, nós aceitamos”. Segundo Marcella, na escola (assim como ocorreu em diversas outras de São Paulo), houve casos de meninas que sofriam bullying virtual por causa de um ranking chamado “top 10”. No episódio, fotos das estudantes circulavam em redes sociais acompanhadas de ofensas. “Houve exemplos na escola e a Jéssica conta que a irmã também passou por isso”.

Final do Social Good Lab

O projeto Quero na Escola é um dos seis finalistas do Social Good Lab, programa que começou há quatro meses com 400 inscritos de 14 estados do país para concorrer a investimento semente (feito na fase inicial do novo negócio). Após passarem por desafios e encontros presenciais onde tiveram mentoria e contato com metodologias apresentaram seus pitches no último dia 16 de outubro. Também foram classificados a plataforma de brincadeiras Massacuca; o negócio social para revitalizar praças chamado Praças; o aplicativo de saúde Letras de Médico; o kit de automação para inclusão social e digital de deficientes Handsfree; e a plataforma para fortalecer mães CIENTISTA QUE VIROU MÃE.

O seminário Social Good, que acontece em Florianópolis (SC), nos dias 12 e 13 de novembro, já está com ingressos esgotados. Ainda assim, é possível assistir às palestras e debates ao vivo pela internet. Basta preencher um formulário de inscrição.

Atualização em 13/12: O projeto Quero na Escola realiza, até o dia 25.12, campanha de financiamento coletivo no Catarse, para chegar a 100 escolas públicas. Para colaborar, clique em https://www.catarse.me/queronaescola


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autonomia, empreendedorismo, ensino fundamental, ensino médio

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